Relembra o
Luís, a propósito do post que publiquei ontem, que o poder de compra que detinha no ano em que foi emitida a nota de “vinte mil réis” da fotografia - 1978 – era muito superior ao actual. Mesmo sem recurso a números que o comprovem não hesito, assim a olhómetro, em dar-lhe razão.
Comecei a trabalhar pelos finais de 1980. Auferia então a fantástica quantia de oito contos e novecentos escudos – quarenta e quatro euros e quarenta cêntimos – correspondentes à penúltima posição da escala salarial da função pública - sim, porque nessa altura não se assentava praça em general – e, ainda ainda assim, conseguia viver razoavelmente bem numa cidade a cento e cinquenta quilómetros de casa. Claro que não sobrava muito para poupanças, mas isso também não era coisa que constasse das preocupações de um ainda teenager. Hoje tal não seria possível. A penúltima posição remuneratória da função pública representará actualmente pouco mais de quatrocentos e oitenta euros e, com isso, duvido que alguém sobrevivesse, nas mesmas circunstâncias, mais do que uma semana.
Argumentá qualquer letrado da ciência económica que por acaso leia este texto, que terá sido por causa dos “elevados salários” que então se praticavam que, anos mais tarde, o FMI teria de intervir e o governo da época obrigado a tomar medidas drásticas para salvar o país da bancarrota. Também, com esses, não terei grande dificuldade em concordar.
Recuso, no entanto, qualquer paralelismo com a situação que então se viveu – em 1983 - e a actual. Àqueles que o fazem, apontando o dedo mais uma vez aos chorudos ordenados que se pagam na função pública, digo-o com toda a frontalidade, são umas bestas. A esses recordo que em 1980 não havia empresas municipais, parcerias público-privadas, institutos públicos, as empresas públicas ainda não pagavam prémios milionários, os governantes tinham algum decoro na forma como geriam o dinheiro dos contribuintes, assessorias eram um conceito desconhecido e, sobretudo, muitos dos actuais boys ainda usavam fralda.
Não fique, com tudo isto, a ideia que sou um saudosista. Nada disso. Até há poucos anos costumava repetir aquela velha máxima que “saudades só tinha do futuro”. Infelizmente hoje nem isso.