Provavelmente
serei dos poucos que não embarcam nessa nova moda nacional de dizer
mal das agências de rating, que de repente transformou cada
português num auto-proclamado especialista em análise de risco de
investimento. Até porque “lixo” ainda não me parece
suficientemente grave. Por mim apenas vou ficar aborrecido – mas
mesmo assim só um bocadinho - quando a divida nacional for
classificada como ”merda de cão”. Grau que, por este andar, não
demorará a atingir.
Não
sei se as tais agências erram ou não muitas vezes nas apreciações
que fazem. Desconfio que não. Se assim fosse, se calhar, já não
tinham clientes. A menos que a estes perder dinheiro desse um
especial gozo. É verdade que falharam redondamente quando
recomendavam como bom negócio o tal banco que faliu lá para as
Américas mas, que diabo, de gente que se engana de forma ainda mais
redonda estamos todos nós mais que fartos.
Assim,
de repente, nada me ocorre que possa ter causado tanta perplexidade
na classificação da divida portuguesa como lixo financeiro. Isto,
mal comparado, é como se eu for todos os meses ao banco pedir um
empréstimo para manter o nível de vida a que estou habituado e,
simultaneamente, o meu rendimento mensal não parar de ficar cada
vez mais reduzido. Nestas circunstancias será perfeitamente normal
que o fulano do banco – provavelmente um rapazola, escondido atrás
de um computador e, quase de certeza, com ar de fuinha – comece a
desconfiar da minha capacidade de cumprir com o pagamento e, às
tantas, é gajo para me considerar um cliente de alto risco.
Nada
disto acontecia se não recorrêssemos sistematicamente ao crédito e
nos limitássemos a viver à medida da nossa capacidade de gerar
riqueza. Ou, dito de outra maneira, não quiséssemos armar naquilo
que não temos dinheiro para ser. Aí estaríamos-nos nas tintas para
as tais agências, podíamos mandar os mercados dar uma volta e rir
na cara dos especuladores. Mas não. Nós somos mesmo assim. Não
gostamos é de ouvir a verdade.
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