terça-feira, 20 de julho de 2010

Velório inflacionado


Quase todos os dias são dadas a conhecer histórias que relatam um ou outro facto claramente demonstrativo de quanto a comunidade cigana é discriminada. 
Desta vez foi um devoto cidadão dessa etnia que, segundo garante, terá sido obrigado a pagar mais noventa e cinco euros que o preço habitualmente cobrado pela paróquia aos restantes cidadãos pelo aluguer da capela onde decorreu o velório da sua sogra. Isto, afirma ainda abalado pelo trágico acontecimento, por ser cigano. É, de facto, uma tragédia. Noventa e cinco euros – dezanove contos – é muito dinheiro. 
O pároco lá do sitio, ao que é relatado, terá acrescentado ao preço habitual essa sobretaxa, chamemos-lhe assim, porque conforme justificou - passo a citar – os ciganos são violentos e porcos, comem e bebem na capela – estas coisas, digo eu, puxam à comida e à bebida – e fica tudo numa grande imundice. Estas justificações, como é natural, não convenceram o SOS Racismo nem o Centro de Estudos Ciganos, que ponderam apresentar uma queixa contra o abade. Entretanto vão repudiando vivamente esta atitude. O que, nestas organizações, não constitui novidade pois quando se trata de manifestar repúdio fazem-no sempre de forma viva. Neste caso era escusado. 
Como toda a gente sabe, pelo menos aqueles que já alguma vez viram um cigano, as afirmações alegadamente produzidas pelo prior carecem de qualquer fundamento. Por mim nunca vi um cigano porco. Nem, tão pouco, um porco cigano. Violento ainda menos. Pelo contrário. Um vi-o rápido a meter coisas que pertenciam a outra pessoa nos bolsos. Dele, entenda-se. Mas, acredito, era com boa intenção. 
Quanto a deixarem tudo numa imundice é mais uma atoarda em que ninguém acredita. É conhecido o seu apego ao asseio, à arrumação e à limpeza. Por exemplo, no Bairro das Quintinhas – para quem não sabe o resort onde habitam cá na terrinha - até tem o cuidado de depositar o lixo nos terrenos circundantes só para não sujarem os contentores. O que revela um civismo e respeito pelo ambiente ao alcance de poucos. 
Só faltou dizer que cheiram mal. Mas isso também já era caluniar demais. Porque se alguns exalam um odor mais intenso, isto resultará com certeza do muito suor provocado pelo esforço despendido no exercício das suas extenuantes actividades profissionais. Sejam elas quais forem.

2 comentários:

  1. Desde já lembro o cigano indignado para não se esquecer de levar a factura à assistente social para todos nos pagarmos o dito aluguer da capela. O pagamento será feito pela segurança social juntamente com o rendimento mínimo em Agosto. Já me questiono para que serviu o esforço de tantos em 1974. É triste...

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  2. Também li a notícia e mesmo com mil e uma razões, acho uma atitude indigna - a juntar a muitas outras - por parte do padre.

    Quanto ao que deixam no resort ou até em feiras, aqui melhorou 100% os resíduos do resort e a feira "de e com todo o tipo de feirantes" depois de 32 anos acabou de vez para descanso das centenas de moradores que aguentaram o "inferno". Ironicamente os sacos plásticos que voavam e no final da feira era um autêntico mar, pertenciam a quatro feirantes bem "portugas-tugas" e não de ciganos.

    Portanto há de tudo...em tudo!

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