sábado, 6 de março de 2010

Gente do piorio

A Leocádia e o Gervásio são um simpático casal que, tal como cinquenta outros moradores das redondezas, trabalha na empresa do senhor Simões. Um dinâmico empreendedor que subiu na vida a pulso. Tal como quase todos os dinâmicos empreendedores, diga-se. O senhor Simões - um santo homem – é um patrão generoso. Daqueles que nos tempos antes da crise completava o salário dos seus colaboradores com mais uns trocos pagos sem ir à folha. Por fora. Ou por debaixo da mesa. Assim ficavam todos a ganhar.
Apesar de as coisas correrem de feição para o senhor Simões e os sinais exteriores de riqueza não pararem de aparecer – ele era o apartamento à beira-mar, a vivenda com piscina, os carros topo de gama que atravancavam a garagem, as prostitutas brasileiras e as constantes férias em paraísos tropicais – a empresa não parava de dar prejuízo. Coisas que, provavelmente, teriam a ver com o facto de o Simões ser um mãos largas. E também de o contabilista ser merecedor de cada cêntimo que recebe.
Com a chegada da crise as coisas começaram a dar para o torto. Tal como os outros dinâmicos empreendedores, o senhor Simões recorreu a medidas de apoio promovidas pelo governo para evitar o encerramento da sua empresa e salvar os postos de trabalho da Leocádia e do Gervásio.
Medidas essas que agravaram o défice. Muito. Tanto que o Roberto e a Palmira, um irritante casal de crápulas que trabalha na Câmara Municipal lá da terra, ela numa escola básica e ele na recolha do lixo, apesar de ganharem apenas quatrocentos e sessenta euros mensais cada um, não tiveram este ano direito a aumento salarial. Nem sequer aos vinte cinco euros de que beneficiaram o Gervásio e a Leocádia.
Não sei se o Roberto e a Palmira estarão ou não a ser injustos, mas agora andam por aí a dizer que são eles que pagam o ordenado à Leocádia e ao Gervásio. Pior ainda. Dizem que também o senhor Simões continua a ir às putas à conta deles. Esta gente é mesmo do piorio.

6 comentários:

  1. Já lá diz o ditado: Uns são filhos da mãe, outros filhos da put... olha, da brasileira.

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  2. Há tantos Simões e ões, ões, ões... e que além de sorverem os subsidios gozam na cara dos contribuintes. A meu ver 90% das empresas que fecharam pelo oportunismo da crise, porque 60% ao virar da esquina abriram com outro nome, outros empregados etc.

    Ontem ao ouvir um bocado das notícias já ouvi algo sobre o PEC - ainda vai haver muita batatada até à sua aprovação, julgo eu de que..., no que toca ao aumento salarial dos funcionários públicos, mais ou menos isto: "aumentos até um patamar onde irão beneficiar muitos Robertos e Palmiras". Será? Aguardarei.

    Mas "gente do piorio" é que a troco de frigorificos, panelas e fogões se eleja presidentes de cãmara já condenados pela justiça e que recorreram.

    Fizeste um texto fantástico!

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  3. Parabéns pelo post. Estou convencido que muita gente ainda não se apercebeu da crise que atravessamos, pois ainda não foram atingidos... mas, logo serão...
    Compadre Alentejano

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  4. Olá. Aqui bem ao lado da cidade pequena onde vivo, há uma zona industrial onde, até há bem pouco tempo, havia vidas faustosas, carros faustosos, vivendas faustosas, filhos (também faustosos)a estudar na cidade grande, com carrinho à porta e bolsa de estudo paga por todos nós, porque era declarado o ordenado mínimo e nao eram verificados os bens exteriores de riqueza dos papás.
    Hoje, acabou-se o fausto, a proa baixou e agora vivem sabe-se lá como e de quê...enfim...

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  5. Acredito neste Sr. Simões, nos emrpeendimentos dentro e "fora" da empresa dos gastos nos luxos e nas putas...
    É o típico português, quando se vê com €€€ é só mostrar os êxitos e "troféus" :D

    Já o Sr. Gervásio e a Sra. Leucádia têm a sorte de trabalhar numa empresa privada, por terem garantidos os aumentos salariais...

    Agora a Sra. Palmira e o Sr. Roberto têem o AZARINHO de serem funcionários publicos de 1 "pobre" Câmara Municipal, que só tem €€€ para os cargos dos Amigalhaços!
    MFCC

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  6. http://www.youtube.com/watch?v=jKH_KtlCibE

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