Dados recentes apontam para que a economia paralela represente, em Portugal, cerca de vinte por cento do Produto Interno Bruto. Embora não seja um valor que cause estranheza, uma vez que está entre nós fortemente instalada uma cultura de fuga ao pagamento de impostos, surpreende-me que estes números sejam unanimemente negligenciados pelos comentadores e analistas que dedicam parte significativa do seu tempo a debater e a procurar soluções para as crises que ciclicamente vamos vivendo. Discute-se a produtividade, o endividamento, a redução da despesa – factores importantes e que, obviamente, é necessário controlar – e exigem-se mais sacrifícios aos que estão dentro do sistema, sem que se avancem medidas a sério para incorporar todos aqueles que, embora beneficiem da despesa, nada contribuem para a receita do Estado.
Estes números, reconhecidos como próximos da verdade por fontes oficiais, foram em diversas ocasiões considerados como minudências por diversos especialistas em diagnosticar os males da nação. Estou a lembrar-me, nomeadamente, de Medina Carreira e Silva Lopes para apenas mencionar dois dos mais citados e aplaudidos arautos do “rigoroso controlo da despesa pública” pela via do corte de salários, pensões e demais direitos – regalias injustificadas no entender deles – dos portugueses. Afinal, se vinte por cento do PIB nacional é perfeitamente irrelevante, porque raio é que nos devemos preocupar com uns reles nove por cento de deficit?!
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