domingo, 31 de outubro de 2010

“Não deixe que a verdade estrague uma boa história”.



A imagem que quem nos visita leva de Estremoz  aparenta não ser a melhor relativamente à forma como por cá nos relacionamos com o automóvel. O  carrinho parece ser, a par do canito, o melhor amigo do homem – e também da mulher – estremocense de tal forma o levamos para todo o lado por mais pequeno que seja o percurso a efectuar. E, numa cidade como a nossa, quase todos o são. 
Também a maneira como arrumamos o nosso imprescindível meio de transporte é alvo de especial critica. Quase sempre o mais perto possível do local de destino, mesmo que isso signifique deixar o "boguinhas" em cima do passeio, da passadeira ou em local proibido para o efeito. Tal como acontece em qualquer outra aldeia, vila ou cidade. 
A par de fotos onde ilustra o que refiro acima, o autor de mais um post sobre esta temática lamenta que não utilizemos o parque de estacionamento gratuito, junto às Portas dos Currais, que, segundo ele, a Câmara atenta ao problema mandou construir. Acredito que alguns até gostassem de o utilizar. Há, no entanto, um pequeno pormenor. No caso nada pequeno nem menor. O espaço é privado,foi construído pelo promotor da unidade hoteleira vizinha para utilização exclusiva dos seus clientes e, como é fácil de constatar até ao mais desprevenido visitante, trata-se de um parque fechado. O que faz todo o sentido dado o fim a que se destina.
No mundo dos blogues não é de esperar grande rigor informativo nem um especial apego pela verdade dos factos. No caso em apreço, da ausência  de ambos não virá grande mal ao mundo. Mas, embora o autor do texto tenha toda a razão nas considerações que tece acerca do estacionamento cá do burgo, não cumpriu uma das regras de ouro que se deve seguir quando se fala ou escreve acerca de um tema que não dominamos. Não aprofundar demasiado...A menos que usemos aquela velha máxima que, também a mim, é tão querida: “Não deixe que a verdade estrague uma boa história”.

sábado, 30 de outubro de 2010

Passos certos


Como  está por demais evidenciado em diversos posts que tenho vindo a publicar aqui no Kruzes, não tinha a miníma simpatia pelas ideias do líder do Partido Social Democrata. Até ontem. Nas últimas horas a minha admiração por Pedro Parvus Coelho disparou para um patamar  que até a mim surpreende e que deve situar-se ao mesmo nível daquilo que qualquer intelectual de esquerda nutria por Barack Obama por alturas das eleições americanas. O que, penso, dará a quem me lê uma ideia aproximada do quanto o homem subiu na minha consideração. 
Tudo graças à frase mais marcante que qualquer titular de cargo público, ou aspirante a isso, ousou pronunciar desde que me lembro de ter algum interesse por estas coisas da politica. De facto não é para todos – até agora não tinha sido para ninguém – afirmar peremptoriamente que “os direitos adquiridos caiem quando for preciso”. Mais nada! Haja alguém que tenha coragem de fazer cair interesses instalados de magistrados, políticos de toda a espécie, reformados com reformas milionárias, gestores públicos, criminosos – independentemente da cor do colarinho – com direitos que escapam ao senso comum que conduzem quase sempre à impossibilidade de serem condenados, malta do Banco de Portugal e de todos os outros que se andam por aí a pavonear à custa da imensa maioria.
Nem coloco a hipótese – ninguém de boa fé o pode fazer – que o chefe social democrata esteja a falar de outra coisa. Até porque neste campo dos direitos adquiridos pouco mais restará do que acima enunciei. A menos que Pedro Parvus Coelho esteja a pensar em reintroduzir no país a aplicação da pena de morte. Sim, porque à generalidade dos portugueses o direito à vida – e ainda assim relativamente – é das poucas coisas dadas como adquiridas.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fantasias no país das crises

Na crise de 2009 – aquela em que, recorde-se, gastar dinheiro dos contribuintes era bom e que fazê-lo constituía quase um imperativo patriótico – os autarcas portugueses, seguindo o exemplo do governo, esmeraram-se naquilo em que tradicionalmente melhor sabem fazer. Gastar o que têm, o que não têm e aquilo que sabem nunca irão ter. 
Cheios de generosidade, de amor ao próximo e imbuídos de um espírito altruísta que costuma atormentar os políticos na proximidade dos actos eleitorais, trataram de inventar planos de apoio aos extractos sociais mais desfavorecidos, medidas de emergência para auxiliar eleitores em situação de carência, estímulos ao emprego ou incentivos a tudo e mais alguma coisa. De caminho fizeram obras, arranjaram empregos, contrataram os cantores da moda, organizaram passeatas e tudo o mais que ocorreu à sua fértil imaginação. 
A crise de 2010 é, ao invés da anterior, daquelas tradicionais. Conservadoras, mesmo. Parece que nesta não se pode gastar. Terá, pelo contrário, de se cortar muita despesa. Inútil ou não. Embora a mim o conceito de despesa inútil com dinheiro público me faça uma certa confusão. Se calhar quem gasta o dinheiro de todos em coisas que não são úteis devia ser preso. Ou levar um par de estalos. Não sei, digo eu assim de repente. 
O certo é que agora não basta poupar. É preciso deixar de gastar onde antes de distribuía magnanimamente. Mas isso, suspeito, é tarefa impossível para os autarcas tugas. Não conhecem essa realidade, diria que nem suspeitam que exista, e fazer um esforço para reequilibrar as depauperadas contas da esmagadora maioria das autarquias não é assunto que mereça qualquer relevância. 
Nada disto me surpreende. Só me entristece que não encontre ninguém que queira apostar comigo em como o país se vai iluminar com milhões de luzinhas de natal, muita gente se vai empanturrar e embebedar nas múltiplas festas alusivas à quadra, pistas de gelo não vão faltar no centro de qualquer vilória e pai-natais barrigudos cheios de prendas, de que putos mimados desdenharão, andarão por aí numa roda-viva. Tudo com o alto patrocínio da quase falida autarquia lá da terrinha.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os empresários nossos amigos


