terça-feira, 2 de outubro de 2012

O último que pague a conta



Estaremos ao que tudo indica a poucas horas de conhecer mais um pacote de medidas de austeridade que, como é expectável, provocarão a ira de um número significativo de portugueses. Com toda a razão, muito provavelmente. Embora, como não me tenho cansado de escrever, o aborrecimento esteja a chegar tarde e a más horas. Que é como quem diz já não há grande coisa para fazer além de pagar a conta.
É por isso que, antecipando-me ao Vítor Gaspar ou aos jornalistas bisbilhoteiros que descubram o que aí vem antes do anúncio do ministro, deixo aos meus leitores dois motivos para se indignarem. Dois pequenos exemplos que demonstram o desvario em que continuamos a viver, a forma irresponsável como o nosso dinheiro é desbaratado e que deviam merecer, ainda mais no momento que atravessamos, a profunda censura daqueles que não se cansam de barafustar que lhes estão a ir ao bolso. Para pagar estas coisas, sublinhe-se.
Numa vila aqui perto foi recentemente inaugurado um novo campo de futebol com relvado sintético. Terá custado, diz, dois milhões de euros. Poderá não parecer muito e, admite-se à partida, ser um equipamento de relevante interesse para a população. Talvez. O pior é que a terra em causa, para além das conhecidas dificuldades financeiras do município local, não chega a ter dois mil habitantes. Dos quais, ou muito me engano, mais de metade não será sequer capaz de se locomover sem qualquer tipo de restrições de ordem física.
Noutra vila, igualmente perto, foi anunciada a construção de um centro escolar. Obra para uns oito milhões, mais coisa menos coisa. No concelho em causa residem apenas cinco mil almas, o que significa uma população escolar diminuta.  Seiscentos e sessenta e um alunos, desde o pré-escolar até ao nono ano, segundo dados oficiais. É, portanto fazer a conta.
Não consta que alguém se queixe destas opções. Estarão, ao que parece, todos satisfeitos com este derramar de dinheiros públicos. Que, recorde-se, um destes dias alguém, inclusive os profissionais das manifestações, terá de pagar. Talvez quando, por essas paragens, já não viva ninguém que possa usar estas infra-estruturas. Porque, entre outras razões, não houve inteligência para aplicar os milhões em investimento capaz de criar postos de trabalho que fixassem a população que ainda resta. 

1 comentário:

  1. e é assim um pouco por toda a parte...e os culpados somos nós que temos de sustentar o insustentável.

    Tu foste além das tuas posses e como tal...ficas sem nada porque tudo foi confiscado pelo fisco...

    estes gajos gastam da forma mais disparatada e como é um erro político, falharam tadinhos...ninguém é julgado, espoliado e posto na fila do centro de emprego ou na sopa dos pobres!

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