terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Lágrimas de crocodilo

As noticias sobre velhinhos sozinhos e abandonados à sua sorte – ou, no caso, azar – voltaram a estar na ordem do dia. Infelizmente aquilo que, por estes dias, as televisões não se tem cansado de mostrar não constitui novidade e, antes pelo contrário, não se trata de um fenómeno isolado nem, ainda menos, passageiro. O envelhecimento da população e outras circunstâncias que, quase sem se dar por elas, se foram acentuando na sociedade potenciam o surgimento de cada vez mais casos como os que têm sido relatados.
Soluções para situações desta natureza não existem. Nem será fácil encontrar uma forma de as minimizar. O que se dispensam são as lágrimas de crocodilo. Nomeadamente de jornalistas bem pagas ou de assistentes sociais com jeito para a representação. Não se espera que ninguém, principalmente esta gente, faça milagres. Agora o que gostava era que as profissionais da assistência social tivessem a honestidade de, perante as câmaras de televisão, ter a mesma atitude que exibem nos seus gabinetes a quem as procura para encontrar uma solução de acolhimento para os seus parentes mais velhos. Ou, por exemplo, quando nos hospitais procuram a todo o custo despachar, seja para onde for, os doentes com alta médica mas sem condições para ficar em casa. E, já agora, que jornalistas de lágrima prestes a brotar as interrogassem acerca disso.

domingo, 29 de janeiro de 2012

E a crise que não há maneira de chegar à praga dos animais de estimação

Esta é uma nova foto do alhal da crise, bastante mais pormenorizada do que a anteriormente publicada e obtida poucas semanas depois. É por isso visível, entre as viçosas plantas que entretanto evidenciam um razoável crescimento, a presença de um vistoso cagalhão. Não tendo eu nenhum cão, gato ou qualquer outro animal de estimação que produza dejectos destas dimensões a sua presença só pode significar que o meu quintal anda a servir de retrete à canzoada da vizinhança.
A julgar pela inusitada frequência com que estas coisas me aparecem por aqui, tudo leva a crer que algum canito das redondezas terá qualquer problema do trato intestinal e apenas consegue aliviar a tripa nesta circunscrita zona do bairro. Onde, por azar, se situa o meu pequeno quintal. A identificação do abusivo prevaricador está a revelar-se difícil. O que é uma pena. Teria todo o gosto em devolver o presente ao legítimo proprietário. Enquanto isso não acontece decidirei se, quando souber a quem pertence o cachorro, lho atiro para o quintal ou o introduzo na caixa do correio. Até lá vai direitinha para o meio da rua. Literalmente.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Jardinismo

Ao contrário de muitos comentadores, que nos últimos dias não se têm cansado de declarar o fim do “jardinismo”, tenho alguma dificuldade em acreditar que esta forma de governar esteja a chegar ao fim. Direi mesmo que o anúncio do seu termo é manifestamente exagerado. Isto porque apesar da aparente rendição forçada do Jardim da madeira, onde se calhar a coisa de ora em diante irá piar ligeiramente mais fino, há em quase todos nós um pequeno Alberto João.
Se, com o chamado plano de resgate da Madeira, o original e grande Alberto terá forçosamente de alterar um bocadinho - pelo menos é o que se espera – a sua forma de governar a ilha, por cá vai continuar tudo na mesma para os muitos jardinistas que dirigem municípios, juntas de freguesia, empresas públicas, fundações e demais instituições onde, de alguma forma, é gerido dinheiro público. O rigor – não digo austeridade porque sou contra e acho-a desnecessária – ainda não tem data marcada para aparecer nessa espécie de universos paralelos onde tudo corre como se vivêssemos num país onde o dinheiro brota das árvores. E, quando um dia aparecer, não me enganarei muito se servir apenas para despedir funcionários, mandriões inúteis e malcriados, quase todos principescamente bem pagos. Malta que, como se sabe, ganha muito e trabalha pouco.
Mesmo ao nível do cidadão comum o jardinismo continuará a imperar. Continuaremos a adorar quem tapa cada pedacinho de terreno com betão e a aplaudir quem esturra fortunas – nossas, só por acaso – em cantorias e festarolas badalhocas. Vamos continuar a desprezar quem pretende gastar os dinheiros públicos de forma racional, a odiar os que procuram gerir a coisa pública com transparência e a votar em Isaltinos, Fátinhas ou Valentins.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Estacionamento tuga


