domingo, 30 de dezembro de 2012

Bacoradas jornalisticas


Um individuo lá por ser jornalista não precisa ser burro. Embora, por aquilo que vou lendo, parece ser cada vez mais difícil encontrar um que não o seja. Vem isto a propósito de bacoradas – como se diz por cá – que frequentemente ouço ou vejo escritas na comunicação social. É que há coisas que, se escritas por um quase iletrado como eu num blogue insignificante e sem audiência, não têm importância nenhuma, mas quando publicadas pelo chamado jornalismo de referência e alegadamente de qualidade se tornam verdades absolutas.
Uma conceituada revista, de periodicidade semanal, escrevia numa das suas últimas edições, num trabalho em que se procurava caracterizar a função pública em Portugal comparando-a com os trabalhadores da iniciativa privada, exactamente isto: “...No extremo oposto ao dos diplomatas, estão os auxiliares, com 747,9 euros, o salário mais baixo da Função Pública. Em Portugal, estima-se que haja 605 mil trabalhadores a ganhar o salário mínimo nacional. É outra diferença "descomunal", como diria Vítor Gaspar”.
Trata-se, como também diria o ministro das finanças, de uma “enorme” diferença entre o que muitíssimos funcionários públicos realmente auferem e o que o autor do artigo menciona. É que, ao contrário do afirmado, são muitíssimos os trabalhadores da função publica que ganham abaixo daquele valor. Tal como também não faltam os que auferem o salário mínimo nacional. Com duas agravantes. Não recebem nada por debaixo da mesa e descontam mais que os colegas do sector privado.
Mas pedir a um jornalista que saiba estas coisas é capaz de ser exigir demasiado. Afinal, como toda a gente sabe, um jornalista é um gajo especializado em saber nada acerca de tudo.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Madres desnudas

Ainda não há muito tempo - talvez no inicio do actual ano lectivo – quando se colocou a questão de em determinados municípios não existirem fundos disponíveis para assegurar o transporte das crianças para as escolas, uma estudiosa destas matérias sugeriu que, em alternativa, fosse oferecida uma bicicleta a cada aluno. Com a inegável vantagem, argumentou, que assim iam fazendo exercício pelo caminho. A coisa não provocou grande alarido e a declaração, perdida na espuma dos dias, ficou por ali sem que ninguém lhe tivesse prestado grande atenção. Mas, convenhamos, não estava mal pensado. Os recursos são escassos e essa modernice de andar a levar meninos de pópó até à escola devia ser repensada. Pelo menos na parte em que é tudo de graça.
Em Espanha, que por sinal até nem precisou de chamar nenhuma troika, os cortes neste sector são já uma realidade. Daí que um grupo de mães se tenha despido de preconceitos - e de alguma roupa, também - para posaram semi-desnudadas com o objectivo de angariar as receitas que permitam as seus filhos continuar a beneficiar de transporte. Parece que em causa estarão cerca de quarenta e três mil euros, que as entidades responsáveis lá do sitio dizem não ter.
É pouco dignificante, argumentarão alguns. Pois será. Mas não é ilegal. Completamente fora da lei e a incorrer em responsabilidade criminal estarão sim muitos autarcas e dirigentes municipais para garantir que os nossos meninos continuem a ir à escolinha transportados à custa do erário público. São formas diferentes de ver a crise. É a vida. Ou o contrário, sei lá. 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Dividir para reinar