Se de repente uma central sindical – ou outra organização qualquer, não interessa - se lembrasse de exigir uma redução das taxas de irs sobre os rendimentos do trabalho na ordem dos oitenta e cinco por cento, era muito bem capaz de ver esta intenção apelidada de irresponsável, demagógica e populista. No mínimo. E com razão. 
Se uma associação de aforradores, revoltados com a elevada taxa fiscal que incide sobre os juros dos depósitos a prazo, viesse a terreiro reivindicar uma baixa significativa – aí para um virgula cinco por cento – sobre o imposto que incide sobre os resultados da sua poupança, quase de certeza provocaria a ira do Ministro das Finanças. E do Bloco de Esquerda, também. Desagrado que, acredito, reuniria largo consenso.
Já um estudo, elaborado por uma universidade, sugerir como medidas para melhorar a competitividade das empresas nacionais o aumento do iva – provavelmente mais do que aquilo que o governo propõe – e reduzir a contribuição patronal para a segurança social de 23,75 para 3,75% é, digamos de uma forma simpática, parvo. E a atirar para o alarve.
Contrariamente ao que se possa pensar numa apreciação mais ligeira a universidade em causa não é a Independente. Embora não haja certezas quanto a isso - as fontes não o referem - suponho que a análise desta problemática e a conclusão obtida para a sua solucionática terá ocorrido num Domingo. De manhã, quase de certeza. Depois de uma noite de muito álcool, umas brocas e, se calhar, algumas gajas. Provavelmente até, mas isso sou eu a divagar dado o adiantado da hora, tudo patrocinado por algum “empresário” recentemente regressado da China.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tramar a ladroagem

Segundo alguns analistas destas coisas da economia, provavelmente os negativistas mais exacerbados e que urdem campanhas negras contra o PS - que é como quem diz contra o país – uma contracção do consumo na ordem dos dez por cento teria consequências catastróficas. Nem desconfio se tudo o que tem sido anunciado irá originar uma quebra dessa grandeza. Mas, aos olhos de um leigo, esse parece ser um número facilmente atingível se  os recos que se governam lá por Lisboa concretizarem todas as ameaças e mal-feitorias que pretendem impor aos portugueses. 
Por mim tudo farei para que o consumo tenha mesmo a queda tão temida pelos analistas económicos. Nem terei de me esforçar muito. Neste aspecto os cevados do governo irão usufruir de toda a minha colaboração. 
Apesar de sentir na carteira os efeitos das más intenções desta gente sem escrúpulos, nem categoria para gerir um clubezeco de bairro quanto mais governar o país, não acredito por aí além em greves. Desse acto pouco advirá de bom para quem aderir. Antes pelo contrário. Perder um dia de vencimento só beneficiará o governo que poupará uns trocos, no caso dos funcionários públicos, e nos privados irá certamente dar azo a mais uns quantos despedimentos. Prefiro outras formas de resistência individual e de boicote a pagamento de impostos que, no conjunto, acredito terão um impacto muito maior e que ainda podem trazer alguns benefícios à nossa bolsa. É tudo uma questão de imaginação. E se ela não falta à ladroagem que nos anda a tramar a nós também não.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Chegou o circo?!



Não gosto de ver o Rossio Marquês de Pombal transformado em parque de auto-caravanas. Dá mau aspecto. Não deve ser por acaso que o seu aparcamento é proibido em muitos locais turísticos. Para além disso a sua permanência em pouco ou mesmo nada beneficiará a cidade, até porque nem todos os que optam por este meio de fazer turismo demonstram um grau de civismo digno de nota. Não é que queira correr com eles á pedrada mas, de verdade, que não aprecio a sua presença num local nobre bem no centro da cidade. E o pior é que este espaço surge nos diversos fóruns de auto-caravanismo como local aconselhado para este pessoal abancar. 
Também não acho que se tenha de encontrar um lugar alternativo para esta gente estacionar o seu veiculo e pernoitar. Era o que mais faltava. Existe um parque de campismo dotado de todas as condições necessárias a este tipo de actividade a poucos quilómetros e, caso não queiram, a berma de qualquer estrada serve plenamente para o efeito. Agora montar o circo por ali é que não me parece nada bem.

