quarta-feira, 25 de abril de 2012

Felizmente já não há foguetes.


Todos os anos por esta altura a comunicação social, na falta de melhor, faz questão de nos lembrar como se vivia antes de 25 de Abril de 1974. Invariavelmente enfatiza os hábitos, costumes e leis parvas que então vigoravam, transmitindo-nos a ideia que foi graças aos acontecimentos daquele dia e dos que se seguiram que hoje vivemos muitíssimo melhor, livres de um legislador ridículo e caquéctico. Tudo isto sem o conveniente distanciamento ou enquadramento no tempo que então se vivia. O que já não acontece relativamente aos tempos que se seguiram. Perante os crimes, a parolice – de que o gajo da ferramenta no documentário sobre a ocupação da herdade da Torre Bela, é um magnífico exemplo – e as selvajarias então cometidas, existe uma ternurenta condescendência e a constante preocupação em nos recordar que, então, vivíamos tempos conturbados, tínhamos ânsia de liberdade e que estávamos todos a aprender a viver em democracia. Seja lá o que for que tudo isso queira dizer.
Vivi os últimos anos do regime anterior e tenho memória de como eram as condições de vida de então. Obviamente que hoje – pelo menos até agora – vivemos incomparavelmente melhor, em todos os aspectos, do que antes daquela data. Mas seria inevitável, mesmo sem golpe de Estado, que as coisas acabassem por mudar. Tal como ocorreu em Espanha e nos países da Europa de leste. A ditadura tinha os dias contados e, de certeza, teríamos tido uma transição para a democracia sem sobressaltos nem destruição do tecido económico e financeiro do país. Prefiro dizer, mesmo sendo politicamente incorrecto – prática de que não abdico - que estamos muito melhor apesar do 25 de Abril. Por enquanto.
Daí que não veja grandes motivos para comemorar a data. Congratulo-me, até, por os festejos anuais serem agora bastante mais discretos do que há uns anos atrás. Será mesmo da mais elementar justiça deixar aqui um grande bem-haja a quem teve a sensatez de acabar com o foguetório que assinalava a ocasião. Estoirar -  principalmente daquela forma inglória - o dinheiro que  a todos custa a ganhar é coisa de um passado que, à semelhança do outro, também se quer distante.   

3 comentários:

  1. Aqui, eram 00h06m começou o festival de fogo de artificio... Terminou quando ao olhar para o relógio me deparei com umas 00h13m.
    O meu pensamento foi: "há alguém na rua, perdido de bebado, que saiba porque é que o dinheiro foi gasto desta maneira?". Voltei-me para o lado e adormeci.

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  2. Subscrevo inteiramente o que dizes!

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  3. Concordo que as coisas mudariam um dia, mas não retiro o mérito a quem as efectivamente mudou!
    Um abraço,

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