Colocar os portugueses uns contra os outros foi a estratégia da governação Sócrates. Nisto, como noutras coisas, o actual governo manteve o rumo. Aprimorou-o, sejamos justos. De tal forma que, a levar a sua avante, vai pela primeira vez provocar brechas insanáveis entre os autarcas nacionais. Classe que até agora, salvo um outro arrufo mais exacerbado neste ou naquele congresso, se tem mantido unida em torno do direito inalienável de governar sem preocupações quanto a essa cena, relativamente aborrecida, que envolve fazer a vida apenas a contar com o que se pode pagar num período de tempo que não cause chatices ao credor. Ou ao contribuinte.
A proposta de lei das finanças locais ontem aprovada em conselho de ministros, para além de evidentemente vir a ser considerada inconstitucional, é um magnifico exemplo da arte de bem colocar em confronto interesses contraditórios. A ideia de mutualizar a divida autárquica, prevista no articulado da lei, é simplesmente genial. Vai obrigar os municípios bem geridos e sem dividas a contribuir para pagar os calotes provocados por gestões desastrosas de outros. Com tudo o que isso implicará. E que facilmente se adivinha...
Por outro lado será difícil a um larguíssimo conjunto de sectores da sociedade portuguesa – desde políticos, tanto da oposição como da situação, a comentadores e outros fazedores de opinião – discordar deste conceito de mutualização da divida em que os mais ricos apoiam os mais pobres. É assim uma espécie de solidariedade tão do agrado de uns quantos. Algo que me recorda o tempo – um dias destes, ainda - em que quase toda a gente andava por aí a falar de eurobonds como solução milagrosa para a crise e que exigia que a Alemanha fosse solidária com os países em dificuldade. Pagasse parte da divida, portanto.
Eu, que nunca partilhei dessas ideias parvas, manifesto desde já o meu desagrado com essa jogada do governo. Vá lá saber-se porquê mas aborrecem-me, enquanto munícipe e cidadão, que o IMI que vou pagar nos anos mais próximos sirva para saldar as dividas de municípios mega endividados. Vizinhos ou não.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Estacionamento tuga


Bem pode o Presidente Ernesto alargar o passeio, plantar marcos revestidos a fita reflectora e colocar sinais de trânsito. Não vale a pena. Isto de comprar uns trapinhos, arranjar as unhas ou eliminar as pilosidades mais indesejadas, requer o estacionamento nas cercanias do estabelecimento onde se trata destas coisas. E as cercanias são ali. Precisamente ali. Experimentar umas calças mais apertadas, borrar as nhacas de uma cor extravagante ou fazer uma depilação artística – será que fazem a águia Vitória? -  presumo que seja tarefa para deixar qualquer condutora esfalfada e incapaz de dar uma. Passada a pé.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Os alhos da crise


O adagiário agrícola, nos que aos alhos diz respeito, diz-nos que no “Natal bico de pardal”. Isto quererá certamente expressar a ideia que, por esta altura do ano, as plantas teriam acabado de surgir à superfície. Dada as reduzidas dimensões do bico das pequenas aves, as expectativas quanto ao desenvolvimento das plantas não seriam, portanto, muito elevadas.
O alhal da crise foi, este ano, semeado na propriedade. E se a anterior colheita permitiu a auto-suficiência durante seis meses, agora, a julgar pelo magnifico aspecto que apresentam – muito para além do bico de um passarito minorca – é provável que a safra seja bastante mais proveitosa. Para já a coisa promete.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Saqueadores


Mais de cento e vinte mil serão os milhões da divida portuguesa resultante da componente nacional que foi necessário assegurar para garantir os financiamentos comunitários. Um número absolutamente esmagador e que devia fazer corar de vergonha uma imensidão de gente. Desde os que, nos últimos trinta anos, nos têm andado a prometer “sacar” - “ir buscar” ou “aproveitar” são igualmente expressões recorrentes - os milhões da Europa para fazer obras, as inúteis e as que passávamos bem sem elas, até aos seus frenéticos e inconscientes eleitores ou apoiantes. Obrigado a todos por terem conduzido o país e os portugueses à miséria. 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Ruas da minha cidade...


Rossio Marquês de Pombal. Mercado tradicional. Um sábado destes.
Já por aqui devo ter escrito que não sou apreciador de coelho. Principalmente desde que – a última vez que comi – me soube a gato. Deve ser por isso que sinto uma enorme compreensão por aqueles que, vendo esta foto, vão achar que devia ser outro coelho a estar na gaiola. Não admira. “Venderam-lhes” gato por lebre.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Ruas da minha cidade...



Largo da República, frente à espingardaria. Mas podia ser noutro sitio qualquer por onde tenha passado um cidadão javardola.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Maravilhas do estado social