Em Estremoz poucos são os que se deslocam a pé. Excepto, claro, os que ao fim da tarde, depois de arrumar o carrinho na garagem, caminham freneticamente pelas ruas da cidade para, alegadamente, melhorar a saúde e, aspecto não menos importante, diminuir o tamanho do rabo. Os mesmos – a chamada brigada do croquete - que não faltam a nenhuma das inúmeras caminhadas promovidas pelo Município e juntas de freguesia cá do sitio. Mas aí compreende-se. Mudar o de trás para a frente dá uma fomeca do caraças e a certeza de encontrar um lauto banquete, ainda para mais à borla, no final da etapa causa um efeito deveras estimulante nos caminheiros de fim-de-semana.
Deve ser pela ausência de qualquer manjar oferecido pelos comerciantes da zona que, de segunda a sábado até ao final da manhã, nesta rua da cidade, o tuga estremocense – maioritariamente na versão feminina – estaciona o popó sem se importar com quem vem a seguir e não cabe na faixa de rodagem. Que trepe o passeio se quiser passar, porque deixar o tugamobil mesmo à porta do pronto-a-vestir ou da esteticista é algo de que elas não prescindem.
Compreendo a necessidade de andar trajada segundo os últimos ditames da moda. Aceito, também, que comprar uma roupita toda janota fará bem ao ego. Percebo que tirar o bigode, depilar o sovaco ou suprir pilosidades indesejáveis de locais mais recônditos, seja uma necessidade imperiosa. Mas, que diabo, não podiam deixar a merda do carro no rossio?! Porra, são apenas cento e cinquenta metros. Para além de poderem exibir a figura, não chateavam ninguém e não obrigavam os outros a cometer uma infracção às normas do trânsito. Sim, não sei se sabem, circular de automóvel pelo passeio dá direito a multa.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Eu também não mudo de ideias...


Não era necessário possuir invulgares dons adivinhatórios. Nem, sequer, ter grandes conhecimentos em matéria económica ou financeira. Bastava não ostentar um nível de parvoíce acima do tolerável. Era, portanto, bastante fácil perceber desde o inicio que cortes de salários e outros crimes contra quem trabalha não constituem solução para coisa nenhuma. Pelo contrário. Apenas contribuem para agravar ainda mais o triste estado do país.
Como se pode constatar, já lá vão uns anos que ando a escrever isso mesmo nas páginas deste blogue. Devem ser às centenas os comentários que deixei noutros espaços onde este assunto tem vindo a ser abordado. Nem têm conta os “gafanhotos” que já mandei a vociferar contra estas opções de quem nos tem governado e a contrariar os que acham que este é que é o caminho certo. Daí que não possa deixar de me congratular com a posição do FMI recentemente divulgada. Afinal, agora, a austeridade já é uma coisa má. E também perigosa, parece. Se é verdade que apenas os burros não mudam de ideias, esperemos que estes não tenham mudado tarde de mais. Já quanto a outros asnos não tenho grandes dúvidas que vão continuar a fazer jus à sua condição.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Clubes-palhaço


A constituição de empresas municipais tem servido quase sempre – embora não haja disso noticia, admito que possa haver um ou outro caso em que assim não seja – para contornar procedimentos, empregar clientelas e, até algum tempo atrás, para continuar a aumentar alegremente o endividamento das autarquias.
Estas entidade empresariais desenvolvem a sua actividade nos mais diversos sectores. Mesmo naqueles em que a autarquia, a iniciativa privada ou o movimento associativo, fariam igual ou melhor por muito menos. Veja-se, por exemplo, no desporto. Por mais estranho que possa parecer existem em Portugal empresas municipais com equipas federadas, nas mais diversas modalidades, a competir como se de um vulgar clube desportivo se tratasse. E não, não me estou a referir aos clubes que são financiados quase a cem por cento pelos governos regionais, câmaras municipais ou juntas de freguesia. São mesmo empresas municipais. Assim, rigorosa e descaradamente.
Podem argumentar que se trata de proporcionar aos jovens uma salutar prática desportiva. É, por norma, um bom argumento. Colhe simpatias, também. Mas, isto sou eu a especular, pode-se igualmente acrescentar que gera postos de trabalho. E todos sabemos da importância de empregar a malta amiga que acabou um curso ou que anda para aí aos caídos. Principalmente daquela que possui o cartão do partido ou que segurou o pau da bandeira por alturas das eleições. Haverá certamente, nestas – e nas outras- empresas municipais, lugar para todos. Desde o administrador ao roupeiro. Não esquecendo os treinadores e outros profissionais. Tarefas que nos clubes são, na maior parte das circunstâncias, desempenhadas gratuitamente por pessoas que dão algum do seu tempo ao clube da terra.
Este tipo de “organizações” causam-me um elevado nível de alergia. E nem é por recentemente ter aturado uma claque de um destes “clubes” palhaços, devidamente uniformizada com t-shirts da empresa, que acho profundamente erradas estas concepções de desporto e de iniciativa empresarial local. Ainda que os progenitores que a constituíam, nomeadamente as mamãs, berrassem mais do que três claques femininas do Nacional da Madeira. Coisa que, convenhamos é muito desagradável.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Totós