sábado, 23 de outubro de 2010

Poupar não rima com autarca

As autarquias locais, em especial os municípios, sempre viveram à margem de qualquer austeridade orçamental, nunca se preocuparam em racionalizar custos e para os autarcas o esbanjamento à tripa forra do dinheiro dos contribuintes em inutilidades, daquelas que até chateiam de tão inúteis que são, é algo de tão natural como o ar que respiram. 
Apesar do apertão generalizado de que já estamos a ser vitimas e da tragédia social que, lá para Fevereiro, começaremos a sentir, escasseiam noticias que nos dêem conta de uma mudança de atitude por parte dos autarcas relativamente ao que tem sido a sua conduta pouco responsável em matéria financeira ao longo dos últimos trinta anos. E um bom exemplo seria começar por não despender nem um cêntimo em almoços, jantares ou ceias de Natal para idosos ou funcionários nem, tão pouco, em iluminações alusivas à data. 
Nem se pense que tal medida seria impopular. Pelo contrário. Existe já um grupo no Facebook onde se apela ao corte neste tipo de despesas, onde se inclui um modelo de carta a enviar ao Presidente de Câmara respectivo a solicitar que não sejam colocadas iluminações e que o dinheiro seja antes canalizado para apoio aos mais necessitados. Também nos blogues e sites de orgãos de comunicação social onde estes assuntos são abordados, a posição dominante é claramente contra a realização destas iniciativas que, é sublinhado com insistência, mais não são na maioria das circunstâncias que exibicionismo bacoco dos seus promotores. 
De resto, quando todos vamos ficar com menos rendimento, seja através da redução de vencimento, do aumento dos impostos e contribuições ou porque nos retiram apoios sociais como o abono de família e outros, é altura de começarmos a exigir a quem, nacional ou localmente, gere o nosso dinheiro que tenha muito cuidado e rigor na forma como o gasta. É que, para além de ser pouco, dói vê-lo ir-se embora pelo cano abaixo ou esvair-se em fumo, sem que daí nada resulte de positivo para o futuro da terra de cada um.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Recos!


Sou, por principio, contra a redução de salários. Já aqui o escrevi vezes suficientes para que a minha opinião acerca do assunto, mesmo não interessando a ninguém ou tendo qualquer espécie de relevância, ficasse mais do que esclarecida. Acho que não é esse o caminho nem é através dessa via que se conseguirão recuperar as finanças públicas. 
A maioria dos entendidos no assunto – que ao contrário de mim sabem realmente do que falam quando emitem as suas distintas opiniões – considera, no entanto, que os cortes previstos em matéria de vencimentos e apoios sociais são imprescindíveis, chegando mesmo alguns a considerar que se devia ter ido ainda mais longe. Pena que, na maior parte dos casos, esta gente apenas olhe para baixo e aplauda apenas os cortes ao rendimento de quem ganha menos e não tenha vergonha de classificar como demagogia a pretensão de ver essa redução aplicada a quem tem salários obscenos, como já alguém chamou a algumas roubalheiras que por aí existem. 
A incoerência desta gente – uma cambada de bandalhos e javardos – enoja-me. No seu douto entender, reduzir – roubar é capaz de ser mais adequado – em cinquenta ou cem euros o vencimento e abono de família a quem ganha uma miséria é o caminho correcto que levará à recuperação do país. No entanto não ouvi um pio, provavelmente tenho andado distraído, acerca da trafulhice a que chamam contribuição extraordinária de solidariedade. Propõem as inteligências supremas que se governam neste país que um aposentado que receba cinco mil e cem euros passe, solidariamente, a contribuir com dez euros da sua reforma para o esforço colectivo de redução do défice... 
Parece por demais evidente que o esforço é demasiado desigual. Mas isso devo ser eu, negativista exacerbado e demagogo incorrigível, a depreciar mais uma vez o magnifico trabalho que o alegado engenheiro está a realizar em prol do país. Trabalho em que, garanto, tenho esperança de ainda um dia acreditar. No dia em que ele for preso.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Promessas

A Justiça é demasiado lenta. Esta afirmação não constitui qualquer espécie de novidade - toda a gente sabe isso – mas mesmo assim desagrada-me. Aborrece-me, vá. 
Faz agora um ano que um leitor deste blogue, que por acaso não conheço de lado nenhum nem me recordo de ter visto mais gordo, prometeu dar-me a honra de ser por ele processado judicialmente. Não sei se o dito leitor – pelo teor dos comentários que então me deixou será um verdadeiro poço de virtudes e que reunirá em si qualidades tão raras como a honestidade, integridade, o amor ao próximo e mais umas quantas que me escuso de referir para não maçar os meus estimados leitores – cumpriu ou não a sua amável promessa. Claro que tal honraria não me era destinada em exclusivo. O cavalheiro – sim, o senhor será um verdadeiro cavalheiro – terá como hábito prometer que processa pessoas. Por tudo e por nada, a julgar pela facilidade e pelo desembaraço com que o faz, a magnânima criatura distribuirá promessas de encontros em tribunal. 
Há, no entanto, dois problemas. A Justiça é lenta. Um ano depois não me notificou nem, ao que sei, há noticias de ter feito o mesmo a outros a quem o distinto cidadão – que, reitero, nem desconfio quem seja – terá feito igual promessa. O segundo problema é que é cara. Demasiado cara. Mais cara do que a água que corre nos canos, que a renda que alguns especuladores cobram por um lúgubre casebre e quase tanto como os impostos que às vezes esquecemos de pagar.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

À atenção do PCP


“Mulheres que têm sexo com estranhos. Aproveite já!”. Eh lá! Então isto não é coisa para merecer reprovação?!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Deixem-nas trabalhar, pá!

