sábado, 30 de julho de 2011

A cultura das boas contas. Ou a falta de ambas.

Da leitura de blogues de uma localidade não muito distante concluo que a autarquia lá do sítio terá uma divida colossal à banca, a fornecedores e aos chamados agentes culturais e desportivos do concelho. Nada que, relativamente à divida financeira, inquiete alguém. Tão pouco o atraso na regularização dos pagamentos às empresas que venderam bens e prestaram serviços à autarquia é merecedor de grandes preocupações. O mesmo não se pode dizer da falta de cumprimento dos compromissos assumidos pela edilidade para com os tais “agentes”. Isso aí é que “alto lá e pára o baile”, que não pode ser.
Obviamente que as dividas, seja qual for a sua natureza, são para pagar. O que não se percebe é que o movimento associativo lá da terra exija um tratamento de excepção e que se arrogue no direito de receber o que lhe é devido, de forma prioritária relativamente aos restantes credores. Fizeram, com certeza, a planificação das suas actividades na perspectiva de receberem atempadamente os valores em causa e o incumprimento autárquico estará certamente a causar transtornos. Mas, e isto não se afigura difícil de perceber, o mesmo sucederá com as empresas que aguardam a regularização de dezassete milhões de euros há mais de trezentos e sessenta dias.
Perante este cenário, nem sei como classificar argumentos do tipo “o chavão da falta de dinheiro já não convence”, usado para criticar o atraso no pagamento das quantias acordadas com as associações. Há quem tenha dificuldade em perceber, especialmente na área cultural onde por norma as pessoas são mais avessas a números, que o dinheiro, tal como tudo, também pode acabar. Ou, no mínimo, que se trata de um bem escasso para ser usado com ponderação. O que, dadas as evidências, não terá acontecido no caso em apreço. E é a ausência de crítica das gentes da cultura à gestão desastrosa que os conduziu até este estado de coisas, que me deixa verdadeiramente perplexo. Pior. Se reclamam é apenas porque a tal Câmara promoverá, na opinião deles, poucas actividades culturais. Ou seja, a divida até podia atingir valores ainda mais astronómicos que, desde que eles recebessem, estaria tudo bem. Com uma cultura destas não admira que o país esteja neste estado!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ora assoem-se lá a este guardanapo!

Assim que tomou posse o primeiro-ministro apressou-se a comunicar ao país que este ano os deputados não teriam férias. Embora agora pareça que afinal não vai ser bem assim, a verdade é que a malta gostou. Bem-feita, terá pensado a maioria dos eleitores para quem a profissão de representante da nação no hemiciclo não é lá muito bem vista e acha que os ditos figurões ganham demais para o serviço que apresentam. 
A necessidade de manter a Assembleia da República a funcionar, justificava-se o então recém-eleito chefe do governo, teria a ver com a imperiosa aprovação das medidas indispensáveis à salvação do país. Tratar-se-ia de aprovar coisas importantes, pelo que era fundamental não perder tempo. Férias e outras minudências teriam que esperar. 
Ficámos, portanto, todos na expectativa. Uns mais ansiosos que outros, é verdade, mas isso depende do feitio de cada um e, também, daquilo que cada qual considera importante. Tão importante que impeça até um ilustre deputado de gozar uns dias de descanso. Ora sabe-se – ou pelo menos calcula-se - que um deputado cansado não deputará com a qualidade que nós desejamos que depute e – há quem garanta isso - a deputação é uma actividade muito exigente, capaz de deixar a maioria de rastos se praticada de forma contínua e sem os necessários períodos de recuperação.
Pelo exposto fácil é concluir que sou a favor das férias dos representantes do povo. A última coisa de que precisamos é de deputados esfalfados, cansados de tanta actividade deputativa, a aprovar medidas cruciais e determinantes para o desenvolvimento do país. Como, por exemplo, a “Promoção e valorização dos bordados de Tibaldinho da Freguesia de Alcafache”. Para quem não sabe, como era o meu caso, “Nestes panos é bordada uma panóplia de motivos decorativos: os ilhós simples, espirais de ilhós (enleios), arcos de ilhós (cadeia), arcos ogivais, quadrados de nove ilhós, espirais de cordão, espirais de borbotos, círculos simples e concêntricos, rodízios, estrelas, óculos em cruz, corações simples, floridos ou com chave, com hastes, pétalas, malmequeres, girassóis, cravos, botõezinhos, folhas abertas e fechadas, folhas redondas, alongadas, pontiagudas e serrilhadas, folhas de feto, carvalho, trevo de quatro folhas, composições florais, laços, silvas, bolotas, tranças, pevides, pássaros, borboletas, Cruz de Cristo, dois oitos em cruz, crivos simples e de duas pernas, recorte ondeante, bainha aberta, machocos redondo, alongados (de pevide) e bicudos (serrilha ou dentes de rato), curvas espiraladas, cordão ondeante, canutilhos, pompons, letras maiúsculos, monogramas”.
Perante factos destes não consigo calar o meu regozijo. Temos, finalmente, deputados que se preocupam com o essencial. O que claramente vem desmentir todos os que insistem em menorizar a actividade parlamentar. Ora assoem-se lá a este guardanapo!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Mau sinal


