Da
leitura de blogues de uma localidade não muito distante concluo que a autarquia
lá do sítio terá uma divida colossal à banca, a fornecedores e aos chamados
agentes culturais e desportivos do concelho. Nada que, relativamente à divida
financeira, inquiete alguém. Tão pouco o atraso na regularização dos pagamentos
às empresas que venderam bens e prestaram serviços à autarquia é merecedor de
grandes preocupações. O mesmo não se pode dizer da falta de cumprimento dos
compromissos assumidos pela edilidade para com os tais “agentes”. Isso aí é que
“alto lá e pára o baile”, que não pode ser.
Obviamente
que as dividas, seja qual for a sua natureza, são para pagar. O que não se
percebe é que o movimento associativo lá da terra exija um tratamento de
excepção e que se arrogue no direito de receber o que lhe é devido, de forma
prioritária relativamente aos restantes credores. Fizeram, com certeza, a
planificação das suas actividades na perspectiva de receberem atempadamente os
valores em causa e o incumprimento autárquico estará certamente a causar transtornos.
Mas, e isto não se afigura difícil de perceber, o mesmo sucederá com as
empresas que aguardam a regularização de dezassete milhões de euros há mais de
trezentos e sessenta dias.
Perante
este cenário, nem sei como classificar argumentos do tipo “o chavão da falta de
dinheiro já não convence”, usado para criticar o atraso no pagamento das
quantias acordadas com as associações. Há quem tenha dificuldade em perceber,
especialmente na área cultural onde por norma as pessoas são mais avessas a
números, que o dinheiro, tal como tudo, também pode acabar. Ou, no mínimo, que
se trata de um bem escasso para ser usado com ponderação. O que, dadas as
evidências, não terá acontecido no caso em apreço. E é a ausência de crítica
das gentes da cultura à gestão desastrosa que os conduziu até este estado de
coisas, que me deixa verdadeiramente perplexo. Pior. Se reclamam é apenas
porque a tal Câmara promoverá, na opinião deles, poucas actividades culturais. Ou
seja, a divida até podia atingir valores ainda mais astronómicos que, desde que
eles recebessem, estaria tudo bem. Com uma cultura destas não admira que o país
esteja neste estado!