quinta-feira, 31 de maio de 2012

Os porcos do costume


Estremoz, Bairro da Salsinha, dezanove e trinta. Hora local. Embora o sítio pudesse ser qualquer outro e o horário também.
Não tenho grande coisa a acrescentar ao que ando a escrever, ao longo dos sete anos de existência deste blogue, acerca da falta de educação dos que permitem que o seu animal de estimação faça uma javardice destas na via pública. Nem vale a pena gastar a cabeça dos dedos a martelar o teclado. Desta vez faço apenas votos para que o governo não se esqueça que existe neste campo dos animais de companhia um vasto campo para colecta de impostos.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Isto anda tudo ligado


A actualidade noticiosa dos últimos dias tem sido marcada por temas que me causam um nível de irritabilidade capaz de estourar a escala ao melhor e mais sofisticado irritometro. Isto, claro, se os aparelhos de medir a irritação já tivessem sido inventados ou, a existirem, houvesse um por perto.
Por algum motivo que escapa à minha compreensão, os sms do Relvas e doutro personagem obscuro, de quem nem fixei o nome, estão na ordem do dia. Não há telejornal que não dedique pelo menos vinte minutos ao assunto e, vá lá saber-se porquê, parece que isso é o que de mais importante se passa no país. Há, também, umas quantas escutas que poucos querem ouvir, várias investigações a personagens acerca das quais ninguém está interessado em saber seja o que for e até, segundo rezam as crónicas, alegadas ameaças de revelação de dados pessoais de criaturas totalmente desinteressantes.
Depois vem a selecção. Um bando de alarves que um destes dias vai de viagem até à Polónia, para os quais não servem pardieiros como os que vão albergar pobretanas e jogadores de trazer por casa como alemães, holandeses e todos os restantes participantes no Euro. Ficam instalados no hotel mais caro, que isto é um país rico e essa coisa dos sacrifícios não se aplica a craques. Mesmo sem jogarem à bola, afinal – recorde-se – é para isso que lá estão, conseguem ocupar largas horas do espaço televisivo nacional. Os mais atentos às diversas emissões, cálculo, já devem saber tudo acerca de todos os componentes da equipa. Desde a cor das peúgas até à marca do óleo de motor de cada um dos bólides que aquela malta ostenta. Tudo, como se vê, coisa do mais relevante interesse nacional.
No meio de tudo isto nem um pio – uma investigaçãozinha jornalística, vá - acerca das alegadas denuncias do cavalheiro careca posto em prisão domiciliária. Terá dito a criatura que haveria por aí uma espécie de rede, mais ou menos mafiosa, a passar dinheiro por água e que envolveria uns largos milhares de "clientes", entre os quais figurões que ocupam ou já ocuparam lugares de destaque na vida pública.  Se calhar é porque isto anda tudo ligado. Provavelmente mais do que parece.

terça-feira, 29 de maio de 2012

A invasão das lesmas



Várias pragas assolam o meu quintal. Via aérea são, principalmente, melros e pardais. Bandos deles. Apesar de, quanto aos primeiros, constar que estão em extinção e que gozam de um regime qualquer de protecção que torna criminoso que lhes torcer as goelas, a verdade é que, pelo menos por aqui, são mais que muitos. Cada vez mais espertos, também. Não se deixam enganar, se é que me faço entender. Ao contrário dos pardais, estúpidos por natureza, que de vez em quando vão caindo na esparrela de debicar nos locais mais inapropriados.
Mas nem é da passarada que vem a pior ameaça. Pela calada da noite centenas - milhares, quiçá - de lesmas abandonam os seus esconderijos secretos e devoram tudo o que ameaça crescer no quintal. Nada as parece travar. Mas está declarada a guerra. Foram, até agora, usadas várias abordagens ao inimigo. Contudo as imensas baixas infligidas parecem não ser suficientes para o fazer desmobilizar e, por mais estranho que pareça, o seu número não aparenta diminuir nem as consequências dos seus ataques se afiguram menos relevantes.
Preocupado com esta temática procurei encontrar uma solução que me levasse ao extermínio destes criminosos rastejantes. Não a encontrei mas, em contrapartida, deparei-me com comentários de alguns amiguinhos dos animais dignos de realce. Pelo lado da parvoíce, claro. Vejamos estes exemplos:

“Porque mata-las? Não fazem mal a nós.”

“Ah, elas são tão bunitinhas! Me  lembram muitos bichos do fundo do mar... Por que quer vê-las mortas?”