Quando em Portugal o estado social ainda dava os primeiros passos, a Alemanha e os países nórdicos costumavam ser apontados como exemplo daquilo que por cá se ambicionava - um dia, de preferência não muito distante – poder igualmente usufruir. Lá, dizia-se, um desempregado gozaria de uma protecção social de tal ordem que lhe permitiria, se assim quisesse, passar férias no Algarve. Coisa que então, por mais estranho que agora possa parecer, não estava ao alcance do português médio.
Seria, provavelmente, verdade. Até porque, uns anos mais tarde, nós fizemos melhor. Construímos um estado social que nos permite extravagâncias capazes de envergonhar qualquer boche sem emprego que se lembre de rumar a terras algarvias. Por cá não faltam desempregados, reformados que pouco ou nada contribuíram para o sistema de pensões e beneficiários do RSI a fazer uma vida de meter inveja ao nórdico dos anos setenta. Férias, empregada doméstica, apartamentos em zonas balneares ou viaturas topo de gama são apenas alguns dos pequenos luxos que o estado social lhes proporciona.
Podem, admito, não ser aos milhões aqueles a quem o país proporciona este magnifico estilo de vida. Constituem, naturalmente, uma parcela que nem de longe representa o perfil tisico do desempregado, reformado ou beneficiário do RSI. São, contudo, mais do que podemos suportar. E o pior – também o mais irritante – é que consideram que devem ficar imunes à crise e às medidas que – bem ou mal, não vem ao caso – têm vindo a ser implementadas e que afectam os restantes cidadãos. Devem ser direitos adquiridos. Ou coisa parecida.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Estacionamento tuga



As rústicas tabuletas pintadas à mão não são nenhuns sinais de transito que tenham, necessariamente, de ser respeitados. Mas, caramba, o pintor improvisado até foi educado. Pediu por favor. Custava muito fazer-lhe a vontade? Pelos vistos sim. É que isto de andar a pé está reservado para o fim do dia. Ou para a passadeira do ginásio.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Piadistas



Presumo que o meu sentido de humor esteja a atravessar uma fase critica. Só isso pode justificar que não consiga sequer esboçar um sorriso, por mais amarelo que seja, perante piadolas que antes me fariam largar sonoras gargalhadas. Agora, mas admito que o problema seja meu, muito do mais refinado humor que por aí se vai tentando fazer tem o condão de quase me levar às lágrimas.
Vejam-se os casos documentados pelas imagens que acompanham este post. Duas personagens – humoristas, quero acreditar - de quem nunca tinha ouvido falar – mais uma vez admito a minha falta de cultura geral porque, concedo, as criaturas devem ser gente importante – saem-se com declarações que em tempos me fariam rebolar de riso. Uma a sugerir a inconstitucionalidade da ADSE porque, na sua certamente douta opinião, não podem ser os portugueses em geral a financiar a saúde dos funcionários públicos. Outra a garantir que o Serviço Nacional de Saúde lhe financiou uma generosa ampliação das mamocas.
Relativamente ao piadista hospitalar podia recordar que todos financiamos tudo. Até operações de embelezamento – enfim, depende do gosto – das glândulas mamárias. Se, desse ponto de vista, quisermos questionar essa coisa da constitucionalidade não vão faltar áreas de actividade do Estado onde tal pode ser suscitado. Podia recordar, assim de repente, umas quantas. A começar, por exemplo, pela frota automóvel das administrações dos hospitais. Ou pela principesca remuneração que auferem. E que, se calhar, os contribuintes também não deviam ter de suportar.
Já quanto à tirada da menina do peito avantajado nada me ocorre. Sinto-me, digamos, esmagado perante as virtudes evidenciadas. Pelo Estado social, claro.


sábado, 15 de dezembro de 2012

Gatos


Gosto de gatos. Nascidos por lá ou adoptados, em casa dos meus pais sempre houve gatos. Pelo menos desde que me lembro. Recordo-me particularmente de um que nasceu pela mesma altura em que o Rui Jordão começava a dar os primeiros pontapés na bola na equipa principal do Benfica. O bichano, sem um único pêlo que não fosse preto, foi, como não podia deixar de ser, baptizado de Jordão. Infelizmente durou pouco. Tanto a permanência do excelente ponta de lança na Luz, como a vida do pobre felino. Morreu, para meu grande desgosto, pouco tempo depois do jogador ter assinado pelo Sporting. Sempre desconfiei que não pode ter sido coincidência. Pelo sim pelo não daí para frente, lá em casa, todos os cães se passaram a chamar Benfica e todos os gatos Glorioso.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Um conselho aos invejosos: Comprem um extintor.


