domingo, 2 de maio de 2010

A má moeda (ou a falta de memória)

Numa altura em que se procuram explicações para a situação que vivemos, são já muitos os que não hesitam em apontar a nossa adesão à moeda única como um dos principais factores que contribuiu para chegarmos a este estado de coisas. Há mesmo quem sugira a nossa saída do euro e o regresso ao velhinho escudo. Voltar a ter controlo sobre a política monetária será, garantem alguns teóricos, a única forma de ultrapassar a crise em que nos encontramos.
O retorno à antiga moeda nacional era capaz, digo eu, de ser coisa para ter a sua piada. Ao contrário do que aconteceu com os “réis”, que noventa anos depois da sua extinção ainda eram recordados - sou do tempo em que vinte mil réis, que é como quem diz vinte escudos ou, hoje, dez cêntimos, tinham direito a nota – actualmente já quase ninguém se lembra do escudo nem, muito menos, da sua valia. Com a entrada em vigor do euro perdeu-se por completo a noção do valor do dinheiro e gasta-se de uma maneira desregrada e sem a percepção de quanto estamos realmente a gastar. Daí que o regresso ao escudo tivesse, pelo menos, a grande vantagem de nos trazer de volta à realidade e de nos fazer acordar de um sonho. Que poderá estar muito perto de se tornar o maior pesadelo que a minha e as gerações mais novas viveram. 
Só por curiosidade vejamos quanto nos custariam hoje em escudos, ou poderão vir a custar amanhã se a equivalência à entrada se mantiver à saída, alguns bens ou serviços pelos quais pagamos sem nos apercebermos bem do valor que estamos a despender: 
Café – 110$00;
Pastel de nata – 160$00;
Cerveja (numa espelunca) – 190$00;
Moeda para o arrumador – 200$00;
Litro de gasolina – 288$50;
Entrada na Fiape – 400$00;
Bilhete para o futebol (2ª divisão distrital) – 800$00;
Maço de cigarros – 900$00;
Viagem de autocarro Estremoz-Lisboa e volta – 4.972$00;
Bilhete de um dia para o Festival Optimus Alive – 10.000$00 (Dez contos!!!).

8 comentários:

  1. De facto perdeu-se completamente o controlo sobre o real valor do dinheiro...incrível!

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  2. Tem piada que, quando faço qualquer compra, ainda transponho o seu valor para escudos (tal como os meus avós o faziam na relação escudo/réis)...
    Quanto aos preços super-caros, é um sinal dos tempos...
    Compadre Alentejano

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  3. Ainda há pouco tempo, um amigo comentava uma compra que andava a matutar fazer. No meio das explicações, sai-se com esta: é pá, é que são só 1000 euros, estás a ver?

    Eu sorri e disse: bom, 1000 euros são 200 contos, estás mesmo disposto a pagar tanto por isso?

    O ar de pateta dele disse-me tudo sobre a noção do valor do euro que este amigo, e muita mais gente, tem. Pneso que vai repensar.

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  4. Também sou do tempo em que tenho, a partir de certos montantes, de fazer as contas em escudos ou contos.

    Mas a mudança de moeda é um fenómeno recorrente na história de todos os países.

    Mas, na realidade, nunca tivemos qualquer controlo sobre a política monetária. Quantos saberão que o banco central português, até 1974, era privado?

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  5. Eu ainda faço algumas contas em escudos antes de comprar e se achar caro digo "isso custava X em escudos" 'é muito caro!'
    Mas sabe...?
    Eu não voltava ao escudo!
    Quando se sai fora da Europa vemos o quando o nosso dinheiro é forte, por exemplo na África do Sul, o meu dinheiro bem que rendeu...
    Para sair da crise é produzir mais, expertat mais e SACAR muita gente do poder político e da presidencia dos bancos...
    Haver mais transparência na política e em todos os cargos.
    Só se devia ocupar cargos consoante a nossa competencia téncica e não como eu vejo... economistas e juristas em cargos que não lembra nem ao diabo e depois vem as tais calinadas ou desconhecimento do "coisa"...
    Mais não digo porque não não sei...
    Mas não sou burra!
    MFCC

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  6. Fui contra a nossa entrada na CEE e depois no UE-EURO, mas quem sou eu? um mero peão deste enorme xadrez.
    Numa altura destas sair, a meu ver seria mais catastrófico mas nada que eu não subscrevesse:)

    Os que viveram o "escudo" e ensinados a fazerem contas valorizam melhor o euro e não gastam à toa.

    Há dias ia entrar no carro quando vejo um jovem a despejar o cinzeiro do carro (ouviu logo) e a seguir uma mão cheia de moedas de 5, 2 e 1 centimo. Não quer? Tome que isto só me atrapalha e dá-me cabo da caixa do carro (carro? carrão) e deu-me. Eram apenas 5,50€, ou seja 1.100$00.
    A tendência é acabar com estas moedas - que só chateiam - e quando me dizem destas fico incomodada por não perceberem que se assim for tudo subirá drasticamente.

    Daí subscrever totalmente este teu esplanar de ideias com muita razão.

    Parabéns pelo post!

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  7. Lembro-me que o meu 1º choque "eurónico" foi o café passar de 55$ para 0,50€. De repente estávamos a pagar o dobro sem reparar.

    ****

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  8. Boas,

    todos os produtos foram convertidos para o dobro do preço, o problema foi q a única coisa q foi convertida de forma "correcta" foi o ordenado.

    Aki é q está a origem da crise.

    Com o mesmo ordenado temos de pagar o dobro do preço em tudo.
    se nos primeiros anos estranhou-se mas "n se ligou muito" agora estamos a ver q a coisa vai rebentar e já se fala em sair do Euro lol

    isto mais os ladões q é o q são, perdão, gestores , tipo Dias loureiro, Joao rendeiro, etc etc vão levar isto á falencia total.

    O Medina Carreira é q tem razão( apesar de ser um ditadorzeco lol), at´´e uma dona de casa gere este pais. se temos 100, n podemos gastar 200.
    ora esta cambada de governantes parasitas q temos tido( todos, Psd, PS...) têm 100 e têm gasto 10 000 durante estes anos todos.
    e depois ah e tal temos de apertar o cinto para bem do país.
    Apertem é o caralho.

    Mas enfim, enquanto o desemprego n tocar directametne a cada portugues isto vai ficando em lume brando....

    Cumps

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