A escumalha que se dedica a encher as cidades de gatafunhos não passa de uma cambada de totós. Tal como o que não encontrou melhor local do que este para largar um pouco de tinta. Mas, ao contrário de outros, reconhece a sua condição de totó. Javardice à parte, fica-lhe bem a auto-crítica.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Alguém que interne esta gente!


Diz-se com frequência que se isto fosse um país a sério a maioria dos políticos estariam presos. Não é que discorde. Nem, sequer, que não considere a parte de lá das grades como um sitio jeitoso para manter um número significativo daqueles que nos conduziram a este triste estado. Mas, parece-me também, em muitas circunstâncias estaremos antes na presença de loucos. Verdadeiros indigentes mentais. O que não os torna menos perigosos.
Três deles saltaram para a ribalta durante a semana de passou com declarações ao melhor nível de um doente mental. Primeiro foi um obscuro deputado social-democrata, exultante com o recente acordo no âmbito da concertação social. O discurso do homem foi de tal forma nojento que até as reacções das deputadas Ana Drago e Rita Rato pareceram de alguém dotado de uma sapiência intocável. Veio depois Daniel Bessa e a sua convicção de que cada português que se for embora resolve, de uma assentada, dois problemas. O seu e o dos que cá ficam. Partindo do principio que quem emigra é porque está desempregado ou ganha mal, se esta besta desaparecesse resolveria certamente muitos problemas. Por fim Cavaco Silva. O quase indigente. Diz que tem uma reforma de miséria. Pois. É capaz. Isso ou, como se diz por cá de alguém que não junta o gado todo, não conhece bem o dinheiro.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Tempos modernos"


A culpa do pouco crescimento da economia, do elevado desemprego, da baixa produtividade e, em suma, do nosso atraso em relação aos outros países europeus era a rigidez das leis laborais. Era. De ora em diante vai deixar de ser. O futuro será radioso. O desenvolvimento, o progresso e o emprego para quase todos não tardarão em chegar. Tudo isso porque vai ser ainda mais fácil e barato despedir, trabalhar-se-à muito mais e ganhar-se-à muito menos. Só vantagens competitivas, portanto. Lamentavelmente ficou apenas por consagrar a possibilidade legal do patrão poder chicotear os empregados menos produtivos ou que ousem olhá-lo de soslaio. Nada que, numa próxima revisão do código do trabalho, a UGT não se disponha a aceitar.
As perspectivas são de tal forma entusiasmantes que o primeiro-ministro não hesitou em considerar que vivemos um momento histórico. Até pode ser. Embora desconfie que pelas piores razões. É que, tal como dizia hoje o proprietário de um comercio qualquer, se não houver clientes não há negócio. Não sei é se esta gente estará a perceber que aqueles que vão trabalhar mais tempo, receber um ordenado menor e, muitos, ser despedidos é que são os tais clientes que fazem mover qualquer negócio.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O cliente tem sempre razão. Mesmo quando parte a loja.


