domingo, 23 de setembro de 2012

O dever acima de tudo



Esta crise que nos atormenta é culpa nossa. De todos os portugueses em geral e de alguns em particular. Embora, como em tudo na vida, uns sejam mais culpados do que outros e a esmagadora maioria não passe de miseráveis cúmplices. Grupo este – o último – em que vergonhosamente me encontro incluído. E nem sequer é pelo facto de, no passado, ter votado nos que lá estiveram, nos que lá estão agora ou, no futuro votar nos que hão-de ir para lá continuar a afundar o rectângulo. Digamos que sou cúmplice porque, cobardemente, nunca fui capaz de espetar um par de murros nos cornos dos políticos quando eles anunciaram a intenção de realizar as obras onde esturraram muitos milhares de milhões. Quem diz eu, diz os outros quinhentos mil que andaram por aí a manifestar-se um destes dias.
Há, depois, a questão dos princípios pelos quais nos regemos. Achamos, por exemplo, que o dever está acima de tudo. Ao pagar ninguém dá importância nenhuma e, como toda a gente sabe, está na nossa escala de valores cá muito por baixo. Fazemos mesmo gala em afirmar que pagar e morrer é a última coisa que se faz na vida. Temos, também, em elevada conta aqueles que morrem no cumprimento do dever. Dos que pagam, desses, nem reza a história. Repare-se igualmente como o pagamento está sempre associado a uma espécie de penitência. Já o dever é, em muitas circunstâncias, quase confundido com um direito. Podia continuar por mais umas linhas a lembrar o quanto o dever é enaltecido entre nós em detrimento do pagamento. Mas não posso. O dever chama-me.

1 comentário:

  1. Faço parte do teu clube e tiro-te o meu chapéu!

    Só um par de murros? Comigo iam também outras coisas tais:):):)

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