Constitui para mim um
mistério sem explicação racional que, em Portugal, o Partido Comunista e o
Bloco de Esquerda não obtenham, de cada vez que há eleições, noventa por cento
dos votos. Ou, mínimo dos mínimos, a maioria absoluta. Isto porque os portugueses
adoram que o Estado regulamente o mais ínfimo pormenor das suas vidinhas. Acham
mesmo que constituiu um dever fundamental do Estado dar-lhes tudo. Desde as
pílulas contraceptivas, para a malta fornicar à vontade – e pagar o aborto caso
tenham o azar de calhar na margem de erro – até pagar-lhes o funeral, não vá
dar-se o caso de começar a ficar gente por enterrar. Não se percebe por isso
que chegada a altura de fazer a cruzinha no boletim de voto a mão escorregue
para outras opções que prometem quase sempre reduzir a intervenção do Estado na
vida dos cidadãos.
Atente-se, só a título de
exemplo e deixando de lado outras premissas, no caso recente da miúda de
Quarteira a quem não terá sido serviço o almoço por causa de uma alegada divida
dos pais. O assunto desencadeou uma onda de comentários parvos, petições
imbecis e levou inclusivamente uns quantos a apelarem a que seja consagrada na
lei a obrigatoriedade do Estado garantir, de forma gratuita, as refeições
escolares a todas as crianças. Cuidava eu, vá lá saber-se onde é que fui buscar
esta ideia, que a alimentação dos filhos – em todas as circunstâncias – era obrigação
dos pais. Pois parece que não. Que nisso, como em quase tudo, o melhor é desresponsabilizar
os progenitores - esses já tem os cães para se preocupar – e passar essa ancestral
responsabilidade parental para o Estado protector.
Para além desta estranha
tendência de simpatizar com princípios comunistas mas votar em partidos de
direita, os portugueses – o caso acima mencionado é especialmente elucidativo –
tem também o mau hábito de “emprenhar pelos ouvidos”. Ou, como prefiro dizer, comem
toda a palha que lhes põem na camela.
Os portugueses têm tiques esquizofrénicos. Tenho dito.
ResponderEliminarÉ verdade o que diz no que respeita à refeição das crianças. Nas situações em que claramente a família não pode pagar este serviço, os serviços sociais podem substituí-la, mas generalizar nunca, sob pena de a seguir serem os livros e os materiais escolares. Quanto a desejarmos ter um estado mais "paternal" que padrasto, todos pagamos bem para que assim seja, sem haver necessidade de votar à esqª, o instinto mafioso dos nossos politicos é que não o permite.
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