O facto de algumas juntas de freguesia terem decidido alugar
autocarros para levar os seus fregueses a manifestarem, em Lisboa, o seu
desacordo pelo desaparecimento da sua freguesia parece ter causado algum incomodo
em certos opinadores. Daqueles que, nas mais variadas televisões e outros órgãos
de comunicação social, têm a mania que fazem opinião. Para essa rapaziada, uma
passeata até à capital da república para exprimir indignação não será o
destino mais adequado a dar a umas centenas de euros oriundos do erário público.
Embora muitos deles não se tenham cansado de, num passado não tão distante
quanto isso, exaltar o direito dos portugueses à indignação. Desde que a
paguem, acrescentarão agora.
Parece não levantar grande celeuma a necessidade de uma
reorganização que envolva o fim de freguesias que hoje, praticamente, já não
têm habitantes e que, na prática, apenas existem no papel. É, também, consensual
que ao nível autárquico – municípios e freguesias – se esturra dinheiro se
forma absolutamente tresloucada. Mas, que diabo, apontar o dedo aos autarcas
que entenderam mobilizar os seus eleitores, mesmo gastando dinheiro de todos,
para a defesa do órgão da administração pública que está mais próximo do
cidadão comum, já me parece demais. Principalmente quando há tanta outra coisa,
mesmo a este nível, onde o procedimento é exactamente o mesmo. Assim de repente
estou a lembrar-me daqueles eleitores que ciclicamente são transportados para,
a título individual e apenas porque lhes apetece, participarem nas mais
diversas manifestações. De carácter lúdico, no caso. Estamos, portanto, perante
uma clara discriminação do manifestante. O que me deixa indignado. Ludicamente,
claro.
Actualização do estatuto e reformulação das freguesias, claro que sim. Mas não se acomodam anexos antes de se dimensionar a nave principal. Se os partidos da actual maioria feitos patos-bravos querem assentar tijolo sem cuidar dos alicerces, das oposições registe-se que em vez de construir atrapalham. Não há solução para o País com um sistema eleitoral talhado á conta e medida como alimento das clientelas partidárias. Inundados de naftalina trocam de actores e fatiotas, preservando á vez a chave bem guardada do palheiro que os vai engordando, repartindo e enfardando entre si em palco de simulação de guerrilhas para entretenimento público. Só uma emenda constitucional de emergência máxima será receita curativa para tão nociva moléstia, com renovação, refrescamento e distribuição com renovados e legítimos peões em tabuleiro a arejar com destreza. Das quase duas centenas e meia de deputados em corrente continua, aí uns 50% não tem feito mais que coçar cadeiras, agarrados, tolhidos e obedientes por vícios fósseis desde á mais de 30 anos. Nunca foram capazes, ou intencionalmente mascararam a emergência de parir uma nova, escorreita e transparente lei eleitoral. O modo e tempo da actual discussão do número de freguesias não passa de um mal encenado número circense, quando tudo deveria iniciar-se por uma constituição adulta e sem sofismas, pelo modo de eleição e assento no parlamento e órgãos autárquicos para que com legitimidade renovada se arquitecte o edifício administrativo do País. A redução do número de deputados deve andar perdida, a descentralização, (que não uma regionalização multiplicadora de benesses e burocracia), parece que se perdeu. Se os governantes de turno apenas rodeiam habilidosamente as questões estruturais de fundo, os anafados opositores enquanto arregalam o olho á espera de vez, vão-se coçando com um chega para lá macaco, que em vez de apontar alternativas decentes insistem em inundar-nos a pele, tossindo e salivando gafanhotos. Saltam de galho em galho como quem muda de camisa, de Faro para Braga como de Sintra para Lisboa.
ResponderEliminarMas conseguiu-se algo... teve impacto!!
ResponderEliminarCompara o impacto da greve espanhola com a a nossa!!
Eles lá não brincam em serviço.
Reforma administrativa sim, mas ao mesmo tempo que uma reforma eleitoral, nomeadamente introduzindo os círculos uninominais. Caso contrário os ganhos serão muito poucos.
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