Da sinalização que alguns iluminados pela ignorância se lembraram de espalhar profusamente, aqui há atrasado, pelos bairros da Salsinha, Monte da Razão e Quinta das Oliveiras, este sinal é talvez o único que faz todo o sentido. No entanto já foi vandalizado em diversas ocasiões. Terá, portanto, inimigos de estimação que não suportarão a imposição de parar. Ou, então, será outra coisa qualquer no âmbito das doenças mentais. Daquelas que alguns insistem em classificar como vandalismo. Seja como for, a “obra” deu trabalho e o derrube do sinal não foi uma tarefa simples. Pena que estas bestas não concentrem as suas energias em atitudes mais cívicas. Como, por exemplo, fechar as tampas dos três contentores situados poucos metros mais abaixo e que, misteriosamente, NUNCA estão fechadas. Mas isso, além de constituir assunto para outro post a publicar um destes dias, deve ser coisa que envolve muito esforço.

domingo, 24 de julho de 2011

Curiosidades da execução orçamental da administração local

A síntese da execução orçamental recentemente divulgada pela Direcção-Geral do Orçamento apresenta valores, no que diz respeito à administração local, que simpaticamente me limitarei a classificar apenas como perturbadores. Isto porque, contrariamente ao que seria expectável, a despesa do conjunto dos municípios não está a encolher relativamente ao ano anterior. Bem pelo contrário. Até final de Junho a despesa, do total de toda a administração local, registou um aumento de 2,4 por cento. Isto apesar das despesas com pessoal – os eternos culpados – terem caído, por comparação com igual período do ano passado, em 3,3 por cento.
Estes números não reflectem, na minha opinião, apenas má gestão por parte de quem lidera os municípios portugueses. O caso será muito mais grave do que isso. O que estes indicadores nos mostram é que estando o poder local muito mais perto das pessoas lhe é praticamente impossível ir contra o que dele exigem os eleitores e, vivendo os portugueses um estranho estado de negação da realidade, é muito difícil a qualquer autarquia reduzir seja o que for no âmbito das suas despesas sem ter de se confrontar com a reacção dos que se habituaram a viver, de alguma forma, à conta do orçamento municipal. De resto apenas um totó acreditará que um autarca, por mais corajoso ou empenhado em prosseguir uma gestão racional da coisa pública, será capaz de olhar nos olhos os seus munícipes e dizer-lhes que a “festa” acabou. Excepto, como os números claramente demonstram, se os cortes forem no pessoal. Aí ninguém se importa de ser mauzão porque sabe que a populaça fica satisfeita.
A título de exemplo – podia ser outro, mas este parece-me sintomático – até final de Junho, foram pagos pelas autarquias mais 9,8 milhões de euros em transferências correntes - os vulgares subsídios - do que em período homólogo do ano anterior. Ou seja, mais de metade da poupança gerada com a redução das despesas com pessoal não serviu para reduzir o défice, equilibrar as contas públicas, salvar o país da bancarrota ou, o que me parecia sério, pagar as dívidas. Foi, antes, parar às contas bancárias dos inúmeros subsidio-dependentes, verdadeiros peritos na arte de mostrar trabalho – tipo, sei lá, comer camarão - com o dinheiro que lhes é dado de mão-beijada. Espero que façam bom proveito. Na verdadeira acepção da palavra.

sábado, 23 de julho de 2011

A média é quase sempre uma má maneira de medir...