O PCP – Partido Comunista Português, para os mais incautos – não gosta da livre iniciativa dos cidadãos. Nem das cidadãs. A bem dizer não gosta de liberdade nem de iniciativa. Prefere as coisas planificadas. E nos planos daquele partido está apresentar uma proposta no sentido de proibir a publicidade, na comunicação social, ao negócio do sexo. 
Acho, naturalmente, mal. Muito mal mesmo.  Num período como aquele que atravessamos e em que, a julgar pelas centenas – ou milhares – de anúncios que diariamente são publicados nos mais variados jornais a publicitar esta actividade, este parece ser dos poucos negócios a viver um momento de franco crescimento, a empregar cada vez mais pessoas e a provocar alguma dinamização da economia, acho profundamente errado que se criem dificuldades a quem pretende dar a conhecer o seu negócio.
Em lugar desta tentativa de esconder o negócio das vistas dos potenciais clientes, esperava eu que o PCP propusesse – quem sabe, até, na discussão do Orçamento – a taxação em sede de IRS, IVA ou Segurança Social destas – e destes – profissionais. Ou mesmo, estaria mais de acordo com os desígnios dos comunistas, uma taxa especial agravada sobre os lucros escandalosos dos proxenetas. Mas não. Nestas, como noutras coisas, o Partido Comunista nem legisla nem sai de cima. 
A propósito. Sou só eu que noto nesta intenção uma vaga semelhança com o movimento de senhoras que há alguns anos atrás ficou conhecido como mães de Bragança?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ignorantes ou talvez não

De um inquérito promovido pelo Banco de Portugal parece poder concluir-se que os portugueses são uns perfeitos ignorantes em matéria financeira. Nada mais errado. Podem não saber o que é um spread ou pensar que euribor é uma marca de tabaco. Podem, até, estar nas tintas para tudo isso. Agora que de finanças – e também de economia - sabem eles, lá isso sabem. 
Se não veja-se a quantidade de agências de concessão de crédito, a maioria estrangeiras, que por cá se estabeleceram e a maneira como foram enganadas por muitos dos que recorreram aos seus préstimos. Em beneficio próprio, é verdade, mas também com largas vantagens para a economia nacional. Que o digam os inúmeros solicitadores de execução, que puderam criar assim o seu próprio negócio, e que não têm mãos a medir para recuperar os créditos que os tugas deixaram de pagar. Os cinco, dez ou vinte mil euros com que compraram o leitor de DVD's, o LCD, o carro novo ou pagaram a viagem à Republicana Dominicana são agora descontados dos seus ordenados, em prestações suaves que perdurarão muito para lá da idade da reforma. 
Também não me parece que sejam propriamente uns nabos em assuntos financeiros todos aqueles – não devem ser poucos – que vão conseguindo sobreviver anos a fio à conta dos mais variados subsídios de um Estado que muitos acusam de ser cada vez menos social. Acredito que, com relativamente pouco esforço, não será difícil encontrar quem arranje maneira de, nos anos que medeiam entre deixar de ter abono de família e adquirir o direito à pensão de reforma, se ir orientando com o dinheiro proveniente das finanças públicas fazendo um esforço ainda menor. 
Somos, em suma, um povo de especialistas. Especialmente em falcatruas. Financeiras, quase todas. Por isso, mesmo não sabendo nada de spreads ou euribores, qualquer um podia gerir o BPP, o BPN ou até, quem sabe, ser Primeiro-Ministro.

domingo, 17 de outubro de 2010

O gang dos porreiros, pá!

Qualquer inquérito ou sondagem manhosa revela que a insegurança, os assaltos e os crimes contra as pessoas e o património estão no topo das preocupações dos portugueses. Pois esqueçam lá isso. Os “Patolas”, “Macacos” ou “Tenentes” desta vida, apesar do nome de guerra bastante sugestivo, não passam de meninos de coro quando comparados com o saque organizado de que todos seremos vitimas já a partir de Janeiro. E o pior é que, neste caso, nem sequer nos podemos defender e dar um valente par de murros nos cornos do assaltante. 
Está tudo previsto no Orçamento. Vão-nos ao bolso, à conta bancária ou onde quer que escondamos o fruto do nosso trabalho e fazem uma limpeza digna dos melhores profissionais da arte do gamanço. Saque, esbulho, extorsão são palavras que não definem suficientemente bem aquilo que vai ocorrer. Mesmo que acrescente má-fé, vigarice ou xico-espertismo receio não estar ainda a não ser capaz de definir razoavelmente  o que me parece ser a intenção do governo. De outra forma não sei como interpretar as orientações emanadas do Ministério das Finanças para a elaboração do orçamento de Estado, nomeadamente quando ordena aos serviços que “ A orçamentação da despesa, quer para o pessoal ao serviço, quer para o pessoal que se planeia contratar (independentemente da data em que se planeia fazer a contratação) inclui, nomeadamente, os seguintes itens: Catorze meses de remunerações certas e permanentes e de outras despesas de natureza certa e permanente”. Ou seja: é inscrita dotação em orçamento que se sabe, de certeza absoluta, não vai ser executada. Donde se pode facilmente concluir que existirá uma clara sobre-avaliação da despesa. 
Esta imposição decorre, naturalmente, da lei. Que, como faz em tantas outras circunstâncias, o governo podia ter optado por revogar, suspender ou alterar. Mas não. Está-se mesmo a ver com que objectivo. Poder gabar-se da “poupança” absolutamente extraordinária que conseguiu com as despesas de pessoal, ter alguma folga para o que vai correr mal e, sobretudo, arranjar justificação para o roubo mais que descarado que nos vai fazer. Isto para além de, segundo alguns especialistas, as receitas provenientes do aumento do IVA e do IRS estarem claramente subavaliadas. Maquiavélico, portanto. 
Se o que acabei de escrever se vier a confirmar não passar de “uma ilusão de óptica”, não terei qualquer problema de consciência em fazer como o aprendiz de treinador e vir aqui penitenciar-me por estas alarvidades.

