sexta-feira, 8 de julho de 2011

"Portantos, ainda hadem vir mais!"


Um homem muda de mulher, de partido, de opinião, de religião e, alguns, até de sexo. No entanto, por uma qualquer deficiência de fabrico que a ciência se revela incapaz de explicar, não consegue mudar de clube. Algures durante o processo de crescimento torna-se adepto de uma agremiação desportiva e, queira ou não, nunca mais se livra dessa paixão. O que é pena.
Por mim, benfiquista desde sempre, nomeadamente do tempo em que não era dado a estrangeiros o privilégio de vestir a camisola do glorioso, é particularmente doloroso ver aquilo em que se está a tornar o maior clube português. Despedem-se os jogadores que ainda constituíam as poucas e vagas referências e mandam-se vir charters de pseudo-craques do outro lado do Atlântico. Quase sempre de qualidade inversamente proporcional ao dinheiro que custam.
Nem sei – e para dizer a verdade prefiro nem saber – se, entre as largas de artistas do pontapé na bola, haverá por lá meia dúzia que tenha nascido cá pelo rectângulo. Provavelmente esta obsessão do treinador por gente de fora e a pressa que manifesta em despachar os poucos portugueses, terá a ver, mais do que com opções técnico-tácticas, com a pouca vontade de ter no balneário jogadores que não conseguem evitar um sorriso trocista quando o ouvem falar. Consta que o homem prefere os estrangeiros porque, pelo menos ao principio, não se apercebem das suas constantes calinadas.
O meu benfiquismo passou incólume por catorze anos sem títulos. Suportei estoicamente goleadas de cinco ou sete golos e outras humilhações igualmente penosas. Receio, contudo, que fique abalado por esta pré-época. E um sinal preocupante que isto pode estar a acontecer é quando dou por mim a fazer zapping logo que, nos telejornais, surgem noticias do Glorioso. Exactamente o mesmo que faço quando os noticiários se referem a Andrades e Lagartos. Terei de certeza, lamento pensá-lo e ainda mais escrevê-lo, alguma dificuldade em vibrar com uma equipa que se apresentará no relvado sem jogadores portugueses. Coisa que não se vê nem na Roménia ou em Chipre.

2 comentários:

  1. é por isso que não gosto de futebol, porque deitam fora a prata da casa e clubes portugueses? só o nome. Para não falar dos meandros da bola de milhões...

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  2. Estamos a ir de mal a pior!
    Estamos absolutamente descaracterizados.

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