A possibilidade do governo extinguir a ADSE, sistema de saúde dos funcionários públicos, provocou uma onda de entusiasmo nas caixas de comentários dos sites e blogues onde o assunto foi noticia ou tema de debate. Vindos, naturalmente, dos que não trabalham para o Estado e, por consequência, não têm acesso ao sistema que agora, ao que parece, terá os dias contados.
Não tenho paciência para este tipo de gente. Quem fica feliz pela má sorte dos outros não merece o meu tempo, e, por isso, não vou gastar os dedos, nem as teclas do computador, a insistir que a saúde dos actuais beneficiários da ADSE terá um custo muito superior para o Estado quando estes passarem a utilizar o Serviço Nacional de Saúde. Para além de tudo o resto que esta opção, a ocorrer, irá acarretar. Desde colocar em causa muitos empregos em clínicas privadas, até ao regresso a um passado não muito distante em que eram raros os profissionais de saúde que passavam recibo.
Recordo a satisfação com que os mesmos entusiastas de agora receberam a noticia do fim dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos. O que escrevi acerca do assunto pode ser lido escolhendo, na barra lateral deste blogue, as “Kruzadas antigas”. Infelizmente, pouco ou nada tem sido diferente do que eram as minhas expectativas. Daí que me pareça não haver grandes motivos para tanto entusiasmo entre os invejosos do costume. Ide pondo as barbas de molho. Ou arranjando um extintor.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Na volta a culpa ainda há-de ser minha...


Pretender atirar para a crise na zona euro a responsabilidade pela nossa actual situação só pode ser uma brincadeira. Ou, então, pretender branquear a actuação dos políticos que nos têm dirigido. Quiçá perdoar o comportamento tresloucadamente consumista adoptado pelos portugueses. O que se passa na Europa terá, naturalmente, uma influência directa e significativa na nossa vida enquanto nação. Mas, nem de longe, evita que a maior parte da culpa na tragédia que por cá se vive seja nossa.
Tudo o que nos conduziu a “isto” foi uma livre escolha dos portugueses. Dos que escolhemos para governar e dos outros. De nós. Podemos, é verdade, sempre recordar o BPN. De onde – lá está - alguns tugas mais espertos sacaram largos milhões de euros com esquemas mais ou menos mafiosos. Mas convém também não esquecer muitíssimos outros tugas, com recursos a esquemas igualmente manhosos, foram a outros bancos buscar dinheiro para a casa de dimensão inversamente proporcional ao tamanho da família que pensavam constituir, a mobília do melhor estilo, o carro capaz de impressionar a vizinhança ou as férias em Cancum, Djerba ou outro qualquer destino de fazer inveja aos colegas de trabalho. Tudo isto quando o ordenado mal lhes dava para um T1 num bairro periférico, um Fiat Uno em segunda mão e um fim de semana na Comporta.
Não consigo evitar, por tudo isso, de culpabilizar os portugueses pelo estado a que isto chegou. A todos. Tanto se me dá que tenham roubado milhões ou sacado milhares. Sou eu, que nunca me meti em engenharias financeiras com o dinheiro que não tinha, que sofro agora as consequências da irresponsabilidade dos outros. E sim, são todos igualmente culpados. Uma puta que cobra quinhentos euros e só atende em hotéis é tão puta como a que faz o serviço na beira da estrada por cinquenta euros.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Direitos adquiridos?!


(imagem obtida em ecos electrónicos)
Com o aproximar do Natal sucedem-se - na região, mas provavelmente não só – os almoços e jantares, organizados pelas câmaras municipais e juntas de freguesias, destinados aos idosos. São eventos que não têm uma componente social, no sentido de proporcionar uma refeição a quem passa dificuldades, tratando-se antes de uma festarola a que acorrem ou são transportadas largas centenas de velhotes.
Não se trata, obviamente, de nada ilegal. Sequer imoral. São opções legitimas de quem organiza estas comezainas, assim como perfeitamente normal é a presença dos comensais. Criticas a este tipo de organizações, mesmo antes da crise, sempre as houve e são igualmente dotadas de toda a legitimidade. Mais ainda em tempo de acentuado crescimento da miséria, em que não faltará quem entenda como mal empregue o dinheiro dos impostos assim despendido. Nem, também, quem manifeste dúvidas quanto às verdadeiras intenções dos organizadores destas almoçaradas e jantaradas.
O que se afigura de todo despropositado é considerar este tipo de evento como um direito adquirido do público a que se destina. Haja paciência. Dissertações propagandisticas como a que imagem documenta não ajudam a levar a sério quem as escreve, não dignificam estes eventos e até parece que é preciso arranjar justificações, mais ou menos manhosas, para realizar estas coisas. Vá lá saber-se porquê.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Fui ao café e paguei o iva. Será que me enganaram?