sábado, 16 de outubro de 2010

Mas quem é que esta gente pensa que é para andar por aí a opinar?!

Como qualquer intelectual que se preze Pacheco Pereira gosta de fazer prolongadas dissertações sobre coisas. Nomeadamente acerca de blogues, radicalismos e bloggers ou comentadores que usam esta ferramenta para disseminar opiniões radicais – e geralmente parvas, presumo que o figurão pense assim – que não interessam a ninguém. Dois assuntos – blogosfera e radicalismo - que domina na perfeição. Como, aliás, domina todos os outros assuntos acerca dos quais seja necessário emitir opinião. Embora condene que outros façam o mesmo porque, apesar de não o dizer a gente percebe, são todos, excepto provavelmente ele e um circulo de intelectuais iluminados, uma cambada de nababos que não deviam ter opinião sobre nada e ainda que tivessem deviam guarda-la só para si e não andar a divulga-la por essa Internet fora. Uma chatice isto das pessoas insistirem em escrever o que pensam e não deixarem essas coisas do opinanço para quem realmente o sabe fazer. 
Ter opiniões é cada vez mais perigoso. Principalmente quando se expõem num blogue. Apesar de, como é amplamente reconhecido, ninguém ler esses espaços de maledicência. O melhor é o pessoal dedicar-se à farmville e não andar para aí a escrever – nem a falar - do que não sabe.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

E o povo pá?!

A novela em torno do orçamento de Estado para o ano que vem tem-se revelado uma palhaçada. Desconfio, eu que não sou de acusar ninguém, que o autor do enredo será o palhaço-mor, o Zézito, tamanha tem sido a trapalhada armada em redor do documento que, ironia do destino, define as orientações da politica a seguir no próximo ano. A começar pela estranha e fantástica exigência que o seu autor – o governo – faz ao principal partido da oposição – o PSD - para que este, ainda antes de ter a proposta elaborada, diga se a aprova ou rejeita. 
Também a forma escolhida para divulgar as medidas previstas no Orçamento é bastante sui generis. Seria normal que fossem os deputados na Assembleia da República – que, parecendo que não, é o orgão com legítimos poderes para se pronunciar sobre esta matéria – os primeiros a ter conhecimento do seu conteúdo, após apresentação do mesmo ao parlamento. Mas não. Foi-se sabendo aos poucos, pela comunicação social ou por uns bitaites que um ou outro actor secundário ia deixando escapar. 
A história acabará, com toda a probabilidade, na aprovação da proposta do governo. Mais tesourada, menos remendo. Infelizmente para os portugueses. Isto porque, ao contrário da opinião dominante de gente tida como responsável e inteligente, não vejo que viesse grande mal ao mundo se o orçamento fosse chumbado. Pelo contrário. A acreditar que se concretizariam todas as previsões catastróficas que daí – dizem – resultariam, isso seria o que de melhor nos podia acontecer. Talvez assim muitos acreditassem finalmente que não podemos continuar a viver este faz-de-conta que somos ricos e se convencessem que não temos onde cair mortos. A começar pelo palhaço Primeiro.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Eles comem tudo...

Noticiava hoje o matutino portuense Jornal de Noticias, em grande destaque na primeira página, que as Câmaras Municipais estarão “sem dinheiro para refeições escolares”. Continuava o periódico, em subtítulo, a informar os seus leitores que os municípios estão à “beira da ruptura financeira” e que, por isso, a prestação destes serviços aos alunos estará em risco. 
Tal noticia causa-me uma enorme surpresa. Mais do que isso. Deixa-me de pé atrás, a desconfiar que temos aqui marosca e que alguém terá encomendado o sermão. Ou então lá pelo jornal estarão distraídos ou não terão feito o trabalho de casa. Isto porque a forma como a noticia é apresentada – e desenvolvida na edição online - não leva o jornal a interrogar-se acerca das opções que possam existir para debelar as dificuldades que, todos concordarão, muitas autarquias estão a atravessar. Embora, diga-se, por culpa própria ou, se preferirem, de quem as tem dirigido. 
Recorde-se que os municípios recebem, pontualmente ao dia quinze de cada mês, o denominado Fundo Social Municipal que serve para, entre outras coisas, assegurar os serviços de alimentação das criancinhas. De salientar que esta verba não está – nunca esteve – em atraso nem foi objecto de qualquer corte no último PEC. Mas mesmo que, apesar disso, as autarquias sintam algumas dificuldades em honrar todos os compromissos decorrentes do sector da educação é perfeitamente compreensível. O que já não merecerá tanto a compreensão do cidadão com um senso comum dentro dos limites da normalidade é que sejam precisamente estas despesas a estar em risco. Se calhar, digo eu, seria mais óbvio equacionar a realização de festas de natal para os trabalhadores, para os reformados, para os dirigentes municipais e toda uma catrefa de realizações de índole gastronómica que apenas muito raramente tem uma justificação razoável para onerar as depauperadas finanças autárquicas.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Coisas com uma actualidade do caraças!


