sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Estórias de um reino distante

Naquele reino distante, tão distante que até chateia de tão distante que é, o rei, convencido por um dos barões mais chegados, decidiu importar um conceito todo modernaço e implementar um sistema de gestão da qualidade lá na corte. Durante anos a fio os diversos serviços do reino, em lugar de trabalhar para o bem-estar do povo, entretiveram-se a inventar esquemas, cada um mais ardiloso que o outro, para provar que eram bons e que cumpriam os requisitos tendentes a obter a certificação de qualidade. Como não podia deixar de ser – eram eles a pagar - ganharam o desafio, foram-lhes concedidos uma espécie de certificados muito jeitosos e conquistaram até uma bandeira que, todos ufanos, hastearam nas varandas do palácio real.
Claro que esse facto nada mudou na corte, no reino ou na vida dos subditos. Essa coisa da qualidade, por mais orgulhosa que deixasse a realeza, em nada interessava à plebe. Nem tão pouco aos escudeiros, pajens, aias e outra vassalagem que, para mal dos seus pecados, eram obrigados a cumprir, ou a fingir que cumpriam, objectivos ridículos ou rebuscadamente idiotas - não raramente as duas coisas – inventados pelos escrivões do séquito real. O que, como é fácil de calcular, contribuiu para o descrédito do rei, não causando por isso estranheza de maior que tivesse sido posto um ponto final ao seu reinado e que este fosse forçado a abandonar o trono.
Obviamente que a qualidade é, como o próprio nome indica, uma coisa boa. Estabelecer como prioridade para a criadagem da limpeza a redução do número de pisadelas na merda de cão, devidamente confirmadas por uma comissão independente especializada no assunto, seria um objectivo simpático. Até porque a merdoca canina está na rua, onde o povo a pisa, e não dentro do palácio real onde o rei e o restante séquito têm quem lhes trate dos sapatos.
Tudo isto, repito, passou-se num reino distante. Tão distante que até chateia de tão distante que é.

2 comentários:

  1. Verdade seja dita, em reinados distantes, tão distantes que até faz impressão, muitas vezes a plebe não merece o rei que tem pois, mergulhada em décadas de ignorância, custa a diferenciar a qualidade e modernidade do vulgar e brejeiro.
    Consta inclusivé, em reinos imaginários, que a plebe prefere um copo de vinho avinagrado a uma barra de ouro porque o ouro não se bebe nem se come.
    Há uma história que fala inclusivé de um povo que passa a vida em festa, samba e cerveja barata, nem chegam a perceber que vivem as suas vidas em favelas que nem são dignas de cães (desses que sujam os passeios europeus).
    Mas isto somos nós a falar na base dos contos de fadas, obviamente nada disto se passa nos dias que correm em pleno séc. XXI.

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  2. Como aqui se diz...
    "Vem de trás e vai para a frente..."
    Já no tempo dos reinos havia merd* canina, agora há e vai continuar a haver até que alguém FAÇA alguma coisa e tome medidas mais drásticas.
    Eu criava um espaço para WC canino nos arredores da cidade, bem longe do centro, da vista e do nariz dos Estremocenses...
    MFCC

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