quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Opções parvas

O caso da velhota encontrada morta na sua residência, quase nove anos depois de uma vizinha ter dado conta do seu desaparecimento, despoletou na comunicação social um inusitado interesse pela situação em que vivem muitos idosos. Têm-se sucedido os opinadores de serviço, cada um a cagar a sua estaca, colocando quase todos especial ênfase na falta de solidariedade entre vizinhos, no desprezo que os familiares nutrem pelos seus parentes mais velhos e numa sociedade cada vez mais envelhecida onde escasseiam jovens e abundam idosos. 
Terão, com certeza, alguma razão. Pena que se fiquem por um diagnóstico simplista do problema. Não vejo apontar o dedo a um modelo de organização do trabalho que exige cada vez mais a quem trabalha, ao Estado que se demite do apoio à terceira idade, a muitas instituições ditas de apoio social mas que se preocupam muito mais com os apoios que podem angariar para si próprias do que com os que deviam prestar nem, por último mas mais importante, a um modo de vida que inverteu todos os valores. 
Nos últimos anos anos o Estado entendeu promover o aborto em lugar de fomentar a natalidade ou cuidar da saúde dos que mais precisam. Tem recursos para fazer, gratuitamente, interrupções voluntárias da gravidez a todas as mulheres que o desejem, mas não possui dinheiro para pagar abonos de família ou o transporte de doentes. Garante um rendimento mensal a quem não quer trabalhar, mas é incapaz de assegurar um lugar onde quem trabalhou toda a vida possa passar, tranquila e devidamente acompanhado, os últimos dias. 
Situações como a agora conhecida irão, seguramente, multiplicar-se. Constitui uma fatalidade a que será impossível escapar. Trata-se, tão só, de colher os frutos dos comportamentos que temos andado a semear. Em lugar de filhos optamos por ter cães, as poupanças para as contingências da velhice são gastas com automóveis ou naquela viagem de sonho e aplaudimos quando a autarquia lá sitio opta por construir um centro de acolhimento a extra-terrestres* quando devia construir lares de idosos. Temos, portanto, o que merecemos. 

* Substituir por outra obra, igualmente parva, entre as muitas obras parvas que as autarquias promovem.

1 comentário:

  1. E o terem penhorado e vendido em leilão (sem sequer terem conseguido intimar a senhora), a casa a uma velhota de 87 anos, pela estrondosa dívida de 1500€ em impostos ao Estado! A isto chamo cobrança de agiota!

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