Pretende o governo, por imposição da troika e – quase de certeza –
de alguns fundamentalistas, reduzir em tempo recorde o montante da divida
pública e, bem assim, a quantidade de dias – que é como quem diz meses ou anos –
que um fornecedor tem de esperar para receber o dinheiro do bem que vendeu, ou
serviço que prestou, ao Estado ou a qualquer outra entidade pública. Para
atingir tal desiderato tratou de aprovar a chamada lei dos compromissos e
pagamentos em atraso, em vigor há coisa de vinte dias, com a qual pretende que
os organismos oficiais apenas adquiram bens, serviços, façam obras ou atribuam subsídios
se, para tal, tiverem dinheiro suficiente para pagar nos noventa dias
seguintes.
A ideia, assim à primeira vista, até parece boa. É, no fundo,
aquilo que qualquer pessoa precavida faz no dia-a-dia. O problema é que os
portugueses, quer os que governam quer os que são governados, não são pessoas
prudentes quando toca a gastar dinheiro nem nutrem particular simpatia por políticos
que apliquem com rigor o dinheiro público. Pior. Durante muitos anos gastou-se
sem rei nem roque e agora, assim de repente, querem que tudo mude e toda a
gente fique poupada. Quem sempre gastou o que não tinha vai perder o “brinquedo”
e, como se compreende, fica chateado. Para todos – ou quase todos – vai ser uma
tragédia. Daquelas que, mais tarde ou mais cedo, vamos descobrir não acontecem
apenas aos outros.
Tal como previ no post escrito no dia em que a lei começou a ser
aplicada, começamos a assistir a situações que, por enquanto, ainda não se
podem classificar de dramáticas mas que podemos – simpaticamente – considerar aborrecidas.
Como, por exemplo, na área da saúde. Diz que em algumas unidades hospitalares começará
já a haver dificuldade em fornecer medicação aos utentes por, alegadamente, os
fundos disponíveis – vulgo o dinheiro para pagar em noventa dias – não serem
suficientes.
Seguir-se-ão as autarquias. O que não admira. Pagar e morrer é a
última coisa que se faz na vida e no poder local o lema, não necessariamente
por esta ordem, é seguido à risca. Pretender mudar isto de um dia para o outro
é capaz de ser pedir de mais.
Subscrevo inteiramente, mas o pior de tudo é que nós pagamos logo e não sabemos ou melhor não vemos o mesmo exemplo que deveria vir do Estado porque o compadrio continua nos acordos feitos a seu belo prazer.
ResponderEliminarestamos no reino do vale tudo... para não se pagar dívidas.
ResponderEliminarSão ferozes na sua insensibilidade camuflada através de supostas medidas aceitáveis!
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