sexta-feira, 26 de março de 2010

Os prémios da ira


Os gestores das empresas públicas, ou detidas maioritariamente pelo Estado, anunciaram já a sua intenção de processar o accionista maioritário pela anunciada medida de não atribuir prémios. Esta atitude é bem reveladora das qualidades morais dessa gente e da coerência das suas atitudes relativamente aquilo que advogam para os outros. Quando os “sacrifícios” lhes tocam a eles - se é que se pode chamar sacrifício ao facto de receber apenas catorze meses de chorudo ordenado – reagem mal e entendem que têm direitos adquiridos que não podem ser postos em causa. 

Concordo que pode até ser uma medida meramente populista e que não será por aí que a conjuntura vai melhorar. Trata-se, no entanto, de um sinal. Nomeadamente quando se pedem sacrifícios aos portugueses e se apela ao espírito de mobilização para ultrapassar esta hora difícil. Espera-se por isso que o governo não ceda às pressões que, inevitavelmente, surgirão dentro do próprio partido socialista, pois é lá que quase todos os gestores agora queixosos foram recrutados. 

Compreendo também que os visados se estejam nas tintas para tudo isso e queiram mas é receber o deles. Eu próprio me estou borrifando para o verdadeiro buraco negro em que nos meteram. Quem o criou que se desenrasque, que eu não tenho culpa nenhuma das asneiras e farei o mesmo para contornar a asfixia financeira em que pretendem sufocar-me. O que verdadeiramente me lixa, muito mais que a indignação dos fulanos por perderem umas maçarocas simpáticas, é que eles não queiram tomar o mesmo remédio que nos prescrevem.

3 comentários:

  1. Com tanto gestor bom no desemprego temos logo de andar com estes gajos ao colo, se nao houver em Portugal vamos busca-los ao estrangeiro, veja-e o caso da TAP, só melhorou com um gestor estranjeiro.
    Metam estes vampiros do nosso orçamento na rua, ganham mais em prémios que a maioria dos portugueses em ordenado(durante anos).

    Mario J

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  2. Adorei a imagem, define bem o "rico" ('obeso', bem vestido á maneira dele, e charuto cubano) e o "pobre" trabalhador assalariado (magrinho, todo esfarrapado-remendado, gedelhudo e descalço), será este o nosso destino?!
    - Pelo andar da carruagem vamos ficar com ar de marginais.
    Porque não fazem SACRIFICIOS os donos e gestores das empresas nacionais?!
    Porque só pedem 'sacrificos' aos já fatigados trabalhadores?!
    Façam eles que ganham muito mais do que nós!
    A retirada dos "premios", (se e que os vão mesmo retirar?) será a melhor atitude a fazer, já ganham super bem e não merecem mais nada alé do chorudo ordenado e vantagens por todo o lado graças aos amigalhaços.
    MFCC

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  3. Ora tocas precisamente no que me debato há séculos: onde está a garra de todos os funcionários públicos que viram os seus ordenados congelados? onde está a união que faria a força para que este "bouquet de gestores" não recebessem bónus e afins?
    Pois é...o Estado é patrão e deixa-me barafustar apenas com o que me toca não vão eles terem mais ideias para crescentar ao PEC.

    Tenho quase a certeza que esta "norma" já é aplicável este ano, referente aos valores de 2009, ou seja "congelados" em 2010 e 2011 se isto não der uma grande reviravolta em forma de borduada!

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