As lágrimas que hoje se derramam, um pouco por todo o interior do país, a propósito do encerramento de várias centenas de escolas não passam de lágrimas de crocodilo. Não havendo crianças, em número que o justifique, obviamente que não faz qualquer sentido manter aberto um estabelecimento de ensino. E insistir nisso, mesmo que sejam necessários tantos postos de trabalho quantos os alunos para ter a escola aberta, é uma atitude pouco sensata e reveladora de um profundo desprezo pelo erário público.
A culpa pela situação a que chegámos – triste, concordo – é de todos. A começar por nós que, seguindo os modelos ocidentais, deixámos de querer ter filhos e optámos por viajar até destinos exóticos, endividar-nos, ter um cão ou, simplesmente, não ter de aturar fedelhos. Tudo opções legitimas e que devíamos assumir sem vir agora com as lamechices do costume porque o resultado das nossas escolhas não podia, naturalmente, ser muito diferente daquilo a que estamos a assistir.
Claro que também governo e autarquias tem um elevado grau de responsabilidade na matéria. Se o primeiro foi retirando serviços públicos e canalizando investimentos para o litoral, potenciando o despovoamento do interior, já as autarquias, com as suas opções tresloucadas e baseadas em critérios que não lembram nem ao diabo, têm-se mostrado absolutamente incapazes de contribuir para a criação de emprego. Excepto aqueles empregos de utilidade duvidosa que ainda vão arranjando aos mais chegados.
Veja-se, por exemplo, o esbanjamento de avultadas verbas em festivais de música, festas da juventude, comezainas diversas e eventos ridículos que de norte a sul é feita pelos municípios de terriolas onde o publico alvo desses festins mal dará para compor uma plateia de um teatro de província. No fim da festa, depois de larguíssimas dezenas – centenas, não raras vezes - de milhares de euros terem mudado de conta, o que é que fica na terra? Quantos postos de trabalho gerou esse evento, por maior que tenha sido o seu sucesso? E isto ano após ano, mandato após mandato e seja qual for a cor com que a edilidade se pinte.
Tanto dinheiro era coisa para, ao fim de algum tempo, ser suficiente para construir um lar de idosos. Coisa que não falta, os velhos, por este Portugal fora. Mesmo que isso escape ligeiramente àquilo que é o quadro de atribuições das autarquias, estou convicto que a prodigiosa imaginação dos nossos autarcas havia de encontrar forma de ultrapassar qualquer impedimento. E, para além de resolver um problema que se coloca cada vez com maior acuidade, era um investimento gerador de emprego. Digo eu, que gosto muito de dizer coisas.
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