Da mesma forma que a divulgação de escutas, ainda que alegadamente reveladoras de potenciais crimes, não é autorizada sendo até punida criminalmente, também a exibição de imagens de um assalto a uma estação do CTT, pelos vários canais televisivos nos seus espaços noticiosos, não devia ter sucedido. Ocorrem-me razões de vária índole para sustentar o que afirmo. A saber:
- A falta de autorização dos jovens – é assim que agora são conhecidos os meliantes – para a divulgação da sua imagem. Este procedimento, altamente condenável, pode constituir uma violação da sua privacidade e dar azo a que estes interponham uma acção contra quem autorizou a divulgação do filme. De estranhar até que não tenham interposto uma providência cautelar ou, melhor ainda, se tenham apoderado das câmaras antes de abandonar o edifício. Uma coisa assim do tipo acção directa;
- A relativa facilidade com que o trabalhinho foi feito e o êxito da operação podem suscitar o interesse de outros pacatos cidadãos que, por uma ou outra razão, têm ficado privados dos seus meios de subsistência. Sabe-se que, por enquanto, na actividade dita criminal ainda não existe desemprego, embora a existência de cada vez mais pessoas a procurarem esta carreira possa alterar radicalmente esta realidade;
- A tentativa de agressão de que foi alvo um dos intervenientes na operação. Como é perfeitamente visível nas imagens foi atirado um objecto que, a atingi-lo, podia ter colocado em causa a sua integridade física. Este mau exemplo, se seguido por futuras vítimas, pode influenciar o actual equilíbrio de forças e vir a condicionar o desempenho dos técnicos de angariação de bens alheios. O que, principalmente numa altura de crise, não é nada bom. Injustamente esta é ainda uma profissão não reconhecida, com poucos direitos laborais e como os profissionais do sector nem sempre cumprem com as suas obrigações com a segurança social, qualquer acidente em serviço é susceptível de causar sérios prejuízos no rendimento mensal obtido pelo técnico atingido.
Temos, felizmente, uma Justiça sensível a estas questões. Estou, por isso, em crer que em breve serão tomadas medidas sérias que evitem a exposição inqualificável dos "jovens" que, abnegadamente, se dedicam a estas causas. E, já agora, que se identifique o patife que atirou o balde, ou lá o que era, na direcção do profissional que, de forma honesta e briosa, fazia o seu trabalho. Coisas destas não podem ficar impunes sob pena de a justiça cair na rua.