sexta-feira, 31 de maio de 2013

Da frase “não há dinheiro” qual a parte que não percebe?


Esta pergunta, consta, terá sido feita várias vezes, diz que até em reuniões do conselho de ministros, por Victor Gaspar a um ou outro colega de governo quando estes resistiam aos cortes de verbas que o titular da pasta das finanças tentava impor aos seus ministérios. Esta expressão, a par da sua confissão de benfiquista deprimido, foram, assim que me lembre, as únicas ocasiões em que senti uma pequena dose de simpatia pela criatura. Mas, garanto, passou-me depressa. Mesmo sabendo que governar esta pocilga e ser adepto do Glorioso são duas condições muito penosas nos dias que passam. 
O orçamento rectificativo divulgado hoje contribui, ainda mais, para me fazer desconfiar dessa coisa da falta de dinheiro. Ou melhor. Para, também eu, evidenciar uma notória falta de clarividência para descortinar o significado dessa sequência de três palavras tão do agrado do benfiquista Gaspar. É que se a minha compreensão para trabalhar mais uma hora por dia, mesmo ganhando menos, ou para mais um aumento de impostos, apenas para assegurar o nível de benefícios de saúde que já existem, não era muito elevada, agora bateu todos os recordes negativos. 
E isto porque, mais uma vez e como sempre, a falta de dinheiro não é para todos. Para uns, nomeadamente em ano de eleições, vai-se sempre arranjando qualquer coisinha. Não tenho nada contra os autarcas - ou candidatos a isso  - do PSD. Desejo apenas que tenham, nestas e apenas nestas autárquicas, um resultado abaixo de miserável. Ao nível deste governo, portanto. 

terça-feira, 28 de maio de 2013

Isto não pode parar?! Pois não, deve é cumprir o limite de velocidade.

"Gaia não pode parar". É o que escreve no facebook, de forma entusiástica, o candidato do PSD aquela autarquia. O mesmo que exortou os magrebinos, termo depreciativo que a bimbalhada usa para se referir aos portugueses que vivem a sul do Mondego, a curvarem-se perante a vitória do clube de futebol do Porto no campeonato nacional do pontapé na bola. Obtida sem saber ler nem escrever e, inequivocamente, oferecida pelo adversário directo quando já ninguém esperava. Nem eles. Mas isso agora não interessa nada. Nem vem ao caso.
Este tipo de discurso não é novo. Pelo contrário. É coisa recorrente. Mesmo em tempo de crise, quando estamos todos fartos de saber – ainda que alguns se esforcem por ignorar - que não há dinheiro para pagar tanto movimento e que estamos a pagar pelo excesso de velocidade. São muitos os que acham que “isto não pode parar”. Como acontece com o cavalheiro candidato. Mas só quando está em campanha lá pelo norte. Os ares do Magrebe fazem-no mudar radicalmente de opinião e defender exactamente o contrário. Deve ser porque é só no conforto do palácio magrebino que tem tempo de ler o relatório e contas da Câmara a que se candidata e concluir que dois anos inteiros de receita mal chegam para pagar os quase duzentos e dezoito milhões de euros de divida da autarquia a que se propõe presidir.

domingo, 26 de maio de 2013

O Benfica é como o ordenado...