Devo estar com problemas, para lá de preocupantes, ao nível da compreensão. Ando há um ano a ouvir os senhores da restauração a lamentar-se que não têm dinheiro para pagar o iva, nomeadamente agora que é a 23%. De cada vez que escrevo acerca do assunto e me atrevo a insinuar que a coisa não será bem assim, aparecem-me logo uns quantos a lembrar a minha ilimitada ignorância quanto a esta matéria. E também a outras, diga-se.
Começava, finalmente, a acreditar que estava errado e que os empresários estariam mesmo em sérias dificuldades para arranjar o dinheiro exigido pelo fisco. Os tais 23% sobre o valor da caixa, como sabiamente explicava um destes empresários. Mas, deve ter sido para me baralhar, ontem deram-me este papelinho. Uma venda a dinheiro toda catita e, aparentemente, dentro da legalidade. Onde me explicam que paguei vinte seis cêntimos de IVA. O tal que, alegadamente, os fulanos da restauração não têm dinheiro para pagar. Mas que eu já lhes paguei a eles. Estou, portanto, baralhado das ideias. Começo, até, a desenvolver novas teorias acerca do assunto. A mais plausível – já que nem coloco a hipótese da existência de esquemas mahosos – é que as caixas registadoras tenham um qualquer defeito de fabrico. Assim uma espécie de buraco por onde se escape o dinheiro dos impostos.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Eu que não sou de intrigas


Desconfio quase sempre das entusiásticas manifestações de apoio a este ou àquele candidato. Ou, por vezes, ainda candidato a candidato. Excluo dessas desconfianças o entusiasmo dos pais e de outro qualquer familiar ou amigo mais chegado por, na maioria desses casos, ele se justificar com a satisfação pelo sucesso pessoal de quem se candidata. Seja lá a que cargo for. Estou, apenas, a pensar naqueles que de forma exuberante não se coíbem de expressar a sua admiração pelas insuspeitas qualidades do seu preferido, em contraponto com a ausência de atributos valorizáveis dos outros concorrentes. Não acredito que o façam de forma desinteressada, a pensar tão somente no melhor para o seu país, a sua cidade, vila, aldeia, clube ou agremiação cultural. Estarão, digo eu que não sou de intrigas – tá bem, sou – à procura de qualquer coisinha que o pote lhes possa dar. O pior é que, desta vez, o pote está vazio. Que é como que diz, não vai haver pão para malucos. Mas isso eles não sabem. Nem sonham. Ainda.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Touradas...ou cavalarias altas.


Um conhecido cavaleiro tauromáquico, residente na região, deverá ao fisco cerca de quatrocentos mil euros. O homem terá, com toda a certeza, as suas razões para, alegadamente, não pagar a maquia reclamada pelas finanças. Não ter dinheiro pode, eventualmente, ser uma delas. Ainda que o aspecto anafado que ostenta, os círculos que frequentará e alguns sinais exteriores de um modo de vida fora do alcance da esmagadora maioria, não levem a supor que o senhor esteja a passar necessidades de maior. Poderá é ter outras prioridades para empregar o guito.
A fuga ao pagamento de impostos é, em Portugal, socialmente bem aceite. Por norma olhamos de uma forma condescendente para quem se consegue eximir ao cumprimento das obrigações fiscais e - a menos que se trate de um politico, porque aí será um malandro da pior espécie - até com uma pontinha de inveja. Justificamos esse modo de pensar com a maneira como o Estado gasta o dinheiro dos nossos impostos e, até porque está na moda, debitando opiniões alarves acerca de cortes na despesa. Um dos argumentos do momento é, entre outros, o fim de muitos serviços públicos. Nomeadamente a extinção de freguesias e, no futuro próximo, de municípios.
Naturalmente que muito há a fazer – quase tudo, diria – no âmbito da poupança de recursos públicos. Embora, como é visível nestas páginas, o meu conceito de má despesa pública seja substancialmente diferente do que por aí vejo muitas vezes escrito. É por isso que, quanto à alegada divida deste toureiro, mais do que juízos de valor acerca do seu comportamento, deixo apenas um número. Caso se confirmem os valores divulgados, eles representam quase o dobro daquilo que o governo vai transferir em 2013 para o conjunto das quatro freguesias do concelho onde o senhor em causa tem residência.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ainda a lamúria do iva da restauração


