segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A "coragem" da velha carcaça

Não gosto da obra de José Saramago. Tentei lê-lo muito antes de se imaginar que o homem pudesse um dia ser laureado com um Nobel e, confesso, desisti. Também não gosto de o ouvir falar. Embora, felizmente, as suas aparições televisivas sejam raras, o homem tem por hábito despejar um chorrilho de disparates que, não sendo de estranhar em pessoas da sua idade, não parecem próprios de alguém que tem um certo prestígio a salvaguardar.
Gostei, no entanto, das declarações que o dito escritor proferiu ontem em Penafiel por ocasião do lançamento do seu último livro. Não porque conheça a Bíblia, foi livro que nunca me despertou qualquer tipo de curiosidade, mas sim pela frontalidade, descaramento vá, com que Saramago se referiu à religião e à escravatura do homem perante um suposto Deus que um dia alguém se lembrou de inventar. Pode tê-lo dito de forma arrogante e apenas com a intenção de promover a sua obra através da criação de um polémica artificial mas, apesar disso, foi, quanto a mim, uma daquelas verdades inconvenientes que alguém tinha de dizer. 
Pena que a dose de coragem evidenciada pelo ex-director de um matutino da capital - tão aplaudida por uma certa esquerda de discurso cada vez mais parecido com o das beatas que muitas vezes pretende ridicularizar – não tenha chegado para condenar mais uns quantos livros ditos sagrados e umas quantas religiões dessas muito em voga e com aspirações a controlar o mundo. Quem considera a Bíblia um manual de maus costumes não hesitará, certamente, em considerar o Corão como um almanaque do terrorismo. A menos que seja cobarde e tenha medo que os profetas da religião da paz lhe rebentem com a carcaça. 

6 comentários:

  1. Caro Kruzes, e demais leitores, também eu tentei ler Saramago muito antes de se imaginar que o homem pudesse um dia ser laureado com um Nobel e, confesso também desisti, muito concretamente de ler "Memorial do Convento".
    Mas um dia li: "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", outro o Ensaio sobre a Lucidez" e outro O "Ensaio sobre a Cegueira". E depois, confesso que não me interessa quem escreveu mas o que se escreveu. E o que José Saramago escreveu, pelo menos nestas três obras que refiro, é de um valor enorme pela frontalidade com que coloca preto no branco a realidade porca da "merda de cão" da sociedade em que vivemos.
    Mais do que o homem interessa-me a obra. E a obra de José Saramago contribui para despertar consciências neste nosso país à beira mar plantado.
    Vou ler o seu último livro "Caim" e pela polémica que já está instalada o mesmo promete.
    "Não é que este livro seja mal comportado, mas é, sem dúvida uma insurreição, um apelo a que todos se animem a procurar ver o que está do outro lado das coisas", afirmou o escritor.
    Uma boa oportunidade para procurarmos ver o que está por exemplo do outro lado da recondução como primeiro ministro de Pinto de Sousa e outras coisas mais.

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  2. É verdade que custa ler 1 "Saramago" no inicio de cada livro, até porque o homem mastiga e mastiga, mas lá diz as coisas usando metaforas e brincando com "coisas sérias"...
    Quem leu o Momorial do Convento adora a personagem da Blimunda!
    Ele é polémico, mas tem piada, tem humor e goza literalmente com a religião católica apostolica romana e toda a envolvência e inerência.
    O escritor José Saramago, tem idade e estatudo (lareado etc.) para dizer aquilo que bem entender, e, se der polémica, melhor ainda! Vai resultar publicidade e aumentar as vendas!
    Sou bem capaz de comprar o Caim...
    KK faça um esforcinho e leia 1 Saramago, que depois do 2 capitulo já passa a ter sentido e muita piada...
    MFCC

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  3. Eu Gosto de Saramago o primeiro livro que li foi " Levantado do chão" e adorei, de seguida li "O Evangelho" e adorei, li "o ensaio sobre a cegueira" e "o ensaio sobre a lucidez" gostei mais do 1º e li há pouco "o homem duplicado" tambem muito bom, realmente não me considero muito inteligente ou sobredotado, mas são livros como outros que se a história te chamar a atenção são os teu livros, e gostas pura e simplesmente e a sua leitura torna-se acessivel porque estas a gostar , não vejo qual é o problema da escrita do homem sinceramente só se á partida já forem naquela do que houvem por fora , "Ah e tal não tem pontuação" e...não percebo, "Ah e tal è chato tem muitas letras" e... não percebo " Ah e tal o gajo é de esquerda" e... hum... aí já percebo.... lol

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  4. Eu tenho opiniões diversas sobre as obras de Saramago. A primeira que li - o Memorial do Convento - cativou-me particularmente, facto que no meu caso constitui uma excepção no género literário. De facto, um dos pré-requisitos para que uma obra literária me entusiasme é a verosimilhança, característica que o Memorial não tem e que ainda assim me transportou para um mundo de imaginário por regra incompatível com a minha personalidade.
    Já quando li (tentei ler) o Ano da Morte de Ricardo Reis e acompanhei o dito Ricardo Reis na subida da Rua do Alecrim cansei-me rapidamente. Quando cheguei ao Camões virei à direita e fui direito ao Chiado enquanto o Ricardo Reis continuou a sua fastidiosa subida.
    A minha 3.ª leitura de Saramago foi o Evangelho Segundo Jesus Cristo. À partida a obra parecia ter os ingredientes necessários a despertar-me o interesse (a vertente histórica e, por outro lado, a minha natural resistência a considerar a Bíblia uma boa conselheira). Mas não! Não sei se na altura não estava para aí virado, mas também não tive pachorra para ler o resto.
    E é assim, em relação a Saramago registo sentimentos contraditórios, nomeadamente de admiração e de saturação.

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  5. saramago foi uma descoberta tardia e maravilhosa em mim.
    sabes, passa-se comigo o mesmo que contigo em relação à agustina, ainda nao tive um clike que me permitisse ler-lhe as sábias palavras :(
    experimentarás mais tarde e vais ver que vale a pena lê-lo :)

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  6. Ganda desafio esse, o que propões a Saramago! lol

    Mesmo que ele passe por aqui, não o ousará. É que a coragem da velha carcaça também tem limites.

    Eu ápenas acho que é um misto de chechezice e vontade de vender o livro :)

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