Pode ser apenas impressão
minha mas, eu que tenho o mau costume de prestar atenção aos pormenores, há umas
semanas que não leio nem ouço a irritante expressão “é o país que temos...” a
propósito de tudo e de nada. Seja lá o que for que os autores do desabafo
pretendam insinuar quando a escrevem ou pronunciam. Deve ser, desconfio, do
patrioteiro intervalo que os tugas fizeram para mostrar o seu amor à pátria. Coisa
que, como se sabe, gostam de exibir de dois em dois anos durante o curto período
de tempo em que a selecção de futebol está em competição.
Ao contrário de muita
gente, a maioria da qual percebe tanto de futebol como eu percebo de cozinha afegã,
não nutro grande entusiasmo pela selecção nacional do pontapé na bola. Por
várias razões. Nomeadamente o massacre noticioso a que, nestas ocasiões, sou
sujeito. Não se pode ligar uma televisão sem que o objecto da notícia seja a “equipa
de todos nós”. Dados fundamentais para a boa prestação da equipa são revelados
em catadupa. Desde a marca dos carros dos jogadores até ao nome da loja onde
compram as cuecas, de tudo fomos informados para que, na altura do jogo, pudéssemos
avaliar correctamente o seu desempenho dentro de campo. Pelo menos para aqueles
que ainda tivessem paciência de, sequer, ouvir falar de selecção. É que, não
sei se os gajos da comunicação social sabem disso, tudo o que é demais chateia
e provoca em muitas circunstâncias o efeito contrário.
Foi, por isso, com algum alívio
que vi aquele indivíduo de aspecto pouco recomendável, caceteiro inveterado e
que, no relvado, dá porrada em toda a gente que use uma camisola diferente da
sua, acertar em cheio na barra da baliza defendida pelo espanhol. Para além da magnífica
pontaria demonstrada, teve o mérito de nos poupar à continuação do espectáculo deprimente
de gente que nunca fez nada pelo país - a não ser viver à conta dele e deixar
imundos os locais públicos onde assistiu aos jogos - garantir que Portugal é o
maior. E o que temos, também.
Um patriotismo que começa e acaba na seleção, que se está nas tintas para o Serviço Nacional de Saúde e que acha normal que um puto que joga bem à bola seja mais reconhecido do que um grande cirurgião que diariamente salva portugueses do céu.
ResponderEliminarUm abraço sem opiáceos
Nisso e noutras coisas mais não sou nada patriótica e não vi nenhum jogo...li apenas as notícias porque também não vejo a merda (desculpa) dos telejornais que temos. Gosto mais dos debates sobre tudo e até futebol mas SicNoticias e jamais naqueles pagos a peso de ouro onde inclui o palerma do Seara (presidente daqui do burgo).
ResponderEliminarSubscrevo inteiramente!
E 'tivemos' direito a uma entrevista no 1º canal, para explicações de um treinador, das suas decisões e afirmações com... tranquilidade.
ResponderEliminar:)
;)