Embora os valores apresentados nem me pareçam merecedores de grande destaque, até pela natureza das faltas em causa, um jornal de expansão nacional resolveu fazer manchete com um estudo segundo o qual os funcionários públicos faltam ao trabalho dezoito dias por ano. Isto em média, claro. E o problema reside principalmente aí. Estou, assim de repente, a lembrar-me daquela história – não sei se verdadeira mas tenho boas razões para acreditar que sim – de um vereador de um dos maiores municípios do país, simultaneamente detentor de um cargo numa empresa municipal e que, alegadamente, nem sequer sabia onde ficava a sede. Embora – isto também alegadamente – a generosa retribuição nunca tivesse deixado de ir estacionar na sua conta bancária.
Ora um gajo destes estraga claramente a média. Depois temos ainda aqueles fulanos que acumulam vários lugares em instituições diferentes. Apesar de toda a genialidade que sobejamente lhes é reconhecida, não terão o poder de estar, simultaneamente, em dois ou mais lugares. O que constitui mais uma desgraça para a estatística. A menos – hipótese que nem ouso colocar – esta malta não entre nestas contas.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Pagar uma vez é mau. Justo, mas mesmo justo, seria pagar duas. Ou três, vá.


Acho piada à tese, maioritariamente aceite como boa, que defende a incidência do imposto natalício, para além de outros ganhos, também sobre os juros de depósitos a prazo. Para a esquerda de uma maneira geral e para grande parte dos opinadores com direito a voz nas televisões, essa abrangência seria da mais inteira justiça, ao contrário de, como pretende o governo, taxar apenas os rendimentos do trabalho.
Considero, como escrevi noutras ocasiões, que este imposto produzirá efeitos nefastos na economia. Não vejo por isso que abranger outros rendimentos lhe acrescente qualquer tipo de justiça. Deixemos-nos de fingimentos e hipocrisias. Provavelmente muitos dos que vão ser abrangidos pelo corte no subsídio de Natal possuem acções e, seguramente, a larga maioria são titulares de depósitos bancários. Taxar estes rendimentos seria penalizar quem já vê parte significativa do seu trabalho ir direitinha para os cofres do Estado e cobrar, ainda mais, aos mesmos.
Nem vale a pena espernear muito em busca de argumentos contrários ao que acabo de escrever. Nem, sequer, armar em anjinho de pau carunchoso e acreditar que é apenas uma minoria que detém produtos financeiros. De acordo com os dados do boletim estatístico do Banco de Portugal, hoje divulgados, o total de depósitos aplicados por particulares atingiu os 122.249 milhões de euros em Maio, mais 1,386 mil milhões de euros face a Abril. Por detrás destes números estão, forçosamente, pessoas. Que trabalharam, pouparam e investiram. Entre os quais se encontram muitos reformados, que têm nos juros obtidos um complemento para as suas reformas. Mas, apesar disso, há quem considere uma injustiça não lhes sacar umas massas. Opiniões.
Reitero a minha convicção que, feito o apuramento final, o resultado do impacto deste imposto na economia e, por consequência, nas contas do Estado a médio e longo prazo será trágico, e tudo o que seja alargar a tributação servirá apenas para aumentar a dimensão dessa tragédia. Mas isso não é preocupante. Os dos costume continuarão a pagar os desvarios dos inimputáveis do regime.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O passado está de regresso

