domingo, 15 de abril de 2012

Paineleiros e outros populistas


Não era preciso ser bruxo nem possuidor dons adivinhatórios para saber que o resultado da brutal austeridade que está a ser imposta aos portugueses não seria muito diferente daquilo a que estamos a assistir. Houve, no entanto, parvos que não perceberam. E não me refiro aos que estão agora no governo nem aos que lá estiveram antes. Esses sabiam que as consequências seriam estas e este era o resultado que pretendiam. O que me surpreende é não assistir à penitência de todos aqueles que nos jornais, televisões, blogues ou em simples cavaqueira de café, defenderam esta politica suicida. Ou, se calhar, homicida. Porque, no fundo, o que se trata é de aniquilar a economia nacional e, por consequência, um número significativo de portugueses.
Causa-me, também, algumas náuseas a forma como é discutida a questão dos subsídios de férias e Natal dos funcionários públicos pela esmagadora maioria dos paineleiros. Todos, alegadamente, especialistas em medidas que nos hão-de tirar da crise. Ainda estou por perceber a razão porque escapa a esta gente que cerca de cinquenta por cento da alegada poupança constitui receita directa do Estado e da parte restante um valor significativo voltaria aos cofres públicos através do consumo. Ou, pior, porque raio nenhum deles denuncia que relativamente aos trabalhadores da administração local esse dinheiro vai apenas servir para os municípios e freguesias gastarem como muito bem entenderem, porque o governo vai transferir exactamente o mesmo valor.
Como sempre afirmei, a poupança com este corte é em termos orçamentais – ponderados os valores da despesa que fica por pagar e a receita por cobrar – praticamente residual. Envolve, antes, muita demagogia, populismo e uma mal disfarçada vontade de colocar uns portugueses contra os outros. Ou, como diria um fulano que em tempo entendia que outros tinham que nascer duas vezes para serem mais honestos do que ele, “temos é de nos preocupar com o desemprego”. É, sem dúvida, verdade. Mas uma coisa não desculpa a outra. E misturar as duas parece-me vagamente estúpido. Pelas razões expostas e, principalmente, pela falta de argumentos para as rebater.

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