Numa acção de formação promovida pelo Tribunal de Contas que frequentei já lá vão para aí vinte anos, o formador, distinto jurista daquela instituição, explicou o “modus operandi” que, à época, aquele Tribunal utilizava na recolha das primeiras impressões quando realizava auditorias externas às autarquias locais, nomeadamente às mais pequenas, do interior do país e com presidentes menos mediáticos.
Explicou-nos então o Doutor X, chamemos-lhe assim, que o trabalho iniciava-se umas semanas antes, com a leitura e compilação de notícias saídas na imprensa relacionadas com a localidade a visitar. Seguia-se uma visita onde, de forma incógnita, se iam ouvindo conversas de café, falando com alguns comerciantes e abordando um ou outro funcionário da autarquia – jardineiro, varredor ou algo do género – a quem perguntava o caminho para o edifício dos Paços Concelho e, como quem não quer a coisa, dava dois dedos de conversa sobre ordenados pequenos que por vezes são arredondados de formas mais ou menos ardilosas. Procedimentos que, garantia, se revelavam quase sempre eficazes na detecção de situações eventualmente menos transparentes.
Hoje nada disso é necessário. Comodamente sentado no seu gabinete, com meia dúzia de cliques, pode aceder a um leque de informação muito mais variada e completa acerca da instituição que lhe caiba auditar. É essa a força das novas tecnologias, nomeadamente dos blogues, que a alguns tanto assusta. O que se escreve acerca de determinada assunto pode ser lido em qualquer lugar do planeta a qualquer momento. Tanto pode ser lido num cyber-café do outro lado do mundo como no gabinete de um ministro. Hoje ou daqui por seis meses. Por mim considero este escrutínio claramente positivo. Sabendo-se de alguma forma vigiado o decisor tenderá, por norma, a ter um maior cuidado e um rigor redobrado nas decisões a tomar e, com isso, todos ficarão a ganhar.
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