Desde o final da década de oitenta - princípio dos anos noventa do século passado, vá - até há dois ou três anos atrás, era raríssimo ver ciganos nómadas por estas paragens. Agora, carroças repletas desta gente, são uma presença constante nas estradas do distrito de Évora. Não sei a que se deve tão estranho fenómeno mas, de verdade, não me agrada. Nem é por serem feios, porcos e, possivelmente, maus. Nada disso. O meu desagrado tem mais a ver com as memórias de um tempo em estas caravanas eram constituídas por muitas mais carroças e integravam largas dezenas ou centenas de pessoas que, à sua passagem, iam roubando o que podiam. Quase sempre a pessoas que pouco mais tinham do que eles, diga-se.
É a memória desse tempo, que parece prestes a regressar, que me causa um certo calafrio e me provoca, perante este cenário, um sentimento de déjà vu. Espero estar enganado e este não constitua mais um sinal de que estamos em claro processo de regressão social. Admitamos, antes, que esta malta aprecia a natureza, possui um indomável espírito de liberdade e que prefere levar a vida a passear. Admitamos. Até porque por estas bandas nem há areia onde possamos esconder a cabeça.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Crise de valores


Sempre considerei que é preciso um enorme descaramento e uma colossal falta de vergonha  – assim mesmo, sem nenhum conjunto de palavras pelo meio que possa dar azo a interpretação diversa – para pedir, que é como quem diz exigir, um subsídio a uma instituição pública para realizar uma festa, fazer uma jantarada ou promover um qualquer evento semelhante. Na actual situação em que vivemos vou ainda mais longe. Continuar a exigir – quase encostar os autarcas à parede, não é mera figura de retórica – apoios para os mais variados disparates que dirigentes associativos idealizam, constitui um acto lesivo do interesse de todos os portugueses e que me enoja profundamente. A existência de dinheiro público a financiar cantorias e cambalhotas, bejecas, camarão ou frango assado é, principalmente numa altura como a actual, um verdadeiro escândalo que devia envergonhar a todos os que, em alguma parte do processo, tem uma palavra a dizer.  
Quando se solicitam estes apoios, são evocados motivos aparentemente muito nobres que justificam a sua concessão. Desde o interesse público até coisas realmente imaginativas, como a promoção e a divulgação do concelho em causa.  Seja lá o que for que isso queira dizer. Presumo que terá sido nesse contexto que os “Amigos da Festa Brava”, certamente uma associação de reconhecido interesse público e que eventualmente promoverá o concelho onde está sediada, ganharam quase oito mil e duzentos euros de subsídio atribuído pela Câmara lá da terra. No entanto, nessa mesma terra, muitas famílias deixaram de receber abono de família, pagam bastante mais irs e vão ver parte do seu subsídio de Natal ser absorvido pelo imposto natalício. É a crise. De valores.

domingo, 17 de julho de 2011

Um pelo preço de dois

Numa loja de electrodomésticos de uma conhecida cadeia de hiper-mercados, enquanto aguardava a minha vez de pagar, decorria na caixa ao lado um dos mais interessantes negócios a que já tive a oportunidade de assistir. Um casal tinha acabado de adquirir uma arca congeladora e, como medida de protecção adicional à garantia, o vendedor propunha-lhe a subscrição de um seguro que, durante cinco anos, cobriria toda a espécie de azares que pudessem acontecer ao aparelho. Pela módica quantia de três euros e sessenta por mês. Uma insignificância quando comparada com a tranquilidade proporcionada, acrescentava. Qualquer coisa como duzentos e dezasseis euros no final dos sessenta meses, se nos dermos ao trabalho de fazer a conta.
Ao contrário do que seria de esperar, o casal – aparentemente de condição humilde, mas com idade para ter juízo - não demorou muito tempo a concluir pela aceitação da proposta do vendedor e, assim de repente, levar um electrodoméstico para casa e assumir o compromisso de pagar outro. Perante um cenário como o descrito anteriormente não é difícil concluir que os portugueses se deixam convencer com facilidade, manifestam uma confrangedora iliteracia financeira e uma preocupante inabilidade para fazer contas. Assim não vamos lá. Contudo ajuda a explicar porque chegámos até aqui.

sábado, 16 de julho de 2011

Uma "brasa" no Ministério da Agricultura (*)

