quinta-feira, 16 de junho de 2011

Direitos adquiridos vs deveres esquecidos

Nós, os portugueses em geral, entendemos que temos direito a tudo e mais alguma coisa. Evocamos constantemente os nossos direitos – qualquer analfabruto é capaz de berrar, principalmente se tiver uma câmara de televisão à frente, pelos “meus direitos” - mas esquecemo-nos com frequência dos nossos deveres. Quer a exigência do respeito escrupuloso dos nossos direitos, quer o esquecimento absoluto dos nossos deveres, ganham uma dimensão ainda maior na nossa relação com o Estado ou com os seus agentes. Basta ver o tom provocatório, a agressividade, a má educação e os modos dignos das pessoas que se dedicam à venda de pescado – sem qualquer desprimor para estes – com que muita gente se dirigem a qualquer repartição pública. E já nem menciono a maneira como, no dia-a-dia, tentam evitar o cumprimento das suas obrigações sempre que em causa está o pagamento de impostos ou de outras contribuições.
A nossa relação com a autoridade é igualmente preocupante. Ficamos paralisados de medo perante um meliante, ainda que munido de uma pistola de plástico ou de um canivete incapaz de cortar um pedaço de queijo mais duro, mas, na presença de um policia que tente restabelecer a ordem num desacato ou manifestação em que participamos, não hesitamos em desobedecer e, se necessário fôr, lhe pregar uns valentes tabefes. Sim, que isto de policias e quejandos só se perdem as que caem no chão. 
Vem isto a propósito da já dada como certa absolvição das duas criaturas que foram detidas quando estavam acampadas no Rossio, em Lisboa, para exigir – lá está, é só o que sabemos fazer – uma democracia verdadeira. Seja lá isso o que for. Não acredito que os agentes da policia se tivessem dado ao trabalho de deter os campistas ocasionais apenas porque sim. Ou porque estavam cheios de tédio e, para espairecer, se lembraram de recolher dois daqueles seres exóticos que por ali faziam...coisas. Pior. Parece que, ao que anunciava uma rádio, os agentes envolvidos poderão vir a ser objecto de procedimento disciplinar!!! Se calhar, para tornar isto um país a sério, é capaz de não ser suficiente mudar de governo...

2 comentários:

  1. Os detidos já foram devidamente absolvidos, agora só falta a abertura dos processos disciplinares aos agentes de autoridade que "se excederam"...
    Sinceramente!
    O meu marido afirma e com razão que tem que carregar um "acessório", como ele carinhosamente se refere à arma de serviço e, tem que pensar muito bem antes mesmo de decidir se saca da arma ou não, em serviço... é que só as chatices que daí podem advir...
    E sem falar que o Estado paga o almoço ao detido, quando presente a tribunal e acaso o juiz não o possa ouvir da parte da manhã... mas aos agentes de autoridade que gramam a espera de igual forma, eles que vão comer ao restaurante se quiserem!
    Conclusão: cometeste um crime? anda daí, pagamos-te o almoço! Estás de seca à espera em serviço? vai mas é comer fora, que aqui não há borlas!

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