A declaração dos banqueiros, produzida há meia dúzia de dias,
reclamando do Estado o pagamento das dívidas à banca passou praticamente
despercebida. Caso tivesse merecido maior destaque por parte da comunicação
social e dos comentadores de serviço teríamos, com toda a certeza, assistido a
reacções indignadas por parte dos sectores do costume. Sendo sobejamente
conhecida a nossa aversão ao rigor e à disciplina, também em matéria
financeira, qualquer posição que se assuma em prol dessa causa, para além de
condenada ao fracasso, faz quase sempre despoletar um coro de protestos e
manifestações de gente para quem o “dever” se afigura como um dos seus direitos
mais sagrados. Ou adquiridos, depende da perspectiva. De facto é preciso um
descaramento descomunal para vir a terreiro lembrar – esteja em causa o Estado
ou não, é perfeitamente irrelevante – a necessidade de pagar o que já devia
estar pago há muito tempo.
Quase de certeza que entre os que manifestam o desagrado por esta
estapafúrdia exigência dos bancos, estarão alguns que sofrem na pele,
provavelmente sem perceberem, as consequências deste vergonhoso incumprimento
das administrações públicas. Ainda que as pessoas tenham manifesta dificuldade
em entender, o que está em causa é a sobrevivência das empresas e a manutenção
de postos de trabalho. Quer nas empresas que estão directamente a “arder”, quer
das outras a quem as primeiras não pagam e por aí fora numa bola de neve que
acabará, mais cedo do que tarde, numa enorme avalanche que a todos irá esmagar.
A ligeireza com que se olha para os calotes e caloteiros – sejam eles
pessoas, empresas ou administração pública – deixa-me boquiaberto. A
benevolência, a tolerância e, por vezes, até admiração com que são olhados pela
“vida” que ostentam, provoca-me, mais do que alguma espécie de irritabilidade,
um sentimento de compaixão pelas débeis capacidades intelectuais dos que assim
agem e pensam. Coitados, não conseguem perceber que é muito por causa deles –
dos caloteiros de toda a espécie – que os ordenados descem, os impostos sobem,
o desemprego aumenta e o trabalho escasseia. E depois a crise é que paga…salvo
seja!
A imagem real da maioria dos portugueses sejam eles do Estado ou não! Parabéns e subscrevo!
ResponderEliminarConheço quem ficou deveras surpreendido com uma cobrança da Segurança Social por ter passado recibos verdes e não pagou. Mas tu não sabias que tinhas que pagar? Claro que sabia, mas pensei que escapava...pois é e agora anda lixado!