Mesmo colocando as mais sérias reservas quanto à sua eficácia, aplaudo as medidas implementadas pela nova Ministra da Agricultura visando a optimização dos recursos energéticos pelos serviços do seu ministério. Se, por um lado, tudo o que envolve poupança me parece bem, já, por outro, não se me afigura que o simples facto de deixar de usar gravata e, por isso, poupar no ar condicionado resolva grande coisa. Até porque a ministra já manifestou publicamente a sua condição de friorenta, o que não augura nada de bom quando, lá mais para o Outono, as temperaturas começarem a baixar. A menos que, por essa altura, seja emitida alguma ordem de serviço a aconselhar os funcionários a incluir na sua indumentária gorros, cachecóis, luvas, sobretudos e ceroulas. Ou, fica a sugestão, os serviços do ministério distribuam uma mantinha a cada colaborador. De preferência daquelas artesanais para estimular a economia das zonas rurais.
O que, de todo, me desagrada é que a alegada poupança tenha apenas como alvo a gravata. Ou, visto de outra forma, que apenas o pescoço masculino mereça ser aliviado dos apertos a que normalmente está sujeito nos gabinetes e corredores institucionais. Surpreende-me que as feministas de serviço, os mais variados grupos pela igualdade e, até, o Bloco de Esquerda, não tenham ainda vindo reclamar pela institucionalização do decote generosamente mais amplo ou da saia mais curta. Tudo, claro, em nome da poupança, da redução da pegada ecológica e, principalmente, do direito das mulheres a arejarem aquilo que muito bem entenderem.

(*) Pelo conteúdo do texto percebe-se claramente que a “brasa” a que me refiro é a temperatura. Nada de más interpretações que o respeitinho é muito bonito e isto é um blogue sério.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Fogaréu

Faz-me espécie que, ano após ano, este cenário se repita nesta zona da cidade. Há, pelo menos, vinte e dois anos que em cada Verão os incêndios em redor das muralhas ocorrem com inusitada frequência. Que, refira-se, apenas não é estranha à força de tanto se repetir. 
Não existe por ali nada que potencie, mais que em qualquer outro local, o risco de incêndio. Nem, que se saiba, nada que interesse queimar. Daí não se perceber o que motivará o constante arder daqueles pastos. A não ser que estes – coisa difícil de acreditar – possuam invulgares características capazes de provocar a sua combustão espontânea. 
Se calhar, digo eu que não percebo nada de fogueiras, o melhor será mesmo deixar arder tudo de uma vez. A menos que se pretenda que estes pequenos focos de incêndio sirvam como teste à prontidão e capacidade operacional das forças competentes para intervir nestes assuntos. O que, bem vistas as coisas, até nem parece mal de todo.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Um coice na crise?

Esta imagem poderá revelar-nos que estaremos já em fase de retoma económica ou, pelo contrário, que regressámos ao tempo em que – presumo, porque não vivi nessa época – se comercializavam muares no principal largo da cidade. Seja como for, é de saudar o espírito de iniciativa destes comerciantes que resolveram mostrar as suas alimárias a eventuais compradores. 
Será, talvez, também um sinal que o regresso à terra – à lavoura, vá – está para breve. Quem sabe, com recurso aos métodos mais tradicionais e amigos do ambiente. Ou, vistas as coisas noutra perspectiva, poderão constituir uma alternativa aos actuais meios de transporte. Dispensam seguro, não gastam combustíveis fósseis e são fáceis de estacionar. Apesar disso desconfio que não terão grande sucesso no negócio. De resto só um parvo iria comprar uma mula a um cigano quando pode ter um jipe à borla. Ou com pouco trabalho e alguma ciganice. E os lavradores, como se sabe, não são nada parvos.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Patriotas, mas só relativamente.

