quinta-feira, 5 de julho de 2012

Doutores da mula ruça


Afinal – a acreditar no patrão lá da chafarica onde o Relvas terá ido buscar o diploma – licenciados da treta é o que não falta por aí. Não admira pois que tenhamos chegado a este triste estado. Temos sido – e o mais certo é continuar assim – governados por burros, preguiçosos e oportunistas que não estiveram para perder tempo com essa maçada que é tirar um curso, preferindo aproveitar uma oportunidade jeitosa para arranjar um canudo.
Pensava eu, mas claro que ninguém me manda ser ignorante, que essa coisa do reconhecimento de competências era apenas para as novas oportunidades. As tais que o PSD ridicularizava e que, pela boca do seu líder, prometeu extinguir ainda em campanha eleitoral. Contudo, até para participar nessa festa que foi a distribuição de diplomas e computadores, era preciso fazer uns quantos trabalhitos. E o papel a garantir que o portador possuía o ciclo de ensino pretendido só era conseguido após uma “entrevista” em que um avaliador, em amena cavaqueira com o candidato, o interrogava acerca da sua alegada experiência de vida. Portanto, como se vê, existia nas novas oportunidades um grau de exigência substancialmente mais elevado do que aquele de que terão beneficiado umas centenas de espertalhões.
Diz que está tudo na lei e que, no limite, uma qualquer besta pode entrar no edifício da universidade sem saber uma letra e sair de lá doutor. Ainda que nem por isso menos besta. Tudo dependerá da competência demonstrada relativamente à área em que se pretenda diplomar. No caso da Ciência Política não será nada de mais. Bastará ter sido militante mais ou menos activo de um partido e a coisa estará feita. Se colou cartazes e distribuiu panfletos, bonés ou aventais então o douramento, provavelmente, será garantido. Esta legislação pode, no entanto, levar-nos muito longe. Conduzir-nos por caminhos sinuosos, mesmo. Não estou a ver, por exemplo, como se poderia recusar a uma beata uma licenciatura imediata em Ciências das Religiões, como se negaria a um vereador desse pelouro um mestrado em Urbanismo e Gestão do Território ou a uma actriz porno um doutoramento em Cinema, Vídeo e Comunicação Multimédia. Ou, já agora, a mim próprio uma pós-graduação em Fotografia. Na variante merda de cão, obviamente.

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