Com esta mania do politicamente correcto quase não se pode, hoje em dia, contar uma anedota, dizer uma piada ou mandar umas larachas sem correr o risco de ofender meio mundo. Nem, pior, de no retorno ser valentemente ofendido, ameaçado ou – o mal menor - alvo da promessa de apresentação de queixa na justiça. A menos que a anedota, a piadola ou o dichote tenha como protagonista um alentejano. Aí a coisa passa a ser encarada como obra do mais fino recorte e o seu autor considerado possuidor de um refinado sentido de humor.
Livre-se alguém de se meter com paneleiros ou fufas. É, de imediato, considerado homofóbico. Seja lá o que for que isso signifique. Com pretos ou ciganos nem pensar. Será logo apelidado de racista. Piadas sobre religião, excepto se for para implicar com padres e freiras, é melhor pensar duas vezes e olhar outras tantas para o lado não vá alguém rebentar com o candidato a piadista. Ou, se sobreviver, não se escapa da acusação de fomentar o ódio religioso. Restam as piadolas sobre futebol. Mas, também nesse campo, é melhor não ir por aí. Despertam uma ira cega e irracional no adepto adversário, pouco compatível com o comportamento de uma pessoa civilizada.
Toda esta gente é incapaz de ter a mesma reacção dos alentejanos perante as anedotas que a toda a hora têm de aturar. Somos, como poucos, capazes de nos rirmos de nós próprios. Isto quando as piadas envolvem apenas a nossa condição de nascidos no Alentejo, porque no resto somos iguais aos outros. É lamentável que seja sobre politica, religião, futebol ou outra coisa qualquer não consigamos todos reagir com o mesmo distanciamento e sentido de humor.
Termino com uma piada do Pinto da Costa. Um individuo que eu, enquanto benfiquista ferrenho, não suporto. Contudo, por mais que as suas indirectas me custem a engolir, a verdade é que o homem às vezes tem piada. A última do gajo é genial. Diz ele que “o Benfica é como o ordenado. Vai-se tudo nos descontos.” Brilhante. Mesmo vindo de onde vem. Mas que, aposto, já deve ter indignado muitos milhões de benfiquistas.

PS - O Benfica perdeu mais um troféu. Mas hoje o problema não foram os descontos. Foi a sobretaxa.

sábado, 25 de maio de 2013

Inevitabilidades


A propósito do post anterior, questiona-me o único visitante que o comentou – o “Jony” -  se eu “ia”. Concluindo de imediato que “ia mas era o tanas”. Referindo-se, presumo, à minha apetência para aceitar um desses trabalhos que não há quem queira fazer. Isto se estivesse no lugar dos desempregados que não aceitam trabalhar na agricultura.
Ainda que ache preferível ganhar pouco e trabalhar muito a não ganhar nada e nada fazer, digo-lhe que, assim de repente, nem desconfio se “ia” ou ficava. Isto apesar de viver numa região onde até há pouco tempo – para aí uns quarenta anos, o que praticamente foi ontem – as pessoas se deslocavam, sazonalmente, para trabalhar fora da sua zona de residência quando por cá não havia trabalho. Recordo-me de famílias inteiras – meus vizinhos, à época – que iam durante semanas para o Ribatejo fazer a apanha do tomate. Ou em sentido inverso, mas disso lembrar-se-à o meu pai, os beirões que vinham para o Alentejo na altura de ceifar as searas.
Isto para dizer que esta realidade que pensávamos ultrapassada não constitui, pelo menos para muitos de nós, uma grande novidade. Convivemos com ela e, quase de certeza, vamos voltar a encontrá-la por aí um destes dias. Se fico satisfeito com esse reencontro? Obviamente que não. E quem me lê com regularidade fará a justiça de o reconhecer. Agora que é uma inevitabilidade para que nos devemos preparar, disso nem vale a pena ter dúvidas.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Não há trabalhadores?! Experimentem pedir colaboradores, pode ser que resulte.


Nos tempos que correm a noticia da falta de mão de obra para trabalhar só pode constituir uma espécie de piada. De mau gosto, no caso. Nem interessa saber onde é o trabalho ou no que consiste. Quando o desemprego atinge os níveis dramáticos que se conhecem, parece pouco razoável que um empregador tenha de recorrer a estrangeiros para ver satisfeitas as suas necessidades laborais.
Trabalhar no campo não é fácil. Ganha-se mal – miseravelmente, reconheço – mas, ainda assim, será seguramente menos mau do que não ter emprego nem dinheiro para sobreviver. Que, também reconheço facilmente, é o máximo que se pode fazer com os ordenados que se praticam na agricultura e noutro sectores pouco exigentes em matéria de qualificações. Embora isso, vendo o que oferecem aos licenciados, seja muito relativo.
Estamos, nalguma parte do sistema, a cometer um erro qualquer. Identificá-lo está, naturalmente, fora da minha órbita de conhecimento. Acabar com todo o tipo de apoios sociais, para obrigar quem deles beneficia a aceitar qualquer tipo de trabalho, não será a solução. Fazê-lo seria criminoso. Mas, quando existem desempregados a “dar com um pau” a mendigar empregos aos presidentes das câmaras e, mesmo ao lado, um empregador não consegue arranjar quem queira trabalhar, também não me parece um coisa muito séria. Por muito que isso custe a uma elite bem pensante e que, como dizia o Jerónimo, sabe “lá o que é vida”.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

