sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Discriminações maquiavélicas

Mais do que saber se vou ficar sem subsidio de Natal, de Férias ou parte de ordenado no próximo ano, o que me tem intrigado e deixado verdadeiramente perplexo é a insistência com que a comunicação social, economistas e parvos em geral apresentam esta hipotética medida, supostamente anti-crise, como sendo de aplicação exclusiva à função pública. A ser assim seria um acto claramente discriminatório e provavelmente desprovido de qualquer legalidade, do qual resultaria a condenação do Estado por qualquer tribunal e a obrigação de indemnizar quem fosse abrangido por ela. 
Tal medida, para ter algum efeito prático, apenas poderá configurar um novo imposto que incida sobre essas remunerações. Logo, sendo uma nova contribuição, terá de ser aplicada a todo o universo de pessoas que trabalhe por conta de outrem e nunca apenas a um grupo restrito de contribuintes. Por outro lado, caso não se trate de um imposto, se o governo entender modificar a legislação laboral e imponha uma alteração legislativa que lhe permita, definitivamente ou durante um certo período de tempo, não pagar determinadas importâncias – Subsídio de Natal, de Férias ou outra coisa qualquer - aos seus funcionários, com o intuito académico de cortar na despesa pública, a eficácia dessa medida – atrevo-me desde já a diagnosticar – será praticamente nula. Só um tolinho acreditará que, a nível do Estado central, a verba disponibilizada nas rubricas orçamentais do pessoal não será usada para aqueles pequenos caprichos que todos sobejamente conhecemos. Ou, nas autarquias locais, para fazer mais um inolvidável espectáculo com o artista do momento, construir umas quantas rotundas e atribuir generosos subsídios. 
Numa ou outra circunstância, a todos ou apenas aos funcionários públicos, retirar ainda mais dinheiro à economia será dar o passo que falta em direcção ao abismo. A mim, que tal como Jesus Cristo não tenho biblioteca nem percebo nada de economia, parece-me que quem não receber subsidio de natal não vai comprar presentes e se não tiver subsidio de férias fica em casa. O que não seriam boas noticias para o comércio nem para aquelas regiões onde, tradicionalmente, os portugueses gozam férias. A menos que – e não sou eu que vou excluir essa hipótese por mais maquiavélica que me pareça - se pretenda que recorramos ao crédito...

1 comentário:

  1. Na década de oitenta e com Mário Soares como 1º.Ministro, foi um corte ao subsidio de Natal. Nessa altura o meu trabalho era público e depois é que passou a privado. Não me recordo se foram aos dois sectores ou se apenas à f.p.

    Mas a badalação dos orgãos de comunicação, sinceramente já me metem nojo. Ouvi ontem um debate na SicNoticias e gostei dos 4 oradores em que apontaram "várias medidas de cortes" sem nunca tocarem nos ordenados de quem trabalha, sejam públicos ou privados...excepto nos milhares funcionários públicos/gestores de empresas público/privadas e secretário, do secretário, do secretário..., extinção de ministérios e enquadramento dos trabalhadores noutros locais onde fazem falta e muitas mais medidas, terminando no famoso e mal-cheiroso Tridente que vai custar ao Estado milhões!!!

    Concordo contigo e sendo economista apenas na minha casa...até eu era capaz de gerir e poupar muito na enorme "casa estatal".

    Aguardemos e tudo isto bem como agora a intervenção do PR que peca por tardia...não passa de passos de dança de "engana tolos".

    Bom fim de semana

    ResponderEliminar