“Solta um peido perto delas '-' “

“Por acaso as lesmas fazem-me muita impressão, e bastantes estragos nas plantas... Mas sou incapaz de as matar...”

“Será que as pessoas só pensam em matar as lesmas? Procurei em vários sites e a única literatura que se acha é como combater esta praga! Será que é mesmo uma praga ou são os Homo sapiens que estão ocupando o lugar de todos os animais no nosso planeta?”

“MATAR LESMAS E CARACÓIS É MALDADE! Já há estudos que comprovam que eles sentem dor, com aparelhos específicos pode-se até ouvi-los gritar de sofrimento, não vejo razão forte o bastante que justifique essa crueldade! Se elas realmente estão atrapalhando, é melhor retirá-las (sem machucá-las) e colocá-las em outro lugar, MAS JAMAIS MATÁ-LAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! que crueldade!!!!!!!!!!
São animais irracionais, não comem pq querem estragar as plantas, mas sofrem tb!!!!!!!!!!!!!!!! também não acho muitos sites que falem de curiosidades sobre caracois e lesmas, a maioria fala de receitas de escargots e métodos para matar esses bichinhos lentos, inocentes e irracionais. COMO PODEM SER TÃO MAUS? MINHA FELICIDADE É SABER QUE UM DIA A VIDA DESSAS PESSOAS TERÁ SUA "RECOMPENSA" POR TEREM UM CORAÇÃO TÃO MALDOSO!”

domingo, 27 de maio de 2012

O que diria a Lagarde se o Rock in Rio fosse em Atenas?!


Vejo, por vezes, o Tribunal de Contas e outras instituições que têm por missão fiscalizar a maneira como a administração pública gasta os recursos do país, tão empenhados em controlar algumas minudências – trocos, na verdadeira acepção da palavra – que me surpreende não terem todos estes órgãos de fiscalização já invadido a Câmara de Lisboa. Vem isto a propósito de uma notícia, divulgada por estes dias, segundo a qual o Município lisboeta terá, alegadamente, isentado a organização do Rock in Rio do pagamento de taxas no valor de três milhões de euros. À semelhança, ao que parece e a confiar no noticiado, dos anos anteriores em que tal evento decorreu na capital.
Bem podem alegar que se trata de um evento de enorme repercussão e com inegável retorno financeiro. Mas, nem por isso, três milhões deixam de ser três milhões. Ainda mais sabendo-se as dificuldades financeiras que a generosa autarquia em causa estará a atravessar. Igualmente não servirá de grande desculpa que, a não ser assim, o festival iria para outro lugar qualquer. Quando muito reflectiria os custos adicionais no preço dos bilhetes, procuraria reduzir os custos do evento ou arranjaria outro esquema qualquer que lhe garantisse o lucro esperado. O que não me parece nada correcto é que, perante a passividade geral, sejam os munícipes de Lisboa e – bem vistas as coisas – de todo o país, a pagar a conta.
Parece existir um certo preconceito, relativamente a certas matérias, quando está em causa o princípio do utilizador pagador. Nas scuts, na saúde, nos transportes ou na educação, não subsistem muitas dúvidas em aplicá-lo. Contudo noutras áreas, como no ramo da cultura e do espectáculo, ai Jesus que não pode ser, vamos lá conceder isenções. Nem que sejam de três milhões. Mas depois os cortes do IMI, a Lei dos compromissos e outras baboseiras é que têm a culpa. O que diria a Lagarde se o Rock in Rio fosse em Atenas?!

sábado, 26 de maio de 2012

O grelhador – fogareiro, vá – da crise.