1000 maneiras de esturrar o nosso dinheiro


Os disparates, as loucuras ou a simples parvoíce em forma de promessa eleitoral estão surgir por todo o lado, em ritmo cada vez mais acelerado, à medida que as eleições autárquicas se aproximam. Complementando, porque isto não pode parar, o muito que neste âmbito tem vindo a ser feito por este país fora. Até 22 Setembro, a acreditar no sempre bem informado professor Marcelo, iremos ficar a conhecer mil novas maneiras – ou até mesmo mais - de esturrar o nosso dinheiro.
Uma delas - talvez a número um, mas isto nunca se sabe o que esta malta é capaz de prometer – fez um dia destes noticia num jornal diário. Luís Filipe Menezes, o homem que colocou Gaia num dos lugares do topo dos municípios mais endividados e que agora se prepara para promover igual proeza no Porto, teve uma ideia mirabolante. Campo em que, faça-se justiça, o homem é um génio. Desta vez, o candidato à invicta idealizou a construção de um túnel a ligar as duas margens do Douro. Algo, assim por alto, para uns cinquenta e quatro milhões. Uma bagatela, portanto. Para a qual, pasme-se, até já terá realizado uns quantos estudos e elaborado uns esboços.
Tenho aguardado, desde que a noticia foi publicada, por reacções mais ou menos enfurecidas contra esta ideia. Nomeadamente manifestações de protesto, buzinões ou, no mínimo, gente a cantar a “Grândola” onde quer que LFM se desloque. Em vão. Ninguém pia. Devem estar a guardar a indignação para quando chegar a hora de alguém ter de pagar a conta de mais este investimento público.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Os javardolas do poleiro podiam, de vez em quando, ser sérios.


Em nome da alegada sustentabilidade do sistema, anuncia-se mais um ataque ao vencimento dos funcionários públicos e às pensões dos reformados da função pública. Um novo aumento do desconto de trabalhadores e aposentados para a ADSE. Só, e apenas, porque o governo sabe que com esta medida arrecada mais uns cobres enquanto, demagogicamente, vai mantendo vivo, entre a população, o sentimento de aversão a quem trabalha para o Estado. Isso e o espírito de vingança que está presente nas mentes tacanhas daquela gente, ainda com o acórdão do Constitucional por digerir.
Obviamente que não está em causa a viabilidade da ADSE. Como está amplamente demonstrado, este é um sub-sistema que permite ao Estado gastar muitíssimo menos com a saúde dos seus beneficiários do que gastaria se estes optassem pelo SNS. Mas, mesmo admitindo que aquele organismo tenha problemas de viabilidade financeira sem este aumento da contribuição de quem dele beneficia, então o governo que deite mão de outros recursos. Nomeadamente cobrar aquilo que os municípios devem a esta entidade. A titulo de exemplo, só para se ter a noção da dimensão do regabofe que por aí vai, uma Câmara alentejana deverá à ADSE – a acreditar na informação publicada no respectivo site - cerca de um milhão e quatrocentos mil euros. Que o governo, diga-se, não recupera porque não quer. Prefere ir aos bolsos dos do costume. Mas é disto que o povo gosta!

terça-feira, 21 de maio de 2013

Cuidado com o que (com)prometes!


Desconheço se algum candidato, ou candidato a candidato, a um dos muitos lugares de autarca que vão estar em disputa nos trezentos e oito municípios e mais de três mil freguesias é leitor do Kruzes. Se o for ainda bem. Vou, em jeito de serviço público, lembrar um pequeno detalhe – uma insignificância, quase – que dá pelo nome de Lei dos Compromissos e Pagamentos em Atraso e que todos eles deverão ter em conta na altura, que deve estar quase a chegar, de preparar o programa eleitoral.
Diz a dita lei – a 8/2012, de 21 de Fevereiro – que as entidades públicas “não podem assumir compromissos que excedam os fundos disponíveis”. Ou seja, de forma resumida, que não possam pagar nos noventa dias seguintes. Titulares de cargos políticos ou dirigentes responsáveis pela contabilidade das organizações que o façam incorrem em “responsabilidade civil, criminal, disciplinar e financeira, sancionatória e ou reintegratória”. Estarão, portanto, a cometer um crime pelo qual, mais tarde ou mais cedo, serão chamados a prestar contas. Para os mais cépticos quanto à necessidade de dar cumprimento a estas normas recordo que o Isaltino continua preso e que o Tribunal de Contas vai, de vez em quando, aplicando umas multazitas.
Nestas circunstâncias mandará a prudência uma certa contenção acerca daquilo que se vai prometer. O mesmo se deve também dizer quanto ao que podemos e devemos – nós, os eleitores – exigir aos que se vão apresentar como candidatos a governar em nosso nome. Daí que era capaz de não ser má ideia revelar um pouco mais de contenção na hora de reclamar o subsidio, o passeio, as festarolas, o emprego para o filho ou a obra faraónica igual à do concelho vizinho. Para o bem de todos. Porque os compromissos deles somos nós que os pagamos.


