sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Somos mesmo espertos



O nível de conhecimento acerca dos seus direitos evidenciado pelos portugueses é verdadeiramente notável. Raro é o dia em que nas televisões não aparece alguém a reclamar “os meus direitos”, por vezes em circunstâncias dramáticas – reconheça-se – mas com um tom, por mais justo que seja aquilo que reclama – e, sublinho, admito que a matéria reclamada constitua algo da mais elementar justiça – dá logo vontade de embirrar. Podiam, acho eu, reclamar tão-somente que se cumpra o que a lei prevê na situação em causa. Mas não. Enchem a boca com “os meus direitos” e isso, visto de fora, provoca de imediato a sensação de que a frase estará incompleta pela falta de alusão à parte dos deveres. Que, parece-me, devia andar sempre associada aos direitos.
Mas se muitos terão motivos mais do que suficientes para invocar os seus direitos, outros há que quando o fazem mais valia estarem calados. Foi o caso de um gajo, entrevistado por uma televisão que acompanhava a acção de uma equipa de fiscais da Carris, apanhado a viajar de autocarro sem estar munido do respectivo título de transporte. O homem, apesar do aspecto parecer evidenciar que não trataria de alguém especialmente letrado, falou com desenvoltura dos direitos que lhe assistiam, mostrando um vastíssimo conhecimento da legislação aplicável à infracção que acabara de cometer. Garantido que pagar a coima não era com ele e que daí não adviriam consequências de nenhuma espécie.
Somos, parece licito concluir, um povo que sabemos tudo acerca dos nossos direitos e que, tal como escrevi aqui, adoramos o dever. Assim mesmo. Os primeiros no plural e o segundo no singular. Somos mesmo espertos.

1 comentário:

  1. Mudar mentalidades demora séculos e meu amigo e o que te dizer? Que subscrevo o que dizes, mas acrescento com uma "afirmação"...que quem nos governou e governa, vomitam as leis, desde o Presidente ao simples Município são os primeiros a prevaricar em tudo dando um péssimo exemplo.

    Enfim!

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