Todos os anos por esta altura a comunicação social, na falta de
melhor, faz questão de nos lembrar como se vivia antes de 25 de Abril de 1974.
Invariavelmente enfatiza os hábitos, costumes e leis parvas que então vigoravam,
transmitindo-nos a ideia que foi graças aos acontecimentos daquele dia e dos
que se seguiram que hoje vivemos muitíssimo melhor, livres de um legislador ridículo
e caquéctico. Tudo isto sem o conveniente distanciamento ou enquadramento no
tempo que então se vivia. O que já não acontece relativamente aos tempos que se
seguiram. Perante os crimes, a parolice – de que o gajo da ferramenta no
documentário sobre a ocupação da herdade da Torre Bela, é um magnífico exemplo –
e as selvajarias então cometidas, existe uma ternurenta condescendência e a
constante preocupação em nos recordar que, então, vivíamos tempos conturbados, tínhamos
ânsia de liberdade e que estávamos todos a aprender a viver em democracia. Seja
lá o que for que tudo isso queira dizer.
Vivi os últimos anos do regime anterior e tenho memória de como
eram as condições de vida de então. Obviamente que hoje – pelo menos até agora –
vivemos incomparavelmente melhor, em todos os aspectos, do que antes daquela
data. Mas seria inevitável, mesmo sem golpe de Estado, que as coisas acabassem
por mudar. Tal como ocorreu em Espanha e nos países da Europa de leste. A
ditadura tinha os dias contados e, de certeza, teríamos tido uma transição para
a democracia sem sobressaltos nem destruição do tecido económico e financeiro
do país. Prefiro dizer, mesmo sendo politicamente incorrecto – prática de que
não abdico - que estamos muito melhor apesar do 25 de Abril. Por enquanto.
Daí que não veja grandes motivos para comemorar a data.
Congratulo-me, até, por os festejos anuais serem agora bastante mais discretos
do que há uns anos atrás. Será mesmo da mais elementar justiça deixar aqui um
grande bem-haja a quem teve a sensatez de acabar com o foguetório que
assinalava a ocasião. Estoirar - principalmente daquela forma inglória - o dinheiro que a todos custa a ganhar é coisa de um passado que, à semelhança do
outro, também se quer distante.
Aqui, eram 00h06m começou o festival de fogo de artificio... Terminou quando ao olhar para o relógio me deparei com umas 00h13m.
ResponderEliminarO meu pensamento foi: "há alguém na rua, perdido de bebado, que saiba porque é que o dinheiro foi gasto desta maneira?". Voltei-me para o lado e adormeci.
Subscrevo inteiramente o que dizes!
ResponderEliminarConcordo que as coisas mudariam um dia, mas não retiro o mérito a quem as efectivamente mudou!
ResponderEliminarUm abraço,