Cidadãos indignados terão hoje partido a pontapé uma divisória em vidro numa “Loja do Cidadão”. Estaria mesmo a pedi-las, suponho. Tal como também acredito que bastou escaqueirar o objecto em causa para que o motivo que provocou tão elevado grau de indignação ter ficado de imediato resolvido. Porque, como toda a gente sabe, para resolver certos assuntos nada como partir coisas. Ou, no mínimo, elevar em muitos decibéis o nível da berraria.
Ao que parece, na origem do desacato terá estado o desagrado de alguns beneficiários da segurança social que terão sido chamados a repor comparticipações a que não teriam direito. O que, naturalmente, provocou a ira dos lesados e motivou a sua colérica reacção. E nada melhor e adequado para resolver a coisa do que começar por ofender os funcionários e partir a loja.
Normal nos dias que correm, diga-se. Hoje quem se dirige a uma repartição pública, nomeadamente quando o assunto a tratar envolve algo que o utente entende não o beneficiar, fá-lo quase sempre de forma deselegante, agressiva e ostensivamente provocadora. Pena que toda essa coragem e ousadia seja dirigida, por norma, aos alvos errados. Seria, com certeza, muito mais apropriado que o fizessem quando, por exemplo nas campanhas eleitorais, os políticos vão visitar os locais onde vivem. Mas não. Aí portam-se que nem santinhos, talvez na esperança de receber uma torradeira, um emprego ou outra qualquer benesse. E não, não estou a pensar apenas em gente de poucos recursos, baixa escolaridade ou de certas franjas sociais. Bestas engravatadas ou mulas de salto alto é coisa que não falta.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Paradigmas há muitos...


Não seriam necessários grandes estudos, elaborados ou não por reputados especialistas de conceituadas instituições, para sabermos que a economia paralela representa um valor assustador em relação ao PIB do país. Nem, tão pouco, que constitui uma das principais causas de muitos desequilíbrios da nossa sociedade. O seu combate devia constituir um desígnio nacional e uma das principais apostas de qualquer governo que tivesse tempo - ou bom senso, talvez – para ver mais longe que o horizonte eleitoral.
Podia, também, servir de pretexto para a actuação de um desses auto intitulados movimentos de intervenção cívica que, de vez em quando, surgem por aí a promover causas aparentemente nobres. Quem sabe a capacidade de mobilização dessa malta não produzia resultados surpreendentes capazes de equilibrar o défice ou, menos provável, de levar o governo a ser mais simpático com aqueles que não podem fugir às garras da máquina tributária.
No actual cenário a vida parece sorrir aos que vivem à margem da realidade fiscal. Poucos sentirão qualquer espécie de apelo, patriótico ou outro, para depois do canalizador, o electricista ou o limpa-chaminés terminarem um serviço pelo qual cobraram cem euros, ainda desembolsar mais vinte e três. A somar, muito provavelmente, a outras centenas ou milhares que o governo já lhes sacou no ordenado e nas dezenas de impostos e taxas que pagamos a toda a hora. Pelo menos enquanto não mudar o paradigma. Que é coisa que, por estes dias, fica sempre bem dizer. E escrever.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Comprar só quando se pode pagar?! Que ideia tão parva...


Nestas situações de aperto como a que actualmente se vive nem tudo é mau. Existem também alguns aspectos positivos. Constatarmos que afinal, contrariamente aquilo que pensávamos, não somos ricos e que teremos que gerir muito melhor os recursos de que dispomos será seguramente um deles. Ainda que, em muitas circunstâncias, essa constatação tenha de nos ser imposta pela via legislativa.
Até agora o Estado e demais entidades públicas têm comprado tudo o que muito bem lhes apetece. Mesmo que não exista dinheiro para pagar nem a sua existência seja previsível para os meses – quiçá anos – mais próximos. Nem, às vezes, para os mais distantes. Por mais irresponsável que pareça a ideia, o governo vai pôr um ponto final neste peculiar modelo de gestão. Estará, ao que se sabe, para breve a publicação de legislação que limitará novas compras dos serviços públicos à possibilidade de as pagarem no prazo máximo de noventa dias.
Não faltarão sorrisos trocistas perante tão patética ideia. Teorias impraticáveis de gente que não tira o cú dos gabinetes, afiançarão uns quantos. Impossível. Se for assim “isto” pára tudo, garantirão outros. A mim o que me surpreende é que apenas agora, quando a desgraça está consumada, é que alguém se tenha lembrado de impor ao Estado e restantes administrações uma regra tão básica. Comprar apenas quando há dinheiro ou, mesmo não havendo no momento, haja a garantia da sua existência num prazo considerado aceitável.
Governar ou gerir uma instituição sujeita a pressões das mais diversas clientelas – em sentido lato, porque nem todas têm interesses ilegítimos – com as novas regras que se avizinham não será fácil. Mas também ninguém disse que a função governativa deve ser algo que se faz com relativa facilidade. Isso é o que tem acontecido até aqui, com os resultados que estão à vista. Aliás se fosse fácil qualquer badameco lá podia estar.