Não se calam. Insistem na idiotice. Até ao aborrecimento, digo eu. Haja alguém que explique ao pessoal da restauração que não são eles que pagam o IVA. Seja o imposto à taxa mínima ou máxima quem paga é sempre o cliente. Esta insistência é bem elucidativa do que estes gajos percebem de impostos. Deve ser de não os pagarem.
Atribuir a culpa do negócio estar a dar para o torto ao IVA aplicado à restauração é, também, um bocado a atirar para o parvo. Muitos restaurantes estão às moscas pelos altos preços praticados, pela deficiente qualidade ou porque, como dizia e com razão um deputado qualquer, pelo excesso de oferta.
A mudança de comportamento do lado da procura é outro factor a ter em conta. E, aí, não será apenas a falta de dinheiro dos portugueses a principal razão. Se assim fosse as zonas de restauração dos grandes centros comerciais não estavam, às vezes muito para além das horas normais das refeições, completamente lotadas.
Depois há os que não saem de casa sem o farnel da ordem. A merenda, vá. Aqueles que, como forma de solidariedade para com os gajos da restauração, já nem põem os pés – nem o resto - nos restaurantes. Só para não lhes arranjar mais despesa com o IVA.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O "inverno" árabe não incomoda os nossos democratas


Causa-me uma certa estranheza a ausência de reacção da esquerda, e da intelectualidade em geral, às manifestações que por estes dias vão agitando o Egipto. O contraste com o entusiasmo revelado quando daquilo a que chamaram primavera árabe é por demais evidente. Parece, até, que agora por aqueles lados nada se passa. À esquerda nem uma linha se escreve cerca da tentativas de islamização do país, da luta dos que heroicamente se batem contra a instalação de um novo regime ditatorial nenhuma voz dá eco e nem os arautos da liberdade, de todos os sectores ideológicos, se dignam a manifestar a sua solidariedade para com o povo egípcio.
Talvez seja por não perceber peva de politica internacional, ou ser um perfeito ignorante em estratégia geopolítica – seja lá isso o que for – mas incomoda-me que os “democratas” e outros “defensores da liberdade”, convivam tão pacificamente com os fascistas islâmicos. Será, provavelmente, da sua costeleta multiculturalista. Ou, então, é o ódio comum aos States a falar mais alto. Ou, quiçá, outra demência qualquer. Sim, porque não estou a ver esta malta a sobreviver uma semana – e já estou a ser condescendente – se tivessem de viver segundo os conceitos medievais da malta barbuda que reza de cú para o ar que tanto parecem admirar. À distância, claro.


sábado, 1 de dezembro de 2012

O elogio da incompetência


Um qualquer estudo de opinião recentemente publicado revela-nos que, segundo os portugueses inquiridos, o melhor primeiro ministro desde a instauração da democracia terá sido o engenheiro António Guterres. Isto apesar de até quem integrou a sua equipa governativa – Sousa Franco, Medina Carreira, entre outros - considerar que se tratava do pior governo desde o reinado de D. Maria I.
Admito a fiabilidade dos resultados obtidos neste inquérito. No momento de aperto como o que estamos a viver, é natural que muitos sintam saudades da bandalheira, da distribuição de dinheiro público em todas as direcções e da incapacidade de tomar decisões. De recordar que Guterres, entre outras ideias brilhantes, chegou a sugerir que o líder da oposição tivesse – enquanto tal - uma remuneração atribuída pelo Estado!!!!
Num país em que as noticias sobre o julgamento de um paneleiro que terá morto outro larila abrem, durante dias seguidos, os noticiários dos canais de televisão e onde telenovelas ou casas de segredos batem recordes de audiência, não parece estranho que um dos nossos maiores coveiros seja considerado como o melhor chefe de governo. É, afinal, de gente com especial apetência para o calote, para a vida de rico mesmo não tendo cheta e que tenha ar de gajo porreiro que a malta gosta. E se nos mantiver sempre em festa, melhor ainda.
Por último, mas não menos importante, haverá que esclarecer o local de realização da sondagem ou de residência dos sondados. Se foi, por exemplo, num bairro social ou num lugar tipo “Quintinhas” apenas surpreenderá não ter atingido uma votação perto dos cem por cento.