Dia onze, depois de amanhã portanto, não vou queimar nenhum exemplar do corão. Até porque não tenho esse livro na minha biblioteca. Faz-me, no entanto, alguma espécie o histerismo que por aí vai apenas porque um obscuro líder religioso de uma não menos obscura comunidade, perdida algures nos Estados Unidos da América, se lembrou de organizar em encontro de malta que gosta de pegar fogo a livros. No caso – irrelevante, acho eu – o corão. “Ah e tal é o livro sagrado dos muçulmanos” argumentará uma imensa legião de adeptos do politicamente correcto e da alegada tolerância para com as diversas formas de adorar os deuses. E daí?! Conheço alguns para quem o “Avante!” é uma bíblia sagrada e isso não os impede de queimar uns quantos para, na Festa do dito, acender a fogueira onde grelham as febras e os coiratos.
(Começo a dar razão àqueles que garantem que o software livre é coisa de comunistas e de outra gente com ideias igualmente manhosas. Então não é que o corrector ortográfico do OpenOffice manda-me escrever corão com letra maiúscula mas não faz o mesmo se digitar bíblia em minúsculas?!)
Que é feito daquelas magnificas expressões, assim tipo “isso é lá com eles” ou “vivemos num país livre por isso cada um faz o que quer”, que é costume ouvir quando em causa estão outros valores que nos deviam ser muito mais queridos do que a merda de um livro de que há, até, exemplares em demasia?!
Trata-se de “respeito”, dirão. Pois sim. Numa sociedade – refiro-me ao ocidente em geral – que não respeita os seus próprios valores, onde não se demonstra respeito por nada nem por ninguém, evocar esse sentimento é risível. Até porque se eventualmente se tratasse de uma queima da bíblia não faltaria gente a achar que se trataria de um acto de fino recorte cultural. A verdade é que estão borrados de medo não venha um daqueles barbudos que reza de cú para o ar, fazer-se explodir numa qualquer cidade do tolerante e respeitador ocidente e lhes rebente com o coirão.
O medo nunca nos levou a lado nenhum. A cobardia menos ainda. Por isso amanhã quem quiser queimar um livro que queime. Seja o corão, a lista telefónica ou o Almanaque do Tio Patinhas. Ficaria triste apenas pelo último...Mas, porra, vivemos numa sociedade livre e fazer um fogaréu com uns quantos livros ridículos não constitui nenhum crime.
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