O patriotismo evidenciado pelos portugueses desde que a Moody's considerou a divida lusa como lixo é deveras enternecedor. Comovente, até. A maioria de nós descobriu, assim de repente e sem que nada o fizesse prever, uma repentina paixão patriótica. Quase tão intensa como naquele longínquo Verão de 2004 em enfeitámos tudo e mais alguma coisa com bandeirinhas nacionais. Daquelas compradas nas lojas dos chineses.
Apesar de achar alguma piada às tentativas de chatear os gajos da Moody's – ao ponto de também ter acedido e feito refresh inúmeras vezes no site da organização - e admitindo que as agências de notação até podem ser uns chatos do caraças, insisto, tal como escrevi aqui, que a culpa é quase exclusivamente nossa. Ninguém nos obrigou a pedir dinheiro emprestado. Nem, ainda menos, a não regularizar atempadamente os nossos compromissos. Só em processos de acção executiva a aguardar cobrança admite-se que estarão mais de vinte mil milhões de euros. Sensivelmente um terço da chamada ajuda externa recentemente negociada. Coisa pouca, portanto.
Admito que, sem a quantidade astronómica de dinheiro que nas últimas décadas desaguou no país, a nossa vida não seria a mesma coisa. Provavelmente não teríamos auto-estradas onde passam quase tantos veículos quantos os passageiros que embarcam ou desembarcam no aeroporto de Beja. Não haveria um campo de futebol relvado em cada aldeia e o Tony Carreira, certamente, daria menos concertos. Não teria sido construído um parque habitacional suficiente para acomodar vinte cinco milhões de habitantes nem, quase de certeza, veríamos qualquer gaiato ranhoso com o pai desempregado e a mãe no rendimento mínimo a manusear um telemóvel de última geração. Não era, de facto, a mesma coisa. Mas, se calhar, não era pior.

domingo, 10 de julho de 2011

Deve ser uma espécie de montra...


O dono deste veiculo pesado quer livra-se dele. Provavelmente já não é útil à sua actividade, pretende realizar algum capital ou, então, terá uma qualquer outra razão que não vem ao caso para o colocar à venda. É lá com ele. Está no seu direito e não temos nada a ver com isso. Principalmente quando – obviamente também é coisa que nem questionamos – terá pago todas as licenças que o habilitam a ter um bem em venda num espaço público.
O que já me parece questionável é a necessidade da viatura estar ali. Precisamente ali. Não mais à frente, ao lado ou mais atrás, mas exactamente naquele local que antes era ocupado por uma inoportuna pernada da árvore. Entretanto removida, como se pode ver na imagem, para dar lugar à camioneta que alguém pretende vender. Ramo esse que, como se pode constatar, nem se deu ao trabalho de colocar em local que pudesse ser recolhido pelos serviços de limpeza. Foi, como é visível, direitinho para a berma da estrada nacional.
Pertinente é, igualmente, o sentimento de impunidade que permite a alguns terem este tipo de comportamento. São muitos e muitos anos a cometer todo o tipo de tropelias impunemente. Danificar propositadamente uma árvore, plantada na via pública, com o intuito fútil de estacionar um camião pode ser coisa pouca. Constitui, no entanto, uma atitude reprovável e bem elucidativa do que, até nos mais pequenos pormenores, é hoje a bandalheira em que se tornou o nosso país.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

"Portantos, ainda hadem vir mais!"


Um homem muda de mulher, de partido, de opinião, de religião e, alguns, até de sexo. No entanto, por uma qualquer deficiência de fabrico que a ciência se revela incapaz de explicar, não consegue mudar de clube. Algures durante o processo de crescimento torna-se adepto de uma agremiação desportiva e, queira ou não, nunca mais se livra dessa paixão. O que é pena.
Por mim, benfiquista desde sempre, nomeadamente do tempo em que não era dado a estrangeiros o privilégio de vestir a camisola do glorioso, é particularmente doloroso ver aquilo em que se está a tornar o maior clube português. Despedem-se os jogadores que ainda constituíam as poucas e vagas referências e mandam-se vir charters de pseudo-craques do outro lado do Atlântico. Quase sempre de qualidade inversamente proporcional ao dinheiro que custam.
Nem sei – e para dizer a verdade prefiro nem saber – se, entre as largas de artistas do pontapé na bola, haverá por lá meia dúzia que tenha nascido cá pelo rectângulo. Provavelmente esta obsessão do treinador por gente de fora e a pressa que manifesta em despachar os poucos portugueses, terá a ver, mais do que com opções técnico-tácticas, com a pouca vontade de ter no balneário jogadores que não conseguem evitar um sorriso trocista quando o ouvem falar. Consta que o homem prefere os estrangeiros porque, pelo menos ao principio, não se apercebem das suas constantes calinadas.
O meu benfiquismo passou incólume por catorze anos sem títulos. Suportei estoicamente goleadas de cinco ou sete golos e outras humilhações igualmente penosas. Receio, contudo, que fique abalado por esta pré-época. E um sinal preocupante que isto pode estar a acontecer é quando dou por mim a fazer zapping logo que, nos telejornais, surgem noticias do Glorioso. Exactamente o mesmo que faço quando os noticiários se referem a Andrades e Lagartos. Terei de certeza, lamento pensá-lo e ainda mais escrevê-lo, alguma dificuldade em vibrar com uma equipa que se apresentará no relvado sem jogadores portugueses. Coisa que não se vê nem na Roménia ou em Chipre.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