O mundo mudou. Queixa-se o relativamente engenheiro que, por enquanto, ainda é primeiro ministro. O Partido a que pertence também mudou. Muito. É por isso que muitos portugueses não se importariam de subscrever hoje este apelo que o Partido Socialista fazia aos seus militantes por alturas do Verão quente de mil novecentos e setenta e cinco, na convocatória de mais uma das muitas manifestações que então se faziam. O apelo permanece actual. Vão-se embora. Não estraguem mais.

domingo, 10 de outubro de 2010

Quem foi o javardão que perdeu isto?


Voltemos, por hoje, ao tema que celebrizou este blogue. A merda de cão. Celebrizou é como quem diz, tornou conhecido entre dez ou quinze pessoas que, simpaticamente, o passaram a designar como o blogue da merda de cão ou o blogue do gajo da merda de cão. Entre outras coisas mais ou menos, na sua maioria bastante menos, simpáticas. 
Este vistoso monte de merda, fresco e ainda quase fumegante quando o fotografei, está esparramado a poucos metros da minha porta. Será, portanto, com toda a probabilidade pertencente a alguém que mora na vizinhança. Alguém que não sei quem é mas que certamente terá um elevado nível de instrução, detentor de um gosto cultural refinado fruto de uma superior formação intelectual, mas que denota uma tremenda falta de educação. E de respeito para com os demais cidadãos e, também, para com os seu próprio cãozinho. Se assim não fosse não o deixava circular pelo bairro ao Deus dará - sujeito a ser atropelado ou coisa pior - e passeava-o com a trela recolhendo os excrementos que este fosse largando. Mas não, como é um javardo, não faz nada disso.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Questões (que não se põem) da politica local

Tenho, ao longo dos cinco anos e meio de existência deste blogue, mantido afastado do Kruzes Kanhoto os temas e as polémicas relacionadas com a politica local. Assim continuará a acontecer. Isso não significa que não tenha por ela algum interesse, ou que me demita da condição de cidadão e eleitor relativamente aos problemas da minha terra. Há mesmo questões acerca das quais, se um dia se colocarem, não hesitarei em expressar a minha opinião. Por mais irrelevante ou pouco fundamentada que se revele. 
Vem isto a propósito de algumas opiniões expressas por leitores e/ou paineleiros do jornal “E” desta semana acerca dos habitantes do Bairro das Quintinhas. Nomeadamente quando alguém sugere a construção de bairros sociais pela Câmara Municipal, destinados a alojar essas pessoas. Vá lá que a autora da proposta – que termina perguntando se achamos boa ideia - não se esqueceu do pormenor de mencionar o pagamento de uma renda. 
A resposta é claramente não. Não acho boa ideia. Pelo contrário. Muitissimo bem tem estado todos os executivos camarários que, sem excepção, não embarcaram nessa aventura. Iguais experiências tem sido realizadas noutras localidades com as consequências sobejamente conhecidas e das quais, felizmente, apenas vamos tendo conhecimento pela comunicação social. De resto – e que ninguém tenha dúvidas quanto a isso – Presidente que “dê casinhas” nunca mais ganha eleições em Estremoz. 
Dispondo as agências imobiliárias de uma vasta carteira de imóveis, para venda e arrendamento, não se afigura que haja necessidade de investimento público na área habitacional. Principalmente se tivermos em linha de conta que alguns dos cidadãos em causa dispõem de um parque automóvel muito acima daquilo que é comum entre o cidadão médio, ou que praticam um nível de consumo muito pouco de acordo com as possibilidades de quem possui fracos recursos. Sinais mais do que evidentes que viver ali, naquelas condições, constituirá uma respeitável opção de vida. Nem todos, obviamente, terão o mesmo poder aquisitivo. Mas esses poderão sempre recorrer à segurança social que, como é sabido, também comparticipa nos apoios ao arrendamento. Quanto aos restantes, a solução passará pela construção do quartel da GNR e a conclusão da variante que liga a zona industrial à rotunda do Modelo.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Estudos incompletos