Blogue do ano 2011


O Aventar, um dos melhores blogues portugueses, está a promover uma votação destinada a escolher o “Blogue do ano de 2011”. Entre os muitos candidatos, na categoria “Actualidade politica - individuais”, está o Kruzes Kanhoto. A votação decorre entre 15 e 21 de Janeiro e a mesa de voto está instalada em aventar.eu/blogs-do-ano-2011/. Todos os que se interessam por estas coisas podem ir até lá – e os não se interessam também - e votar neste blogue. Ou então num realmente bom.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Pontes da discórdia


Ciclicamente vem à baila a malfadada história das pontes. As quais, pelo menos até agora e ao que me tenho apercebido, constituíam um exclusivo dos funcionários públicos e representavam um intolerável privilégio dessa classe de malandros que não merecem o ar que respiram nem a água que bebem. Principalmente agora que o precioso liquido está cada vez mais precioso. Há semelhança, diga-se, de quase todas as matérias que se apresentam naquele estado.
Vaí daí que não percebo a indignação causada pela intenção do patronato que, segundo a manchete do “Jornal de Negócios”, pretenderá encerrar as empresas sempre que ocorra uma ponte e descontar o dia nas férias dos trabalhadores. Admito não estar a ver bem a coisa. Concedo que a minha capacidade de análise destas matérias não seja a melhor. Dou, até, de barato que esteja a fazer uma confusão qualquer. Mas esta gente queixa-se do quê?! Alguém que me corrija se estiver enganado, mas não é por causa dos funcionários públicos – essa cambada – poderem fazer exactamente o mesmo que é agora proposto para os privados que tantas criticas lhes têm sido dirigidas?! Não percebo.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Mais de 70 anos? Afaste-se de um microfone!


Era para escrever qualquer coisa acerca do desplante daqueles anti-patriotas que, só para chatear e dar cabo das contas ao Gaspar, insistem em estar doentes. Tinha intenção de zurzir – malhar, vá – naqueles desenvergonhados que se atrevem a ter doenças cujo tratamento saí caro ao serviço nacional de saúde e que o país não tem condições de suportar. Gentinha sem dinheiro que, apenas porque existe, pensa que tem direito a adoecer e a ser tratada. Era, pois, para discorrer sobre tudo isso. Mas não vou perder o meu tempo. Manuela Ferreira Leite antecipou-se e já disse tudo o que havia a dizer acerca deste assunto. De forma brilhante e esclarecedora, faço-lhe a justiça de reconhecer.
Sei de um caso, até porque me é relativamente próximo, onde o descaramento, oportunismo e aproveitamento inqualificável de recursos do SNS atinge um nível absolutamente revoltante. Coisa para, se convenientemente divulgada nas redes sociais, causar uma onda de revolta difícil de conter. Nomeadamente entre bestas seres como a velha carcaça senhora que ontem opinou na televisão. Mas, escrevia eu, conheço uma pessoa com noventa e nove anos que há mais de vinte faz hemodiálise. À borla. Grátis. Á pala. Sem pagar um chavo. Nadinha. O que, imagino, deve ir já numa conta calada. De tal forma elevada que o melhor é nem pensar em quantos milhares de euros a doença da pessoa em questão já custou ao país. Para facilitar as contas pensemos antes em quantos meses de reforma da Manuela Ferreira Leite é que isso dá.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Coerências


Dois factos contribuíram hoje para me baralhar as ideias. Ou para me esclarecer. Não sei ao certo. Nem, sequer, ao incerto. O primeiro dá conta de um relatório do Banco de Portugal onde se afirma que as medidas de austeridade e a contenção salarial vão implicar uma quebra recorde no consumo e conduzir-nos a uma recessão sem precedentes. Fiquei, no entanto, com dúvidas se, para este gente, isso seria ou não uma coisa má. Pelos vistos não é. Se para qualquer pessoa com juízo mediano este seria uma caminho a evitar, para esta malta é por aqui que se deve continuar. De tal forma que até admitem a necessidade de mais austeridade. O que - não sei, digo eu – é capaz de ainda agravar mais a tal recessão sem precedentes.
O segundo facto que contribuiu para me aturdir, foi a justificação dada por Eduardo Catroga quando inquirido se não achava o seu novo ordenado – uns míseros 45 mil euros por mês a acumular com uma pensão de quase dez mil – um bocadito a atirar para o exagerado. Que não, terá dito o homem. Porque “quanto mais ganhar maior é a receita do Estado com o pagamento dos meus impostos e isso tem um efeito retributivo.” O que é manifestamente verdade, Embora seja mais verdadeiro para uns do que para outros. Principalmente quando esta tirada de génio não se aplica aqueles que são vitimas da redução salarial decretada em consequência de acordos em que o figurão em causa terá estado, directa ou indirectamente, envolvido.
Perante declarações e relatórios deste quilate parece legitimo questionar-me, citando um famoso filosofo brasileiro, se o burro serei eu. Quero acreditar que não, mas lá que ando há anos a levar coices destas bestas disso é que não tenho dúvidas.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Crise de pluviosidade