Como escrevi noutras ocasiões não sou especial admirador de greves, manifestações, nem de outras demonstrações de desagrado mais ou menos ruidosas. Até porque os resultados práticos decorrentes desse tipo de acção de protesto revelam-se, quase sempre, nulos. Quando não, na esmagadora maioria das ocasiões e apuradas as contas, penalizadores para quem os pratica. Prefiro, portanto, outras formas de luta. O boicote é, de todas, a minha preferida. Creio mesmo que, se praticado em larga escala, seria muito mais eficaz do que o folclore promovido em função de determinadas agendas ou patrocinado por gente que quer apenas aparecer nos telejornais.
Há também quem lhe chame poupança mas, convenhamos, não tem a mesma piada. Praticar uma determinada acção acreditando que estamos a boicotar uma intenção de quem nos quer lixar dá um gozo muito maior. Dá outra motivação. Mesmo não sendo um gajo especialmente gastador, comecei esta prática subversiva no dia em que o outro – o que alegadamente foi para Paris – decidiu espoliar-me do abono de família dos dois descendentes. Ganhou, contudo, uma dimensão inusitada desde a noite em que o Parvus Coelho anunciou o assalto aos subsídios de férias e de Natal. Tudo somado, juntando o aumento do IRS, o roubo representa mais de três meses de ordenado.
Não sendo este um blogue de economia doméstica, apenas superficialmente aqui tenho dado conta das medidas de contenção – de ajustamento, digamos – em vigor cá pela maison. Mas têm sido em número significativo. Maior recurso à economia paralela, deslocar-me a pé em vez de o fazer de carro e o cultivo do quintal serão, talvez, as mais comuns. Dispensar os serviços dos profissionais do sector e fazer eu próprio as pinturas cá de casa, com tinta comprada em promoção e paga com o saldo do cartão Continente, pode ter sido a mais rentável. E, já agora, a última: arrumar o grelhador eléctrico e passar a usar este fogareiro. Adquirido, ele também, com o tal cartãozinho. O peixe, esse, é da promoção dos cinquenta por cento do Pingo Doce.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Agua barata só a da chuva. (E mesmo assim é melhor não dar ideias...)


Também o preço da água vai, dentro de pouco tempo, subir consideravelmente. Era de esperar. Afinal num país onde os salários são escandalosamente elevados, provocando por isso níveis de desemprego surpreendentes, é natural que os bens e serviços essenciais tenham, em conformidade, de ser a atirar para o carote. Se assim não fosse a malta nem sabia onde gastar o dinheiro e, às tantas, ainda ficava mais rica e petulante que um europeu mal-encarado do norte da Europa.
O que o pessoal da massa que anda a tentar governar-nos – ou a tentar governar-se à nossa custa, não sei ao certo – não conhece, é a estirpe dos habitantes cá do rectângulo. Um erro muito comum entre os que ao longo da história se têm dado ao trabalho de invadir um país ou subjugar um povo. Tal como aumentar impostos não significa um aumento da receita fiscal, também não é líquido que o aumento do preço da água corresponda a um acréscimo dos proveitos das empresas – ou autarquias – que a vendem. Ou, por tabela, que aumentem as receitas provenientes das infindáveis taxas que pagamos na factura mensal. Pelo contrário. Se já hoje o número de incumpridores atinge proporções alarmantes, no futuro, caso o preço do precioso líquido dispare para os valores que hoje foram anunciados, a fuga ao pagamento irá generalizar-se.  
Quando os preços aumentam o consumo tende a retrair-se. Foi assim com os combustíveis, com a electricidade e será o mesmo com a água. Depois de passar a andar a pé e de fazer tudo às escuras, vamos ter nos adaptar a novos hábitos que proporcionem uma maior acalmia aos contadores. E nem estou a pensar nesses esquemas manhosos que – alegadamente, está bem de ver - se farão por aí e que envolvem a circulação da água à margem dessas traquitanas usadas para medir a que gastamos. Parece-me é que teremos de tomar apenas um banho por semana, lavar a roupa uma vez por mês e esquecer essa mania de lavar a louça. E mesmo assim com água da fonte.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A culpa é dos factores


Acho uma imensa piada aos fulanos que, de forma quase sempre patética, tentam explicar os números que reflectem, nas mais diversas áreas, o que tem vindo a ser a actividade governativa nos últimos anos. Há sempre uns factores – seja lá isso o que for – que são os culpados das medidas que os governam tentam implementar não estarem a resultar. Ou, melhor, resultarem na catástrofe que antes facilmente se adivinhava.
Apesar de parecer evidente que a austeridade que tem vindo a ser seguida em nada melhorou as contas nacionais, não falta quem insista na necessidade de austerizar ainda mais a vida dos portugueses. É disso exemplo a ideia de reduzir de forma drástica o vencimento dos funcionários públicos. Quarenta por cento, já por aí se escreveu. Ou mais, de preferência. Pena, no entanto, a selectividade destes possidónios, para quem a única despesa pública que importa cortar é a que se relaciona com os salários dos trabalhadores. Podiam – digo eu, assim de repente e com a clarividência nitidamente toldada pela irritabilidade que estas opiniões me causam – admitir que haverá muitíssima gordura para eliminar antes de chegar ao bolso de quem trabalha. Basta olhar à nossa volta. Ler os jornais, ver as televisões ou consultar a internet, constitui um excelente exercício para descobrir para onde vai o dinheiro que está a ser roubado aos funcionários públicos. Mas isso dá muito trabalho. E poucos votos, também.