segunda-feira, 20 de maio de 2013

FDP (Fidalgo, desleixado e poluidor)


Andava há meses para fotografar este chaço. Calhou hoje. Lamentável apenas o ângulo não ser o melhor e existir outro veículo pelo meio. Questiono-me acerca da possibilidade de uma viatura nestas circunstâncias passar na inspecção. Ou, se não tiver passado, dos motivos porque não foi ainda interceptado pelas autoridades com competências em matéria de trânsito e ambiente. Até porque, recorde-se, a GNR tem uma brigada especialmente dedicada – e, a julgar por outros casos, particularmente atenta – às questões ambientais.
Não me interessa se o individuo em questão tem ou não dinheiro para ter outro carro. Se não tiver que ande a pé. Ou a cavalo, como faz de vez em quando. Sempre polui menos. Agora andar impunemente a envenenar os transeuntes é que me parece muitíssimo mal. E NÃO HÁ NINGUÉM QUE TRATE DISTO, PORRA?! 


domingo, 19 de maio de 2013

Cagadela monumental


Este vistoso monte de merda, de proporções épicas de que a foto não transmite a real dimensão, podia ser contemplado hoje pela manhã na Urbanização do Monte da Razão, em Estremoz. O autor desta proeza será, presumo, este mastim preto propriedade de um morador na vizinha Quinta das Oliveiras, vulgarmente conhecida como Urbanização dos Currais. Trata-se de um cão de enorme porte, gordo como um texugo e com alguma dificuldade de locomoção, pelo que só é visto nas imediações quando se trata de arrear o calhau. Coisa que faz diariamente nas artérias circundantes mas sempre a uma razoável distância da casa da família. É esperto o bicho. Diria até que o que sobra em inteligência ao animal falta em civismo aos donos. 

Há fronteiras e fronteiras


Há fronteiras, ficámos um dia destes a saber, que Paulo Portas não transpõe. Para um ministro dos negócios estrangeiros a analogia não seria a mais feliz não se desse o caso das fronteiras que se recusa a transpor não fossem poucas. Apenas uma. A que imporia – ou imporá, sabe-se lá – um corte nas reformas da segurança social. Porque outras fronteiras, as que vão diminuir vencimentos ou baixar pensões aos aposentados da função pública, essas, ele salta com a maior das descontracções.
Sabe-se que o líder centrista gosta de reformados. Tendência que nem me atrevo a criticar. Até porque, enfim, isso é lá com ele. Lamento é que faça discriminações entre reformados de um ou de outro regime. Ou, igualmente deplorável, que não goste de quem trabalha para o Estado. Podia, digo eu, discriminar em função do tamanho. Do ordenado. Mas não. Para ele o tamanho não importa. Tudo lhe serve. Para cortar.

sábado, 18 de maio de 2013

Não havia nada mais importante para tratar lá pelo parlamento...


Sabe-se desde há muito – se calhar desde sempre – que a resolução dos problemas do país – de todos os países, talvez – raramente ocupa os primeiros lugares da agenda politica. À cabeça das prioridades, seja de quem está no poleiro seja dos que aspiram a ir para lá, está sempre o eleitor. E isso até nem seria necessariamente mau se cada eleitor se sentisse e fosse tratado como um contribuinte e cada cidadão tivesse, também ele, a consciência que é o seu dinheiro que financia as ambições pessoais e as brincadeiras dos políticos. Mas não. Não é isso que acontece. Nem era preciso as últimas sondagens darem como certo o regresso do Partido Socialista ao poder para sabermos isso. Basta a vivência do dia a dia.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Poupar, um verbo de difícil conjugação.