Esta persistente ausência de pluviosidade começa a preocupar-me. E a aborrecer, também. Era só o que faltava, logo quando me dediquei à agricultura, ser confrontado com uma seca. Estas ervilhas – hoje já ligeiramente mais desenvolvidas do que na altura em que a foto foi obtida – começam a dar os primeiros indícios de que já bebiam qualquer coisinha. O que pode vir a constituir um problema. Ou uma chatice. É que, para regar, teria de recorrer à agua da rede e isso era coisa para fazer disparar as taxas – para cima de muitas – que todos os meses constam de uma factura que me aparece na caixa do correio. Ironicamente chamam-lhe conta da água, ou lá o que é.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Vão morrer longe!


Emigrem. Vão-se embora. Ou morram. Melhor ainda, vão morrer longe. Essa parece ser a única proposta que os javardolas que nos governam tem para apresentar aos portugueses. Comigo não terão sorte nenhuma. Pelo menos na parte de emigrar não lhes farei a vontade. E na outra só contrariado. Deve ser falta de patriotismo.
Desconfio que eles se estão a esforçar muito para levarem a deles avante. Provavelmente vão conseguir que muitos de nós morram e que os jovens se vão embora. O pior – ou melhor, depende do ponto de vista – é que se cumprirem o seu desígnio não fica cá ninguém para os sustentar e lá terão de ir para Paris, ou para outro sitio qualquer, estudar coisas.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Devem ser uns optimistas, eles...


Começo a interrogar-me acerca das previsões, mais ou menos catastrofistas, que por aqui – e também por outros lados - tenho andado a espalhar. Nomeadamente quanto às consequências que a quebra brutal do poder de compra dos portugueses, em particular dos funcionários públicos, representaria em termos de queda no consumo. Admito que, provavelmente, estarei errado. E, se assim for, ainda bem.
Indiferentes aos aumentos de preços, subidas de impostos, descidas de salários e incertezas quanto ao futuro, continuamos a consumir como se não houvesse amanhã. Ou, noutra perspectiva, a dinamizar a economia. O que, reconheço, não é necessariamente mau. Mas, digo eu, se calhar era conveniente não abusar.
Apesar de todos os indicadores mostrarem uma acentuada diminuição dos níveis de consumo, por cá – pelo menos é essa a minha sensação – não se nota nada. Nos parques de estacionamento das quatro superfícies comerciais, nomeadamente ao fim-de-semana, é quase impossível arranjar lugar para estacionar. Nos cafés e pastelarias, em certas horas, não se arranja mesa para beberricar um cafezito porque estão repletos de malta a devorar os deliciosos bolos e doces cá da terra. Moro num bairro que, a pé, não dista mais do que dez minutos do centro da cidade mas, para além de mim e da patroa, são pouquíssimos os moradores que não fazem sistematicamente este trajecto de automóvel.
É por estas e por outras que desconfio que está a faltar lucidez na análise da alegada crise. Da minha parte, quase de certeza, por pintar um cenário demasiado negro. Ou do restante pessoal, o que será menos provável, que achará não ser o futuro tão mau quanto o pintam. O pessimista serei, portanto, eu. O pior é que há quem insista em definir o pessimista como um optimista informado.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Estratégias