São lixo?! E foi preciso pagar para saber isso?!

Mas porque raio há-de uma Câmara Municipal ser avaliada por uma agência de notação financeira?! Por mais que me esforce não consigo enxergar uma única vantagem para os munícipes dos municípios avaliados e, se a lei não mudou desde ontem, os segundos apenas existem para satisfazer as necessidades dos primeiros. Neste caso nem os argumentos muito rebuscados, que os autarcas – e os políticos, de uma maneira geral – costumam utilizar para justificar decisões racionalmente injustificáveis, servem de fundamento. A menos que nos queiram provocar, de tanto riso, uma valente dor de barriga.
Não estou por dentro dos preços – por acaso nunca me ocorreu entrar nesse ramo de negócio – mas, calculo, um servicinho deste género não deve sair nada barato. Será, acredito, tão caro quanto inútil. Até porque, por melhor que fosse a classificação obtida, não serve para nada. É, por isso, muito bem feito que as Câmaras que o solicitaram tivessem sido consideradas como lixo. Estavam mesmo a pedi-las.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Agências de rating prestes a considerar divida portuguesa como "merda de cão"


Provavelmente serei dos poucos que não embarcam nessa nova moda nacional de dizer mal das agências de rating, que de repente transformou cada português num auto-proclamado especialista em análise de risco de investimento. Até porque “lixo” ainda não me parece suficientemente grave. Por mim apenas vou ficar aborrecido – mas mesmo assim só um bocadinho - quando a divida nacional for classificada como ”merda de cão”. Grau que, por este andar, não demorará a atingir.
Não sei se as tais agências erram ou não muitas vezes nas apreciações que fazem. Desconfio que não. Se assim fosse, se calhar, já não tinham clientes. A menos que a estes perder dinheiro desse um especial gozo. É verdade que falharam redondamente quando recomendavam como bom negócio o tal banco que faliu lá para as Américas mas, que diabo, de gente que se engana de forma ainda mais redonda estamos todos nós mais que fartos.
Assim, de repente, nada me ocorre que possa ter causado tanta perplexidade na classificação da divida portuguesa como lixo financeiro. Isto, mal comparado, é como se eu for todos os meses ao banco pedir um empréstimo para manter o nível de vida a que estou habituado e, simultaneamente, o meu rendimento mensal não parar de ficar cada vez mais reduzido. Nestas circunstancias será perfeitamente normal que o fulano do banco – provavelmente um rapazola, escondido atrás de um computador e, quase de certeza, com ar de fuinha – comece a desconfiar da minha capacidade de cumprir com o pagamento e, às tantas, é gajo para me considerar um cliente de alto risco.
Nada disto acontecia se não recorrêssemos sistematicamente ao crédito e nos limitássemos a viver à medida da nossa capacidade de gerar riqueza. Ou, dito de outra maneira, não quiséssemos armar naquilo que não temos dinheiro para ser. Aí estaríamos-nos nas tintas para as tais agências, podíamos mandar os mercados dar uma volta e rir na cara dos especuladores. Mas não. Nós somos mesmo assim. Não gostamos é de ouvir a verdade.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O ordenado da senhora FMI


