Ainda há quem não
tenha percebido a realidade que em vivemos e insista em pensar que pode
continuar a fazer a mesma vida de sempre como se – bem ou mal, isso agora não
vem ao caso – nada se tivesse passado. O pior é que são pessoas com
responsabilidades directas pelo estado a que chegámos, que esturraram dinheiro como
se não houvesse amanhã e que agora – pasme-se – exigem que lhes seja permitido
continuar pelo mesmo caminho. Ou seja, gastar o que não podem pagar e continuar
a endividar alegremente o país.
Estou a
referir-me, entre outros, aos autarcas portugueses. Reunidos ontem em congresso
aprovaram uma moção que exige – o termo é particularmente interessante e
revelador da solidariedade que manifestam para quem está a “penar” com as
medidas de austeridade – a revogação da lei dos compromissos, que os impede de contrair mais
dividas do que aquelas – muitas – que já fizeram e que não são capazes de
pagar. Alegam, entre outras coisas, ingerência do poder central da autonomia
dos municípios e que a dita lei coloca em causa a governabilidade das
autarquias. Tudo porque – que ideia mais parva – a legislação em vigor desde
Fevereiro apenas permite adquirir aquilo que se pode pagar no prazo máximo de
90 dias.
É por demais
óbvio, que a preocupação essencial da maioria dos autarcas que protesta são as
próximas eleições autárquicas e a dificuldade, para os que se preocupam com a
legalidade das suas decisões, em ter obras para inaugurar por essa altura. Se
assim não fosse batiam com a porta e iam-se embora ou, na pior das hipóteses já
não se candidatam a próximo mandato. A opção que chegou a ser sugerida – e que
teria imensa piada – seria levar a população a manifestar-se em sua defesa
contra o que chamam de asfixia do poder local. Teria, repito, a sua piada. Com
alguma sorte contariam com alguns funcionários para a manifestação. E era
preciso que fosse durante o horário laboral…