Mantive um destes dias - na qualidade de pacato cidadão, contribuinte preocupado com o destino dos meus impostos e de eleitor atento às decisões de quem me representa – uma breve conversa com um dirigente de uma conhecida agremiação cultural. O motivo da cavaqueira, não muito amena e ainda menos cordial, teve a ver com o financiamento por entidades públicas das associações culturais e do destino que a esse apoio é dado pelos seus dirigentes.
A discordância instalou-se logo que o meu interlocutor defendeu – aberta, descarada e veementemente – que entre as componentes a financiar se devem incluir almoços, jantares, comes e bebes diversos ou festividades variadas. Mesmo quando isso não se inclua no âmbito de uma qualquer acção ou projecto do grupo – uma deslocação, por exemplo – mas em que o simples acto de dar ao dente constitua por si só uma actividade devidamente programada. Será, justificou, uma espécie de prémio e que, a não ser assim, ninguém quererá dar o corpo ao manifesto e perder o seu tempo no movimento associativo.
Custa-me a crer que dirigentes, praticantes e outros que mantêm vivas as associações culturais e desportivas deste país, sejam uma troupe de esfomeados. Recuso-me a acreditar que a maioria dos que dão o seu melhor, quase sempre em prejuízo do seu tempo de lazer e de convívio com a família, o façam a troco de comida. Mas ainda que as entidades associativas resolvam promover banquetes todos os dias, para gáudio de quem muito bem entenderem, será lá com elas. Fazê-lo com o dinheiro obtido através do financiamento público é que entendo ser, pelo menos, imoral. Para não lhe chamar outra coisa.
Ainda que a minha opinião tenha deixado o senhor em causa para lá de indignado, acredito que muitos pacatos cidadãos, contribuintes preocupados com o destino dos seus impostos e eleitores atentos às decisões de quem os representa, não terão grandes dúvidas em concordar comigo.