Nada tenho contra os ordenados chorudos que por aí se vão praticando. É por isso que não partilho da indignação que assola uns quantos comentadores, relativamente ao vencimento a auferir pela senhora francesa que vai chefiar o FMI. Há que ser realista. Está em causa uma instituição que opera à escala planetária, que movimenta uma quantidade inimaginável de dinheiro pelo que, assim sendo, o cargo deve ser principescamente pago. O que, bem vistas as coisas, nem é o caso. Principalmente se tivermos em conta que a gaja vai ganhar menos que o chefe máximo da Caixa Geral de Depósitos. Um banco que, segundo julgo saber embora isso não seja relevante para o caso, nem estará entre os cem maiores bancos do mundo. Portanto, nem mesmo pensando à nossa dimensão, se pode considerar que a criatura tenha um salário por aí além. Dá para ir vivendo, mas não é lá grande coisa.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ajudar os "desgraçadinhos" é prioridade nacional

Em tese será muito defensável a ideia de que uma redução significativa da Taxa Social Única, paga pelas empresas sobre a remuneração dos trabalhadores ao seu serviço, contribuirá para aumentar a competitividade da economia portuguesa. Supõem os defensores desta ideia que a diminuição de encargos com o factor trabalho terá reflexos nos custos finais dos produtos ou serviços comercializados o que, por consequência, se traduzirá por preços mais baixos. O que significa, ainda para quem defende esta tese, que as empresas exportadoras ficarão em melhores condições de concorrer no mercado externo. Internamente os benefícios também se farão sentir porque, garantem os apoiantes da ideia, será possível produzir a preços mais competitivos para o mercado interno e, assim, diminuir as importações.
Só vantagens, portanto. Estamos em presença de um plano quase perfeito. Engendrado, talvez, por um génio da táctica. Assim a modos que uma espécie de Mourinho da economia. Confesso que até o meu aguçado espírito critico se depara com inesperadas dificuldades em encontrar pontos fracos, ou criticáveis, em ideia tão brilhante. Digamos que apenas um pequeno pormenor me inquieta. Muito ligeiramente, é certo, mas ainda assim não me deixa inteiramente descansado. Que é o facto de em Portugal os patrões – o que raramente é sinónimo de empresário – serem, na sua imensa maioria, portugueses. Trata-se de uma classe constituída, em grande parte, por aldrabões, broncos e semi-analfabetos, sempre prontos a enganar tudo e todos. Seja o Estado, os trabalhadores ou os clientes. Daí que não me espantaria se, a verificar-se a prometida redução da TSU, ela fosse encaminhada, ao contrário do pretendido, para o aumento da importação. De Ferraris, uísque, brasileiras e tudo o mais que ocorra à fértil imaginação do patronato nacional.

domingo, 3 de julho de 2011

O Estado é um gordo comilão que recusa fazer dieta


Prevê-se que a metade do subsidio de natal convertida em imposto renda aos cofres do Estado qualquer coisa como oitocentos milhões de euros. Pecúlio indispensável, dizem, ao cumprimento das metas do défice. Será, também, uma espécie de adiantamento. Quando o Costa do BPN - e restantes amigalhaços - forem condenados a pagar ao Estado cada euro que este já injectou, mais os mil milhões que se prepara para injectar, naquele arremedo de banco, seremos todos reembolsados. E com juros, naturalmente.
Por sua vez a RTP custa aos contribuintes um pouco mais de trezentos e trinta e quatro milhões de euros por ano. No entanto, em nome dos interesses das estações privadas, não se pode privatizar e, assim, aliviar desse fardo quem ainda vai pagando impostos. Ia estragar o negócio ao tio Balsemão e aos chatos da TVI que, lixados como são, eram gajos para ir buscar outra vez a Manuela Moura Guedes. Ou porque, dizem outros, é fundamental manter um serviço público de televisão.
Por mim estou claramente dividido. Sem décimo terceiro mês ainda consigo sobreviver, mas quem me tira o inenarrável “Último a sair”, ou aqueles programas com parolos aos berros que preenchem as manhãs e as tardes do canal público, tira-me tudo. Isso sim é que é serviço público. Mas, por outro lado, o graveto dava-me um jeitão do caraças. É que sem ele vou ter de passar a beber Cergal...