sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Os esquemas da Mariana

Mariana tem trinta e sete anos, é funcionária pública, mora em Estremoz e, segundo o Sol online, encontrou uma forma inovadora – alternativa, até – de obter crédito mais ou menos imediato, que paga no mês seguinte, sem juros. O esquema é simples e funcionará mais ou menos assim: Mariana dirige-se à Modalfa compra roupa e no dia seguinte volta lá para devolver o que comprou. Apesar de ter pago com cartão de crédito a loja procederá, segundo a mesma fonte, à devolução do valor da compra em dinheiro. O que, alegadamente, lhe proporcionará a liquidez necessária sem ter de suportar juros. Acrescenta ainda que, neste Natal, voltará a utilizar o esquema que, a acreditar na história, terá repetido por diversas ocasiões. 
Mariana, do alto dos seus trinta e sete anos, teria outras opções menos ingénuas. Mas cada um sabe de si. E, de resto, nem sabemos se usará outras formulas, ainda mais criativas e menos onerosas para os próprios, que são cada vez mais usadas por colegas seus. Até porque, convenhamos, este esquema é fraquinho. Pode, por exemplo, comprar a crédito tudo o que a sua imaginação lhe sugera. Quando a conta aparecer na caixa do correio basta olha-la com desprezo e continuar a comprar como se não fosse nada com ela. Anos mais tarde um qualquer tribunal vai confiscar-lhe uma parte do vencimento. Pequena, diga-se, porque terá de ficar sempre com um valor equivalente ao salário mínimo, para que a Mariana possa continuar a viver com dignidade. O que significa que pode deferir no tempo – vinte, trinta ou cem anos – o pagamento dos seus calotes, enquanto vai vivendo à grande com o produto do crédito que entretanto tinha obteve. 
Tudo isto constituem as pequenas maravilhas da protecção ao prevaricador que as Marianas desta vida aproveitam com sabedoria. Claro que também podia viver a sua vidinha de acordo com um orçamento ajustado ao rendimento mensal. Poder até podia. Mas não era a mesma Mariana.

3 comentários:

  1. Acho muito bem. E concordo em absoluto que os tribunais decidam anular essas dívidas ao fim de 5 anos, mediante solicitação do devedor argumentando não ter condições para pagar a dívida, como tem acontecido nalguns casos recentes.

    Os bancos, essas entidades chupistas que no seu desvario de vender dinheiro cegamente deram crédito a todo o bicho-careta, que paguem a dívida, ou melhor, que fiquem com o prejuízo. Se tivéssemos tomates adoptávamos todos estratagemas semelhantes. A ver se os bancos mudavam ou não a sua atitude.
    É bom não esquecer que os bancos estão na primeira linha em matéria de responsabilidade pela crise económica que vivemos. Portanto, defender que o cidadão deve ser honesto e cumpridor, numa sociedade estruturada e dependente de velhacos como os Bancos e os seus gestores é, no mínimo, caricato. Acho eu.

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  2. Ao contrário de "francisco" eu acho muito mal o procedimento que referes porque é viver num "balão ilusório" até que um dia a casa lhe caia em cima.

    Poderia dizer que na linha da frente estão sim "uma cambada de portugueses que sempre viveram acima do que podiam só para mostrar ao vizinho que tinha mais", os sucessivos governos que só conjugaram "o verbo gamar, e gamar, e gamar, contruir, construir elefantes brancos como a EXPO e o EURO2004 - aí ninguém refilou", e os Bancos ou qualquer empresa é para dar lucro e nunca para dar prejuízo.

    Em tudo há corrupção e para mim, o maior corrupto é aquele que se deixa corromper ou subornar e infelizmente é o que existe mais. Denunciar e dizer não, é mais dificil!
    Se me cobram algo que vejo não está bem, nem que seja 2€ protesto e consigo que devolvam, mas a maioria das pessoas nem confere o seu extracto de conta e já ouvi dizer...bahhh também foi só 1€. Só? pois é!
    Voltámos à década de 80 a 86, ironicamente governo PS, cujo ministro das finanças (falecido há bem pouco tempo) perdeu o controlo das contas públicas e veio o FMI que cortou mas na ordem inversa: começou pelo topo do Estado e pelas mordomias de quem governava (aqui englobo as actuais empresas-público-privadas-um-cartel-de-ouro).

    Enfim o mal de Portugal é haver esquemas a mais e menos vontade de virar a mesa e dizer BASTA e de uma vez por todas deixarmos de ser "lacaios" da UE - 27 países onde só 3/4 é que ditam as regras!

    e fico triste por ver que o país que me acolheu está ainda mais cinzento do que era há 30 anos num cruzamento de braços e à espera do D.Sebastião!

    Desculpa KK e "francisco" mas já desabafei embora eu seja mais de acção do que palavras e tenho conseguido mudar imensa coisa!

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  3. Estas pessoas, afinal, enganam-se a elas próprias. Um dia, perdem o controle, e lá se vai tudo por água abaixo...
    Festas Felizes.
    Compadre Alentejano

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