O
patriotismo evidenciado pelos portugueses desde que a Moody's
considerou a divida lusa como lixo é deveras enternecedor.
Comovente, até. A maioria de nós descobriu, assim de repente e sem
que nada o fizesse prever, uma repentina paixão patriótica. Quase
tão intensa como naquele longínquo Verão de 2004 em enfeitámos
tudo e mais alguma coisa com bandeirinhas nacionais. Daquelas
compradas nas lojas dos chineses.
Apesar
de achar alguma piada às tentativas de chatear os gajos da Moody's –
ao ponto de também ter acedido e feito refresh inúmeras vezes no
site da organização - e admitindo que as agências de notação até
podem ser uns chatos do caraças, insisto, tal como escrevi aqui, que
a culpa é quase exclusivamente nossa. Ninguém nos obrigou a pedir
dinheiro emprestado. Nem, ainda menos, a não regularizar
atempadamente os nossos compromissos. Só em processos de acção
executiva a aguardar cobrança admite-se que estarão mais de vinte
mil milhões de euros. Sensivelmente um terço da chamada ajuda
externa recentemente negociada. Coisa pouca, portanto.
Admito
que, sem a quantidade astronómica de dinheiro que nas últimas
décadas desaguou no país, a nossa vida não seria a mesma coisa.
Provavelmente não teríamos auto-estradas onde passam quase tantos
veículos quantos os passageiros que embarcam ou desembarcam no
aeroporto de Beja. Não haveria um campo de futebol relvado em cada
aldeia e o Tony Carreira, certamente, daria menos concertos. Não
teria sido construído um parque habitacional suficiente para
acomodar vinte cinco milhões de habitantes nem, quase de certeza,
veríamos qualquer gaiato ranhoso com o pai desempregado e a mãe no
rendimento mínimo a manusear um telemóvel de última geração. Não
era, de facto, a mesma coisa. Mas, se calhar, não era pior.
também fico eternecido, ainda há poucos meses elegemos um Presidente da República que achava - achava!... - que não devíamos melindar os mercados e, mais recentemente, demos um cheque em branco a um governo de maioria que tem como receita a fome para acalmar o canibalismo dos mercados.
ResponderEliminarExcelente reflexão e um abraço tão duradouro como a crise
Pois ... e o Porto não ganharia tantos campeonatos, o que era óptimo para os meus fígados!
ResponderEliminarEu descobri que afinal o povo gosta da forma como o Estado tem sido gerido e está felicíssimo com a carga de impostos que paga. Há coisas fantásticas, não há?
ResponderEliminarInteiramente de acordo!
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