domingo, 2 de outubro de 2011

Ladroagem


Ontem, pela tardinha, desloquei-me a um terreno agrícola – uma courela, vá – propriedade da família, com a intenção de apanhar os frutos da época que as árvores por lá existentes vão insistindo em produzir. A deambular pelo local encontrei um indivíduo todo vestido de preto, barbudo, de chapéu igualmente preto enfiado pela cabeça, acompanhado da sua prole e dois ou três cães que, provavelmente, fariam igualmente parte do agregado familiar. Questionado acerca dos motivos da sua presença numa propriedade privada, isolada e completamente fora de qualquer rota, justificou-se com uma alegada caçada aos ouriços. Ou, na sua linguagem, “aiiiii….andemos aos ouriçuuussss”. Bichos que, diga-se, nunca vi por ali. Deve ser porque os gajos os caçam todos.
De referir que não foi necessária grande insistência para que o cavalheiro e seus acompanhantes, de duas e quatro patas, se pusessem ao fresco. Tal como não foi preciso muito tempo para constatar que frutos eram coisa que já não existia nas árvores. Não sei se deva relacionar a visita – esta ou outras que notoriamente ocorreram antes – com a ausência das nozes, marmelos ou romãs que esperava colher. Se calhar será abusivo da minha parte sugerir que gente vestida de preto, barbuda e de chapéu me anda a assaltar a propriedade. Até porque nem todos os ladrões estão de luto.  É bem capaz de outros, que se vestem de cores mais garridas e se deslocam em furgões brancos, também irem lá de vez em quando dar uma mãozinha. Pena que não lhe dê para cortar as silvas que, muito mais do que os frutos, vão crescendo a um ritmo alucinante.

4 comentários:

  1. E ainda há quem acredite que somos um país desenvolvido...

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  2. Gostei desta fina ironia...!
    Um abraço.

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  3. e caçam mesmo e comem-nos grelhados que provoca um pivete desgraçado!

    Podiam pedir, mas preferem a ladroagem que na venda não pagam impostos e como dizes e bem...outros coloridos fazem o mesmo.

    Eu gamo SIM, em casas abandonadas e cujas ramadas sem qualquer "tratamento" estão para o lado de fora dos restos mortais do que em tempos foram muros. Mas como na hora:):) e por vezes trago alguma fruta para casa porque me dá tanta pena o abandono e o estragar de tanta fruta!

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  4. Pedro Soeiro12:53 da manhã

    Aiiii, agora pedir para cortarem nas silvaaaaas... Elas piiiicaaam.
    Um abraço, escelente texto.

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