Um prestigiado jornal
nacional, daqueles de referência, anunciou na sua página na internet que irá
enviar às autoridades denúncias sobre comentários feitos no seu site que
indiciam a prática de crimes de discriminação racial previstos no Código Penal.
Lá terão, os
administradores do espaço em questão, as suas razões. Mas, mesmo desconhecendo
o teor dos alegados escritos discriminatórios, não me parece grande ideia. Uma
caixa de comentários, ainda mais quando permite o anonimato, se não for gerida
por alguém que filtre os textos antes de permitir a sua publicação, não passará
de uma espécie de parede de casa de banho pública antes da moda dos paneleiros
deixarem lá os seus contactos. Logo é capaz de a gerência do site poder não
estar assim tão isenta de responsabilidade quanto a intenção de denunciar possa
dar a entender.
Atendendo ao que se lê
por essa internet fora, atitudes deste tipo suscitam-me sempre algumas dúvidas.
Existem uma série de preceitos constitucionais garantindo, entre outras coisas,
que ninguém pode ser discriminado em função da sua origem ou opções de vida.
Daí que me seja difícil perceber porque raio tecer considerações depreciativas
relativamente a um cidadão de pele escura ou cigano pode ser discriminatório e,
até, configurar um crime, mas se ditas em relação a um alentejano constituem
motivo para risota e consideradas humor do mais requintado. Ou, mais flagrante
ainda, se eu escrevesse que “limpo o cú ao Corão” seria facilmente acusado de
islamofobia, discriminação religiosa e de intolerâncias várias. Contudo, se
substituir o livro sagrado do islão pela bíblia, o mais provável é a minha
escrita ser considerada do mais fino recorte literário.
Neste contexto, acho que
escolher o que é ou não discriminação é um acto, também ele, discriminatório. Por
estas e por outras tenho cada vez menos paciência para este tipo de virgens
ofendidas e com a mania do politicamente correcto. Que vão todos bardamerda. A
continuar assim um destes dias teremos de começar a olhar para o lado antes de
pronunciar expressões tão inocentes como, por exemplo: “Um olho no burro e
outro no cigano”, “trabalho como um mouro” ou “só tenho pretos” quando nos
quisermos referir às moedas que temos na carteira.
Subscrevo inteiramente o teu ponto de vista.
ResponderEliminarPor acaso já me aconteceu na padaria pedir: - Quero seis "bolas" branquinhas, porque sou racista com o pão e bolos.
ResponderEliminarVou a olhar para o lado e estava mesmo um indivíduo de cor. Fiquei!!!....
Mas concordo plenamente com a sua opinião, até porque o dito jornal não filtra qualquer tipo de comentário, embora publique diariamente uma recomendação da ERC relativa aos comentários dos leitores, que são na sua maioria ofensivos e descontextualizados, permitindo que o debate sobre determinado artigo deixe de ser construtivo para se tornar numa bandalheira.