Foi hoje dado amplo destaque à violência que alegadamente – o alegadamente sou eu a dizer porque, ao contrário do habitual, os difusores da noticia não empregaram esta palavra tão em voga no meio jornalístico – é exercida sobre os idosos. O conceito de violência é, no estudo que fundamenta a noticia, bastante lato e engloba no mesmo saco as agressões – cobardes, acrescento eu – de que os mais velhos são vitimas até aos internamentos contra sua vontade, mas muitas vezes inevitáveis, em lares da terceira idade. 
O mesmo estudo identifica como potenciais agressores, nas suas vertentes física e psicológica, familiares próximos e vizinhos da vitima. Deixam os seus autores fora do rol de agressões, no entanto, outras formas de violência não menos negligenciáveis. Ou não será também - a ocorrer -  um acto de extrema violência uma qualquer instituição, dita de solidariedade social, acolher preferencialmente os idosos que se mostrem disponíveis para contribuir com uma generosa doação à instituição ou, sabe-se lá, para quem a dirige? Doação absolutamente voluntária, saliente-se, que jamais alguém sugeriu e que se deve apenas ao espírito altruísta do candidato ao acolhimento. 
E a malta do social, aquela que se diz assistente mas mais valia não desse assistência, não é violenta sobre os idosos que têm o azar de ir parar ao internamento de um qualquer hospital? Após a alta médica esses “profissionais” exercem todo o tipo de pressões sobre as famílias, ainda que estas não tenham condições para o fazer, para que cuidem dos seus familiares em casa mesmo que estes estejam às portas da morte ou fiquem das oito da manhã às oito da noite sozinhos em casa dos filhos. Isso não é violência? 
Gosto de estudos. Muitos deles ensinam-nos coisas. Parvas, quase sempre. Tenho é pena que os estudiosos abordem os problemas pela rama e pretendam publicitar os seus trabalhos através de mensagens-choque, que mexam com as consciências, sem se preocuparem com outras vertentes igualmente importantes. Deve ser de serem jovens.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Os novos inimputáveis

Parece que já são umas largas dezenas os portugueses que se queixam de ver as suas contas bancárias penhoradas pelo fisco de forma ilegal. Isto porque, alegam, dispõem de rendimentos abaixo do limite da penhorabilidade. Obviamente podemos, perante estes casos, estar na presença de irregularidades praticadas pela máquina fiscal, pela banca ou, até, por ambas. Estaremos também, não tenho qualquer motivo para pensar o contrário, a falar de pessoas honestissimas e possuidoras de uma credibilidade acima de qualquer suspeita. Mas estamos igualmente a ser regidos por uma legislação que em matéria de dividas protege claramente o caloteiro, privilegia escandalosamente o aldrabão e deixa totalmente desprotegido quem tem a infeliz ideia de pensar em recuperar os calotes que lhe ferraram. 
Na verdade, por cá, só paga as dividas quem quer ou quem é parvo. Basta ser pobre – e quem ganha o salário mínimo ou pouco mais não pode ser considerado outra coisa – ou fiscalmente pobre, para praticamente se tornar impossível que alguém, graças ao tal limite de penhorabilidade, lhe cobre aquilo que deve. Daí que, graças às leis da República, qualquer um que cumpra estes requisitos, se possa transformar, com a maior das impunidades, um verdadeiro consumista inimputável. 
Tomemos como exemplo alguém que ganhe quinhentos euros mensais. Qualquer um nestas circunstâncias poder contrair na banca, na loja da esquina ou cravar de um incauto e igualmente honesto cidadão, dívidas de largos milhares de euros com a maior tranquilidade. Se quiser nunca pagará um cêntimo sem que daí surjam para si especiais consequências. Na pior das hipóteses, alguns anos e vários créditos depois, verá penhorada a parte do seu vencimento que exceda o salário mínimo nacional. Isto se tiver emprego, porque se estiver desempregado ou simplesmente não lhe apeteça trabalhar, nem isso.
Dir-se-á que a lei visa assegurar as condições minímas de subsistência ao devedor. Será, sem dúvida, um principio louvável. Pena que ao credor – e nem todos os credores são bancos, financeiras ou operadoras de telemóvel – não esteja garantido igual nível de protecção.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ninharias

Tantas vezes aqui expressei a necessidade de, em todas as circunstâncias, o exemplo vir sempre de cima, que não podia deixar passar sem uma referência o facto de a União Europeia, que não se tem cansado de incitar os governos dos Estados membros a baixar os salários aos seus funcionários, proceder também ela a cortes nos vencimentos dos que prestam serviço nas instituições europeias. Corte radical, diga-se, que isto dos exemplos de quanto mais de alto vêm mais exemplares devem ser. Por isso as altas instâncias europeias decidiram reduzir em 0,4% o salário de cada um dos seus trabalhadores. O que se traduz num corte de dez euros, para quem ganha menos e recebe actualmente dois mil e seiscentos euros, ou de setenta e dois para quem está no topo e recebe agora dezoito mil euros... Dá que pensar quando por cá, se rouba cinco vezes mais a quem ganha cinco vezes menos. Coisas.
Entretanto comemorou-se a República. Diz que completou cem anos. Está, portanto, velha. Ainda assim os festejos – em que os intervenientes tinham quase todos cara de enterro e ar de quem estava a fazer um bruto frete – ficaram-nos em dez milhões de euros. Uma ninharia, dirão alguns. Nada de mais, garantirão outros enquanto asseguram que o povo quer é festas. Muito, digo eu, quando se trata de gastar o que não temos. Principalmente com uma velha.

domingo, 3 de outubro de 2010

A fome é, quase sempre, má conselheira...

