Manuela Ferreira
Leite caiu, finalmente, nas boas graças dos portugueses. O discurso, em tom
mais ou menos arruaceiro, agradou à generalidade dos que se não revêem nas
actuais opções políticas de quem nos governa e o descontentamento daí
decorrente acabou por fazer o resto. Rapidamente
se esqueceram umas quantas tiradas mais ou menos infelizes - como a suspensão
da democracia ou a hemodiálise para os velhotes ficar reservada só para os que
a possam pagar – e vá de elogiar a clarividência da senhora. Seja pela sua
quase disponibilidade para participar em manifestações ou, principalmente, pela
feroz defesa que a criatura fez dos reformados. Os tais que, ainda um destes
dias, ela achava que só deviam ter acesso a tratamentos médicos se os pagassem.
Devo ter sido o
único, de entre os que não gostam de Passos Coelho, a achar as declarações da
porta-voz de Cavaco um verdadeiro disparate. Um conjunto de baboseiras, a
bem-dizer. Primeiro porque me lembro que foi a senhora, no tempo em que ocupou
o lugar de ministra das finanças, a congelar o vencimento dos funcionários
públicos para, ao que à época argumentava, controlar o défice. O resultado é sobejamente
conhecido. Tal como agora, o desequilíbrio das contas não parou de aumentar. E,
convém não esquecer, tomou a mesma medida dois anos consecutivos. Como aquele
médico que lhe serviu de exemplo, também ela insistiu na receita apesar do estado
de saúde do paciente se ter agravado.
Depois a questão
das reformas. Num momento de rara sagacidade, a ex-lider do PSD comparou os
descontos que os trabalhadores fazem ao longo da vida a um depósito bancário.
Sugerindo que, por isso, as pensões não podem ser cortadas dado que o dinheiro
que os pensionistas estão agora a receber é o que foram, ao longo da vida
contributiva, entregando ao Estado. Não é, obviamente, assim. A segurança
social não funciona num sistema de capitalização do tipo PPR. Quem trabalha faz
os seus descontos e estes servem para pagar aos reformados de hoje esperando
que, no futuro, a geração seguinte faça o mesmo.
Percebo que a
senhora não goste de ver a sua pensão diminuída e aproveite o tempo de antena
que lhe dão para puxar a brasa à sua sardinha. Não precisa é de ser demagoga –
até porque a sua carreira política já acabou – nem querer fazer dos outros
parvos. Teve, enquanto interveniente na vida política, sobejas ocasiões para
fazer alguma coisa pelos reformados que vivem com reformas de miséria e, por
mais que me esforce, não me ocorre nada de bom a que possa associar o seu nome.
Pena que, tal como dizia o outro, haja tão fraca memória na politica e nos políticos.
E nos portugueses de uma maneira geral.
Se já não gostava dela...hoje nem a consigo ouvir...porque fora do poleiro todos falam...mas terá ela memória para se esquecer que foi ela aumentou o IVA de 17 para 19%?
ResponderEliminarTerá já abdicado do subsidio vitalício?
Tens toda a razão no que dizes!