segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Mamocas e outros regabofes

A propósito do excelente vídeo protagonizado pelos funcionários do Município de Portimão, que divulguei aqui ainda antes do mesmo se ter tornado um fenómeno de popularidade, tenho lido, nos mais variados sites e blogues, comentários pouco abonatórios visando, de uma maneira geral, todos os que trabalham na função pública. Nada de extraordinário nem de muito relevante se tivermos em conta que vivemos num país de invejosos, crápulas e manhosos, para quem a galinha da vizinha é sempre mais gorda. A nossa generosidade, que também temos, não nos permite aceitar de bom grado que o sucesso ou o bem-estar alheio ultrapasse o nosso. Os outros podem até ser ricos e felizes, desde que o sejam um bocadinho menos do que nós.
Está enraizada a convicção que os funcionários do Estado, ou das autarquias, trabalham pouco e ganham muito. Acredito. Tanto como nas anedotas em que os alentejanos são todos malandros ou parvos e, como no anedotário brasileiro, em que todos os portugueses são estúpidos. No Estado e nas autarquias haverá quem trabalhe pouco, quem trabalhe muito, poucos que ganham muito e, sobretudo, muitíssimos que ganham uma miséria. Actualmente, a função pública é o retrato quase perfeito do que se passa no restante mundo laboral e onde a perda de direitos ou, como alguns insistem em considerar, certas regalias tem sido uma constante. Há portanto, lamento desapontá-los, pouco para invejar.
Não levo a sério esse tipo de discurso. Considero-o próprio de indigentes mentais, de labregos vá, com notórias dificuldades em olhar mais longe que o umbigo e visíveis problemas em lidar com a realidade vigente. O que me deixa possesso, verdadeiramente fora de mim, é aquele remate malicioso com que garantem ser “à custa dos meus impostos”. Deles, entenda-se. Principalmente quando, ao que afirmam reputados fiscalistas, reinará em termos fiscais um verdadeiro regabofe no sector privado em que pagamentos por “baixo da mesa”, “por fora” e “sem ir ao vencimento” serão prática corrente na generalidade das empresas.
É por estas e por outras que seria interessante saber quantas plásticas às mamocas, rabiosques e partes menos favorecidas, são por ano objecto de dedução em matéria de IRS. Pelo menos sempre podia afirmar, perante um renovado e vistoso par de mamas, que foi à custa dos meus impostos. Mesmo que daí não tire proveito nenhum.

1 comentário:

  1. Pois é!
    "à custa dos meus impostos"! muito se diz, muito se inveja e muito se quer...
    Mas trabalho? Trabalhar não é para todos, 'só para os que não sabem fazer outra coisa'...
    O meu trabalho (e de muitos funcionários publicos) é mais intelectual do que fisico e isso causa uma certa confusão em certas mentes menos evoluídas... e como é lógico causa também a inveja, a cobiça do "querer fazer pouco e ganhar muito"
    A estas pessoas, quando me abordam nesses termos, eu costumo responder: "Quando estudava no liceu e por aí adiante, vocês, influenciados (as) pelos vossos pais diziam que estavamos a estudar para PUTAS. Agora que somos estudadas, temos bons empregos e ganhamos bem, já não somos PUTAS?"
    Agora que já não somos PUTAS... Somos estudadas, somos invejadas...
    MFCC

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