O governo produziu um documento, actualmente em discussão pública e portanto aberto a sugestões de todos os cidadãos, a que chamou Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas. O que, desde logo, é sugestivo. Ter uma estratégia, seja lá para o que for é sempre bom e quando se trata de uma abordagem à comunidade cigana – o que implica mais do que um – é melhor ainda.
Ao longo das sessenta e oito páginas que compõem o dito documento estratégico é definido um conjunto de boas intenções – e também ideias meritórias, sejamos simpáticos - visando que nos tornemos todos amigos. Ou, pelo menos, que não nos andemos por aí a discriminar uns aos outros. A estratégia é tão boa e completa que reserva mesmo umas quantas medidas para as minorias existentes dentro desta minoria e, por isso, nem os ciganos paneleiros foram esquecidos. Também serão integrados estrategicamente, portanto.
Parte fundamental desta estratégia é, como não podia deixar de ser, a educação. Daí que nela se preveja mandar os adultos desta comunidade para as Novas Oportunidades e as crianças para a escola. Nomeadamente – é o que consta do documento - promovendo turmas mistas de ciganos e não ciganos. Parece, mais uma vez uma excelente estratégia. Pelo menos a julgar pelo sucesso da escola de uma certa freguesia que, de um ano para o outro, passou do risco de fechar para mais de cinquenta alunos. Todos não ciganos idos, na sua maioria, de um estabelecimento de ensino frequentado por um número bastante elevado de membros da comunidade alvo desta estratégia. Stratágie, em francês.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Com um pingo de inveja - e alguma amargura - por não poder fazer o mesmo.


Não partilho da indignação que por aí vai contra a mudança para a Holanda do local onde a empresa proprietária do Pingo Doce passará a pagar impostos. Tenho, até, alguma dificuldade em perceber a causa de tanta irritabilidade. Afinal todos, ou quase, fazemos o mesmo. Cada um à sua escala, claro. O que significa que, ao contrário daquilo que insistem em garantir, o tamanho importa.
Repare-se, por exemplo, nas romarias a Espanha para atestar o deposito do carrinho. Se fossemos tão patriotas como exigimos que seja o merceeiro em causa, tratávamos de abastecer a viatura cá pela terrinha e, consequentemente, pagar bastante mais imposto ao ministro Gaspar. Argumentar-se-à que estas actividades transfronteiriças são absolutamente irrelevantes e não terão impacto digno de registo na cobrança fiscal. Pode ser. Se calhar não passam de uma minúscula gota. Mas fica a intenção. E, quase sempre o lamento que o depósito não tenha uma capacidade maior.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Uma questão de fé.


Provavelmente fruto da época, de repente, os portugueses ficaram mais optimistas. Pelo menos uma parte deles. Parece que alguém os convenceu - ou se convenceram eles sem necessidade de intervenção externa – que, afinal, “isto não vai ser assim tão mau como para aí andam a apregoar” e “lá mais para o fim do ano as coisas começam a melhorar”. Já perdi a conta às vezes que nos últimos dias ouvi estas e outras frases onde se pretendia exprimir esta ideia. A menos que estas pessoas acreditem que vão ganhar o euro milhões, estejam à espera de receber uma herança avultada ou planeiem assaltar um banco, não estou a ver no que fundamentam o seu optimismo. Será, talvez, uma questão de fé.
Por mim não vou fazer mais previsões quanto ao que penso vai suceder nos próximos tempos. E não não é por medo de errar. Antes pelo contrário. Tenho é um certo receio de acertar. O que, diga-se, nem constituiria nem grande proeza. Basta desconfiar da existência do pai natal, ou ter umas leves suspeitas que o coelhinho da Páscoa nunca existiu, para ter uma razoável certeza quanto ao nosso futuro próximo. A ver vamos se os milagres existem.

domingo, 1 de janeiro de 2012

A queima


Entre ontem e hoje autarcas e governantes regionais queimaram – literalmente – alguns milhões de euros. Vá lá saber-se porquê, há quem ache tratar-se de um bom negócio rebentar fogo de artificio em determinadas circunstâncias. Para as pirotécnicas sê-lo-á, de certeza absoluta. Para os cofres públicos não me parece. Até porque se o fosse, estas actividades já estariam privatizadas há muito. E se até agora não o foram é porque à iniciativa privada estoirar milhões em foguetório não se afigura como algo lucrativo ou que traga qualquer tipo de retorno. Coisa que não interessa nada quando o dinheiro a incendiar, por ser de todos nós, não tem dono.
Poucas horas antes também eu me dediquei a queimar coisas. Sem custos. Para além dos fósforos que atearam o fogo. Claro que o fogaréu não atingiu as proporções de outros eventos. Foi o que se pode arranjar. Serviu apenas para queimar a porcaria que sobrou das limpezas da courela da família. Exactamente o contrário daqueles que iluminaram os céus de algumas cidades. Esses apenas nos trazem mais porcaria. É só esperar pela factura.