Poupança não é uma palavra que rime com autarca. Principalmente em ano de eleições. Ainda assim, porque as excepções confirmam a regra, numa ou noutra localidade é possível encontrar sinais de que a autarquia lá do sitio estará a fazer um esforço no sentido de gastar um pouco menos. E, nalguns aspectos, nem é necessário possuir uma elevada dose de genialidade para implementar soluções que permitem poupar muito dinheiro. O caso da iluminação pública é um dos mais evidentes. Manter acesos pontos de luz, todos seguidos, em locais onde durante a noite ninguém passa não é, seguramente, das ideias mais brilhantes. 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Xicos-espertos

Se não está tudo louco deve andar lá perto. Ou, então, ainda são mais incompetentes do que aquilo que se pode supor. E o que se supõe, já de si, não é pouco. Isto a propósito do que a Unidade Técnica de Apoio Orçamental diz acerca das últimas medidas tomadas pelo governo no âmbito da suposta consolidação das contas públicas. É que, segundo a UTAO, “os valores de algumas das medidas não se encontram líquidos dos respectivos impactos de redução de receita fiscal e contributiva, nem consideram as despesas acrescidas com os custos das indemnizações por rescisão”.
Nada, a bem-dizer, de muito surpreendente. Afinal quando do corte dos subsídios de férias e Natal fizeram exactamente a mesma coisa. À loucura e incompetência referidas acima junto uma terceira e, admito, mais provável hipótese. Que, bem visto, até entronca nas outras duas. A ideia será enganar a troika. Fazê-los acreditar que cumprimos o que nos impõem sem, na verdade, o fazer. Ou, dito de outra forma, tentando adiar o mais possível a inevitabilidade de passar a tal fronteira. Xico-espertismo tuga ao mais alto nível, é o que é.

terça-feira, 14 de maio de 2013

As ervilhas da crise


Ao contrário do que inicialmente se perspectivava, a sementeira de ervilhas revelou-se um sucesso. A ameaça da passarada, primeiro, a muita erva que, depois, tomou conta do espaço e a impossibilidade de tratar o mesmo por causa das agruras do clima, não auguravam nada de bom. Isto para não mencionar a inexperiência e a falta de “queda” para a agricultura. Dois atributos, em mim, mais que evidentes.
A imagem documenta o resultado da segunda colheita. A primeira foi ligeiramente mais modesta e a próxima, que será simultaneamente a última, também não deverá atingir este nível. Ainda assim o número de bolinhas verdes armazenado cá em casa deve ser suficiente para servir de ingrediente a umas quantas refeições. Tudo sem qualquer produto químico, claro está. 

sábado, 11 de maio de 2013

Convergências


Convergência. Tem sido, ultimamente, uma palavra muito utilizada sempre que o governo pretende justificar mais um corte nos funcionários públicos. Aposentados ou não. Que os regimes de trabalho, no privado ou no Estado, tendam a convergir – naquilo onde tal é possível, atentas as especificidades de cada um – não me parece criticável. Que as pensões, pagas pela Segurança social ou pela Caixa de Aposentações, tenham um regime idêntico parece, também, algo que se afigura como sendo do mais elementar senso comum.
O pior é que as coisas não são tão lineares quanto os javardolas que governam a espelunca nos querem fazer crer. Relativamente aos valores das reformas, mais altas no público do que no privado, convém não esquecer que os funcionários públicos aposentados – e os actuais, também - descontaram onze por cento do seu vencimento para garantir a aposentação. O mesmo não se pode dizer dos privados. É que, convém não esquecer, a actual TSU resultou da fusão dos descontos para a Caixa de Previdência e Fundo de Desemprego. Ou seja, os onze por cento que também descontam ao vencimento não são na totalidade para a reforma, dado que incorporam uma parte que se destina a subsidiar o seu eventual desemprego. Pretender, agora, tratar de forma igual percursos contributivos tão diferentes parece-me algo que converge muito pouco com a legalidade.
O mesmo se pode afirmar quanto aos ordenados. Há muito que se anuncia uma nova tabela salarial que tenda a, alegadamente, aproximar os vencimentos entre os sectores público e privado. Esta intenção tem, como é óbvio, merecido os mais amplos elogios daqueles que vêem em cada funcionário público um privilegiado a quem devem ser retirados todos os direitos. Inclusive o de existir. Por mim, tenho dúvidas quanto a mais esta convergência. Por um lado lamento que não se tenham lembrado dela quando, ainda não há assim tanto tempo, um pedreiro ganhava cinquenta ou sessenta euros por dia no privado, enquanto idêntico profissional no Estado não auferia mais de quinhentos euros por mês. Por outro, mantenho alguma expectativa relativamente ao que vai suceder a arquitectos, engenheiros e outros licenciados, a quem o sector privado oferece, conforme se pode ver nas mais variadas ofertas de emprego, o salário mínimo nacional e o Estado paga mais de dois mil euros por mês...

