A Direcção-Geral das
Artes faz publicar hoje no Diário da República a listagem dos subsídios que
atribuiu no primeiro semestre do corrente ano. A conta ultrapassa os seis
milhões de euros. Seis milhões, repito. E apenas nos primeiros seis meses do
ano. O que significa mais de doze milhões até final do ano se a coisa continuar
a este ritmo. Os beneficiários – cerca de uma centena - deste esbanjar de
dinheiro público são associações que se dedicam à música, ao teatro, à dança e
actividades congéneres.
Entre elas podemos
encontrar nomes verdadeiramente sugestivos e surpreendentes que, de certeza,
muito contribuirão para o interesse geral do país. Temos, por exemplo, a “Associação
Cão Solteiro” contemplada com 35.111,90€, a “Associação Cultural As Boas Raparigas
Vão Para o Céu” a quem o Estado atribuiu 25.011,56€, a “Bomba Suicida” que viu
a sua conta reforçada, à nossa custa, em 24.465,85€ e a “Associação Zé dos Bois”
agraciada com a simpática quantia de 50.000 euros. Mais sorte tiveram,
entre outros, os “Artistas Unidos”, que se orientaram com 230.000€, a “Cooperativa
de Teatro de Animação O Bando”, com 240.000€, o “Teatro da Cornucópia", com
175.000€ ou a “Associação Cultural e Recreativa de Tondela, que levou a módica
quantia de 110.490,06 euros.
Nenhuma das associações
beneficiárias dos subsídios hoje divulgados se dedicam a apoiar desempregados,
a ajudar criancinhas com fome, a mitigar as dificuldades de velhinhos com
baixas reformas ou a promover qualquer forma de apoio social que o Estado não
cubra. Nada disso. São artistas. Uma actividade respeitável, sem dúvida, mas que
se devia sustentar a si própria. Não sustentando, como parece ser o caso,
podemos concluir que a arte produzida não será boa o suficiente para ter
rentabilidade e, por isso, necessita da mão protectora do Estado. Ou seja, que
todos nós a sustentemos.
Numa altura em que tanto
se protesta contra os cortes brutais nos salários – eu já me queixo há dois
anos, mas parece que enquanto eram apenas os funcionários públicos não fazia
mal – não posso deixar de estranhar o silêncio acerca deste tipo de despesa
pública. Porra, seis milhões é muita coisa para esturrar em palhaçadas. Que,
para precisarem de subsídios, nem devem ter grande piada.
Sem comentários:
Enviar um comentário