terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ninharias

Tantas vezes aqui expressei a necessidade de, em todas as circunstâncias, o exemplo vir sempre de cima, que não podia deixar passar sem uma referência o facto de a União Europeia, que não se tem cansado de incitar os governos dos Estados membros a baixar os salários aos seus funcionários, proceder também ela a cortes nos vencimentos dos que prestam serviço nas instituições europeias. Corte radical, diga-se, que isto dos exemplos de quanto mais de alto vêm mais exemplares devem ser. Por isso as altas instâncias europeias decidiram reduzir em 0,4% o salário de cada um dos seus trabalhadores. O que se traduz num corte de dez euros, para quem ganha menos e recebe actualmente dois mil e seiscentos euros, ou de setenta e dois para quem está no topo e recebe agora dezoito mil euros... Dá que pensar quando por cá, se rouba cinco vezes mais a quem ganha cinco vezes menos. Coisas.
Entretanto comemorou-se a República. Diz que completou cem anos. Está, portanto, velha. Ainda assim os festejos – em que os intervenientes tinham quase todos cara de enterro e ar de quem estava a fazer um bruto frete – ficaram-nos em dez milhões de euros. Uma ninharia, dirão alguns. Nada de mais, garantirão outros enquanto asseguram que o povo quer é festas. Muito, digo eu, quando se trata de gastar o que não temos. Principalmente com uma velha.

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