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Grilo guloso


Não sou especialista em insectos. Nem, tão pouco, na nobre arte da doçaria. A bem dizer não sou especialista em coisa nenhuma. A sê-lo – e à velocidade a que o governo contrata especialistas em qualquer coisa – já estaria a exercer funções na área da especialidade de lixar os portugueses. Mas isso agora não interessa nada. Até porque não vem ao caso. O caso é que, não sendo eu um entomologista, não tenho a certeza quanto à espécie de insecto que se delicia com os bolos de magnifico aspecto com que me deparei um dia destes. Assim de repente parece um grilo. Um grilo guloso, portanto.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

As favas da crise



Desconheço se, ao contrário do que acontece relativamente a outros itens, no que a favas diz respeito o tamanho é igualmente importante. A sê-lo, estes exemplares, acabados de colher no quintal cá de casa, parecem-me capazes de satisfazer o mais exigente dos apreciadores. Digo eu, que não gosto de favas. 

terça-feira, 7 de maio de 2013

O dedo que não é para aqui chamado


Não se trata de uma lesão incapacitante. Nem, excepto nos momentos seguintes à sua ocorrência, especialmente dolorosa. Apenas ligeiramente arreliadora. A bem dizer nem se trata de uma lesão. Quando muito uma pequena e insignificante queimadura que não está a causar arrelias de maior. Foi no que deu colocar o dedo em contacto com uma zona quente. Muito quente. O motor da motosserra. A árvore, coitada, ficou muito pior. 

Bicicleta almofadada



Não é novidade para ninguém que a bicicleta constitui uma excelente alternativa para deslocações curtas. Dentro ou fora da cidade. Era assim que, antes de todos termos ficado com a mania que éramos ricos, quase toda a gente se deslocava para o trabalho. Hoje, embora por outras razões, volta a estar na moda. Mesmo para aqueles que se queixam dos incómodos causados pelo assento pouco confortável que equipa qualquer velocípede mais rasca. Mas, como aqui se demonstra, há sempre a possibilidade de recorrer a uma almofada para proteger um rabiosque mais sensível!

domingo, 5 de maio de 2013

Anda por aí uma gatunagem...(II)




Após longos anos a meter dó o coreto cá da cidade foi, no ano passado, devidamente restaurado. Ao contrário do que, quase de certeza, aconteceria noutro local mais “evoluído” continua limpinho, limpinho. Não ostenta os horríveis grafites nem pichagens de outra natureza que, infelizmente, é comum encontrar noutras paragens e que alguns parvos apelidam de arte urbana.
A intensa procura por materiais metálicos está, no entanto, a ameaçar este equipamento. Parte dos parafusos que fixam o portão já foram retirados e a breve prazo o mais certo é ir o resto. Sem que, convenhamos, se possa fazer grande coisa para o impedir. Travar este tipo de crime é tarefa quase impossível e a única forma de o mitigar será a substituição dos elementos furtados por outros que não despertem a cobiça da gatunagem. O que nem sempre será fácil, barato ou, sequer, viável.
Não faltará quem relacione esta actividade – ou outras – com a actual crise. Até pode ser. Tenho, contudo, certa dificuldade em aceitar que o gamanço destas coisas sirva no essencial para alimentar alguém ou que, quem rouba, não tivesse alternativa para arranjar comida. O problema talvez resida antes no facto de termos duas gerações de pobres – a dos pais e a dos filhos – habituadas a dinheiro fácil que agora, de repente, lhes dizem que não há. Mas, independentemente das causas ou das motivações, o que surpreende é não ver por aí surgirem empresas metalúrgicas a produzir enxadas, pás e forquilhas. Talvez seja por, digo eu, arranjar a matéria prima ser muito mais apetecível do que utilizar o produto acabado.

sábado, 4 de maio de 2013

Corta, corta!


