quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Subsidiodependência



A Direcção-Geral das Artes faz publicar hoje no Diário da República a listagem dos subsídios que atribuiu no primeiro semestre do corrente ano. A conta ultrapassa os seis milhões de euros. Seis milhões, repito. E apenas nos primeiros seis meses do ano. O que significa mais de doze milhões até final do ano se a coisa continuar a este ritmo. Os beneficiários – cerca de uma centena - deste esbanjar de dinheiro público são associações que se dedicam à música, ao teatro, à dança e actividades congéneres.
Entre elas podemos encontrar nomes verdadeiramente sugestivos e surpreendentes que, de certeza, muito contribuirão para o interesse geral do país. Temos, por exemplo, a “Associação Cão Solteiro” contemplada com 35.111,90€, a “Associação Cultural As Boas Raparigas Vão Para o Céu” a quem o Estado atribuiu 25.011,56€, a “Bomba Suicida” que viu a sua conta reforçada, à nossa custa, em 24.465,85€ e a “Associação Zé dos Bois” agraciada com a simpática quantia de 50.000 euros. Mais sorte tiveram, entre outros, os “Artistas Unidos”, que se orientaram com 230.000€, a “Cooperativa de Teatro de Animação O Bando”, com 240.000€, o “Teatro da Cornucópia", com 175.000€ ou a “Associação Cultural e Recreativa de Tondela, que levou a módica quantia de 110.490,06 euros.
Nenhuma das associações beneficiárias dos subsídios hoje divulgados se dedicam a apoiar desempregados, a ajudar criancinhas com fome, a mitigar as dificuldades de velhinhos com baixas reformas ou a promover qualquer forma de apoio social que o Estado não cubra. Nada disso. São artistas. Uma actividade respeitável, sem dúvida, mas que se devia sustentar a si própria. Não sustentando, como parece ser o caso, podemos concluir que a arte produzida não será boa o suficiente para ter rentabilidade e, por isso, necessita da mão protectora do Estado. Ou seja, que todos nós a sustentemos.
Numa altura em que tanto se protesta contra os cortes brutais nos salários – eu já me queixo há dois anos, mas parece que enquanto eram apenas os funcionários públicos não fazia mal – não posso deixar de estranhar o silêncio acerca deste tipo de despesa pública. Porra, seis milhões é muita coisa para esturrar em palhaçadas. Que, para precisarem de subsídios, nem devem ter grande piada.

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