sábado, 19 de junho de 2010

As cinzas dos dias que passam

Desde ontem que nas televisões nacionais apenas dá Saramago. E, ainda, Mundial de futebol. Dois temas que me causam um aborrecimento desmedido e que contribuem por dar por bem empregue cada euro da factura da televisão por cabo. Não fora a calosidade que se começa a formar no polegar da mão direita – a que movimenta o comando – e nem lamentava que apenas dois temas tão desinteressantes ocupassem tanto tempo da antena televisiva nacional. 
Apesar de não apreciar a escrita do ex-director do Diário de Noticias, admito que alguma qualidade terá. Se assim não fosse a criatura não teria obtido o reconhecimento à escala mundial que obteve. Mas não gosto e, quanto a isso, nada há a fazer. Não vou, ao contrário de muito boa gente, dizer que aprecio apenas para dar ares de possuidor de um intelecto superior. 
Apreciava ainda menos o homem que o escritor. Arrogante e mal educado eram algumas das características que, a julgar pelas aparições televisivas, o fulano demonstrava possuir e que o seu desaparecimento não apaga. 
Manifestamente exagerado me parece também o envolvimento do Estado nas exéquias fúnebres deste senhor. Pagar um avião, só para ir buscar o corpo e levar parte das cinza de volta, quando se coloca a hipótese de encerrar serviços do INEM – que, habitualmente, cuidam dos vivos - por falta de dinheiro é de um descaramento inqualificável. Até porque lá por Lanzarote deve haver quem saiba fazer fogueiras. 
Há, em alturas como esta, quem se sinta na obrigação de vir fazer o elogio do falecido. Não eu. O senhor viveu a sua vida, longa por sinal, e partiu no tempo adequado. Como, dadas as circunstâncias, a expressão não é apropriada não vou desejar que a terra lhe seja leve. Faço apenas votos para que ninguém snife as suas cinzas.

4 comentários:

  1. Manuel Costa3:28 da tarde

    Eu acrescentaria: A um homen que não gostava da sua terra, a sua terra nada lhe deve, muito menos honras de estado.

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  2. Goste ou não se goste, foi e será um icone da nossa literatura. Eu não gostava da sua escrita, mas gostava imenso de o ouvir falar e de algumas frases e reflexões que disse. Reconhecido mundialmente recebeu o prémio Nobel e o discurso EXCELENTE está disponível no Youtube!
    Ele gostava da sua terra, mas a sua ida para Lazarote deve-se exclusivamente a "uma guerra" de Sousa Lara, outro grande escritor e poeta muitooooooo católico, ex-secretário de Estado da Cultura do tempo de Guterres ou Cavaco, há uns 12 anos, sobre o livro de Saramago "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" o que prova o que sempre digo: o não saber respeitar a opinião de cada um e que a liberdade de um termina quando começa o do outro e nisso tiro-lhe o meu chapéu, deu no que deu, mas foi um homem que acima de tudo e todos, sem medos dizia a quem quer que fosse o pensava, sentia, idealizava e sempre com uma postura EDUCADA. Não acreditava, era ateu e expunha as suas ideias e ainda querem mudar/pronunciar/ as ideias "mais radicalistas de outros povos, de outras culturas".
    Sousa Lara lamentou a sua morte mas disse que não retiraria uma palavra do que disse porque "escreveu sempre atacando os católicos". Venha o diabo e escolha. Enfim!

    Era um homem triste, mas quem privava com ele dizia que era muito humano e que interessa se mostrava um ar arrogante como muitos dizem se a maioria das vezes o que parece não é?

    Concordo com muitas coisas que dizes tal omo "são de factos manisfestamente exageradas o envolvimento do Estado nas exéquias fúnebres" quando há tanta coisa onde gastar dinheiro, mas é sempre assim com todos e todas...em vida foi reconhecido mas contestado por muitos e depois de morto tocam clanieretes e blá, blá.
    Bem ao estilo português lá foi a correria aos seus livros e relembro uma frase dele:

    "Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos"!

    No mesmo dia, um ilustre desconhecido...que falo no meu post!

    Não irei lá, mas o povo adora ver estas cerimónias e que descanse em paz e os meus pêsames aos familiares, amigos (tinha muitos) e desconhecidos.

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  3. Chato mesmo, foi o presidente da república não ter ido. Foi uma falta de respeito, dizem. Se tivesse ido era uma hipocrisia, diriam.

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  4. Foi 1 escritor sui-generis, gosto do seu humor e fervor contra o clero.
    Admiro a sua coragem de falar aberta e frontalmente com as pessoas icomode a quem incomodar.
    Gostei da coroa enviada de Cuba.
    Para gostar de 1 livro Saramago é preciso gostar de ironia, humor e histórias mirabolantes...
    Foi 1 homem à frente para o seu tempo
    MFCC

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