segunda-feira, 12 de abril de 2010

Os patetas do politicamente correcto são a maior ameça à liberdade de expressão


A comunicação social, a blogosfera, a classe política e uma pequena parte do país real discutiram não há assim tanto tempo, de forma acalorada, se em Portugal havia ou não condicionalismos que limitavam a liberdade de expressão. Fui um dos subscritores da petição on-line que sobre esta matéria circulou pela internet mas, provavelmente, por razões diferentes da maioria dos que subscreveram o tal abaixo-assinado virtual. Pese todas as tentativas de controlo da comunicação social por parte do poder político, ou das ameaças e chantagens dos seus apaniguados para controlar a bloga, não me parece que a liberdade de cada um exprimir as suas opiniões políticas esteja em causa. Afirmar o contrário é, para não lhe chamar outra coisa, patético. 
Como venho a afirmar há muito tempo a liberdade de expressão está, de facto, ameaçada mas por outros motivos. Que – e aí reside, quanto a mim, o verdadeiro perigo – vão muito para além das opções politicas de cada cidadão. Vivemos a época do politicamente correcto, onde uma elite supostamente bem pensante define os termos e as condições em que nos devemos pronunciar acerca das coisas mais banais. O pior é que nem sempre damos conta dos seus avanços, dos tentáculos com que vão silenciando a sociedade e da forma, como quase sem nos apercebermos, vamos expulsando da nossa linguagem palavras ou expressões que sempre utilizámos. 
Como todas as ditaduras também esta é ridícula. Veja-se um recente episódio em que um ouvinte da rádio pública se queixou ao provedor do ouvinte da dita estação por o jornalista que fazia a transmissão radiofónica do jogo de futebol entre o Sporting e o Everton ter usado, durante o relato, expressões como “ graças a Deus”, “Deus queira” ou “oxalá”. Argumenta a criatura que “a utilização destas expressões é injustificável precisamente porque a linguagem na comunicação social laica deve ser a adequada”, entre outros argumentos, verdadeiramente risíveis, que evoca para sustentar a sua critica relativamente ao trabalho do profissional que assegurou a cobertura do evento desportivo em causa. 
Se a existência deste tipo de queixa já de si seria motivo para preocupação – pelo menos pela sanidade mental de quem a faz – a coisa piora quando o provedor lhe dá razão. Vai mesmo mais longe e afirma que “não fazem sentido expressões destas numa transmissão radiofónica” e que “a melhor forma de as evitar é o exercício de uma atenção crítica e autocrítica permanentes na área profissional”. Um pouco de auto censura, portanto. 
Se episódios destes não são condicionadores da liberdade de expressão, então não sei como os classifique. Até porque se repetem com uma frequência inusitada em todos os sectores da sociedade. Mesmo na classe politica, que também é vitima desta nova e repugnante classe de ditadores. Ou ainda ninguém reparou como o termo “autista”, outrora tão em voga independentemente do evidente mau gosto, desapareceu misteriosamente do debate político?

5 comentários:

  1. Posso ser pateta em muita coisa mas jamais alinhei no politicamente correcto.

    Respeito a tua opinião mas não vejo as coisas tão negras, embore ache que profissionalmente todos nós deveremos praticar e exigir "educação e isenção", sobretudo de quem nos dá chá todos os dias através de um jornalismo muito aquém do de há 10 anos.

    Acho uma aberração a queixa ao provedor sobre o "relato de futebol" e acreditas que esse ouvinte teve sucesso?

    Agor não admito por parte de jornalistas, políticos, chefias etc. a utilização de algumas expressões: todas as que encernem em tom depreciativo e recalcante doenças do foro psiquiátrico e fisico.

    Medina Carreira (que admiro imenso) por vezes aplicava "termos" que ele próprio os rectificou e nunca porque alguém lhe disse para não os dzer...e logo ele.

    Liberdade de expressão SIM, libertinagem de expressão NÃO!

    Não sei se me expliquei bem!

    Um abraço

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  2. Não haja dúvida que há censura na escrita jornalística e não só...
    As pessoas sentem medo de dizer, quanto mais de escrever...?!
    As pessoas gladiam-se para mais ter e melhor parecer.
    Infelizmente vivemos num "Mundo de Aparências", já dizia o filosofo Platão (Ainda bem que não foi o Sócrates!)
    MFCC

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  3. Os estremos tocam-se: ou nao falam para serem politicamente correctos, ou falam de mais e sai asneira da grossa. Esse preocupou-se por o "homezito", por defeito, usar essas expressoes. Se o locutor fosse do norte, passaria o relato a gritar "Kum c..."! e aí não haveria censura, porque disso há mts e deus, supostamente, há só um e nao se pode chamar o nome dele em vao, deve ser por aí! Preocupam-se com cada coisa!...
    Cá por mim, bastaria o provedor dizer a esse fulano: "get a job"!

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  4. Eh pá, ressalvo a palavra "extremos", foi do avançado da hr.
    :(

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  5. maria mar: já cá eu estava a imaginar que em Portugal eram os estremos....assim os polos ficariam mais longe.
    Mas v. retificou em boa hora EXTREMOS.
    Felicidades a todos

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