Um deputado do Partido Socialista – de que outro podia ser?! - terá solicitado a abertura da cantina do parlamento à noite para permitir que os representantes da nação lá possam jantar. Queixa-se o senhor que o vencimento – três mil e setecentos euros, recorde-se – não dá para tudo e que a classe que integra tem sido a principal vitima das medidas de austeridade promovidas pelo governo. Provavelmente sonha com a possibilidade de engolir uma sopinha e degustar um croquete - que à noite convém não encher o bandulho - a preços mais em conta, enquanto se debruça sobre os importantes assuntos da nação. O que só lhe fica bem, pois o exemplo tem de vir de cima e a prestação de mais umas quantas horas de trabalho aliadas à poupança de uns quantos euros na refeição pode contribuir para incentivar outros, deputados ou não, a fazer o mesmo. 
Pena que o homem esteja apenas a ser irónico. Quase tão irónico como Almeida Santos quando, há poucos anos, garantia que sempre que um deputado estendia a mão para chamar um táxi alguém lhe dava uma moeda. Isto para defender a necessidade de aumentar significativamente o vencimento dos políticos. Felizmente desde que se começou a falar de crise este tipo de discurso, que nos pretendia fazer crer na necessidade de termos uma classe politica bem remunerada de forma a atrair os melhores para dirigir os destinos do país, saiu de cena. Os seus protagonistas eram os mesmos, curiosamente ou talvez não, que agora nos pretendem convencer que é inevitável esta politica miserável que nos conduzirá – oxalá esteja errado - à tragédia social e económica. É por estas, e também por outras, que nutro um profundo desprezo por políticos, comentadores e outros analistas da treta que não se cansam de estar errados e que ao contrário de qualquer outra besta tropeçam sempre na mesma pedra.

sábado, 2 de outubro de 2010

Os gloriosos malucos das máquinas gastadoras

Ao que se pode ler em diversas redes sociais a vinda do grupo musical U2 a Portugal terá custado aos cofres da Câmara Municipal de Coimbra, localidade onde se realizam os espectáculos da banda, a simpática quantia de duzentos mil euros. Isto apenas em pagamentos directos, porque os custos com a limpeza da cidade ascenderão a mais trinta mil euros. Ao invés de se mostrar envergonhado com estes valores obscenos, um vereador da autarquia, a fazer fé no que publicou um jornal on-line, terá defendido o investimento – recuso-me a acreditar que o homem tenha usado esta palavra, afinal um autarca não pode ser tão ignorante - frisando que, se assim não fosse, os dois concertos “da melhor banda do mundo” que vão levar à cidade 100 mil pessoas “podiam muito bem-estar em Lisboa ou Madrid”. O que, calculo, teria sido uma tragédia que a Câmara lá do sitio tratou de evitar. 
Estou verdadeiramente estarrecido e com os poucos cabelos que me restam em pé. Nada justifica que uma entidade pública - se fosse privada era lá com eles – assuma o pagamento, seja por si ou através de uma empresa municipal, de uma importância desta grandeza para assegurar a realização de dois espectáculos musicais. Nem o argumento que estas coisas estão decididas há muito tempo e que a crise é só de agora. Digam o que disserem a decisão de assumir uma despesa desta natureza – a confirmarem-se os números postos a circular – ultrapassa em muito o bom senso, o rigor e o equilíbrio que devem estar sempre presentes na gestão do dinheiro que é de todos, com crise ou sem ela, e revela-se perfeitamente consentânea com a loucura generalizada que se verifica no reino da demência em que parecem viver muitos autarcas.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Remédiozinhos


Um pouco por todo o país as farmácias têm estado cheias de gente. Principalmente de pessoas com alguma idade. Ao contrário do que possam pensar os menos atentos aos telejornais e noticiários em geral não se trata de nenhuma epidemia que tenha atacado, em especial, os mais velhos. Trata-se apenas da consequência da entrada em vigor da nova regulamentação que acaba com a gratuitidade de alguns medicamentos quando comprados por idosos. Ao que parece verificar-se-iam abusos na prescrição destes fármacos e que, segundo a própria ministra, estariam a lesar o Estado numa pipa de massa. Nada que surpreenda por aí além porque, como é amplamente reconhecido, não há português que não tente a todo o custo lesar o Estado nem que não reclame contra os poucos recursos que este coloca ao  seu dispor. O que, também, não admira porque a coerência nunca foi o nosso forte. 
Andam, por estes dias, felizes os nossos velhotes. Carregam sacos repletos de medicamentos – à borla ou a preços módicos para eles mas pagos por todos os parvos que pagam impostos – e exibem um sorriso de satisfação por terem tido oportunidade de enganar o malandro do Sócras. Com a esperteza própria de quem já viveu muitos anos, tiveram a lucidez de antecipar a compra dos remédios e assim poupar dois ou três euros. Sempre dá para um maço de tabaco ou para beber um copito no quiosque xungoso. 
Provavelmente muitas das embalagens vendidas nos últimos dias vão, pelas mais variadas razões, acabar no lixo. Algumas por ultrapassagem do prazo de validade. Delas ou de quem as adquiriu.