A montanha pariu um rato. Pouco mais do que isso me ocorre depois de ouvir o discurso de Parvus Coelho e o anúncio de um conjunto de medidas que, mais uma vez como o tempo se encarregará de demonstrar, de muito pouco servirão para endireitar as contas do país. Não diminui o número de deputados, não se reduz o número de cargos políticos, não se estabelecem limites à contratação de assessores nem, sequer, se estabelece a proibição de contratação externa ao nível de empresas de trabalho temporário, consultadoria e outras aquisições de serviços. Juntos, todos estes itens oneram muitíssimo mais os cofres públicos do que os vencimentos dos funcionários públicos que pretendem pôr no olho da rua.
Nem tudo, no entanto, me parece mal de todo. As mexidas no horário de trabalho e no regime de férias da função pública, por exemplo, só pecam por tardias. Devia ter sido exactamente por aqui que se devia ter começado. Igualmente a intenção de mexer nos suplementos remuneratórios se afigura como da mais elementar justiça. Há, de facto, de acabar com privilégios absurdos. Nomeadamente o suplemento de trinta por cento que, a titulo de despesas de representação, acresce ao vencimentos dos titulares de cargos políticos e dirigentes da administração pública.  A não ser assim mais vale que lhes cortemos o pescoço.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Prazo médio de pagamento dos municipios


Embora não constitua, pela maneira como é calculado, um indicador com um elevado grau de exactidão, o prazo médio de pagamento divulgado pela DGAL não deixa de constituir um elemento de referência quando se pretende analisar a relação de um município com os seus credores e a partir do qual se podem tirar ilações quanto à forma como as autarquias são governadas.
Cinco, entre os trezentos e oito municípios portugueses, segundo os dados divulgados demoram mais de mil e duzentos dias a pagar aos fornecedores. É obra. E muito tempo, também. Entre as câmaras do distrito, Évora lidera - com o décimo segundo lugar a nível nacional - o ranking das más pagadoras com um PMP de quinhentos e quarenta e um dias. Seguem-se, no que diz respeito ao distrito, os municípios de Borba e Alandroal num nada honroso vigésimo quinto e vigésimo sexto lugar na tabela dos pouco cumpridores a nível nacional. O atraso no cumprimento da obrigação de pagar é de, respectivamente, trezentos e oitenta e trezentos e setenta e sete dias.
No lado oposto da lista, aqueles que cumprem a tempo e horas, estão setenta e três municípios que pagam aos seu fornecedores a menos de trinta dias. Entre eles contam-se cinco autarquias do distrito de Évora. São elas Arraiolos, Mora, Portel, Redondo e Viana do Alentejo.
Normalmente quando se fala, seja governo ou oposição, em politicas de crescimento, apoio às empresas e combate ao desemprego, a solução envolve sempre esturrar mais dinheiro. Provavelmente, digo eu que não percebo nada disto, não era preciso. Bastava obrigar toda a gente a proceder como estes autarcas e a cumprir as obrigações que assume no prazo acordado. Talvez não houvesse tanta empresa a fechar, nem tantos portugueses sem trabalho. Mas isso, se calhar, não dá votos.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Nem o que tu queres...


Compreendo o anarca anti-fascista borrador de paredes – javardola, por assim dizer – que passou por aqui. Também não nutro especial apreço por divindades, o sentimento patriótico não me atinge com particular intensidade e não gosto por aí além de patrões.
Apesar da manifesta compreensão relativamente à mensagem, recuso-me a admitir a mais pequena afinidade com o mensageiro. Logo porque essa coisa da anarquia soa-me assim um bocado a atirar para o parvo. Depois porque desconfio dos que sentem necessidade de andar a proclamar que são anti-fascistas. Nomeadamente porque sei o que fizeram – e o mais que pretendiam fazer – quando o fascismo acabou.