segunda-feira, 30 de maio de 2011

O tempo, o dinheiro e a fauna

Faz-me confusão que existam pessoas que gostem de ir às compras. Por mim acho insuportável. Nomeadamente quando se trata dessa invenção a que chamam superfícies comerciais. Grandes ou pequenas. Por todos os motivos. Assim, de repente, são estes – mais podiam ser mais – os que me ocorrem: O tempo que se perde, o dinheiro que se gasta e a fauna que se encontra. Principalmente aquela fauna que não acredita em pagamentos electrónicos nem em listas de compras. 
Quanto aos primeiros motivos, não há nada a fazer. São daquelas inevitabilidades que apenas posso lamentar. Não sou auto-suficiente em nenhum produto de que necessito para viver, daí que tenha de recorrer ao mercado para suprir as minhas necessidades. Para meu desapontamento a consequência é ver o dinheiro a esfumar-se da carteira a uma velocidade muito superior ao desejável. Isto apenas porque ninguém me dá nada, nem tenho o hábito de surripiar os bens que me fazem falta. 
Por último, mas não menos importante, a fauna que frequenta esses lugares. Nomeadamente aquela – porque a outra não faz grande diferença – que tem a mania de complicar na zona da caixa. Ou porque não acha, no fundo da carteira, as moedas que perfaçam a quantia exacta que corresponde ao pagamento ou, como hoje, o esparveirado que estaciona o carrinho na fila, continua a fazer compras e quando volta, alguns minutos depois, fica desagradado ao constatar que foi ultrapassado. É o que dá não levar uma cábula com os produtos em falta, ou próximo do ponto de rotura, na despensa lá de casa. Por isso, esparveirado aborrecido por ter ficado para trás na fila do Continente, para a próxima diz à Maria que, em vez de ligar para o telemóvel para não te esqueceres das batatas, faça a lista das compras.

domingo, 29 de maio de 2011

A maldição do pepino

Diz que os pepinos, nomeadamente os espanhóis, andam envenenados. No entanto, garantem-nos os gajos que sabem destes assuntos, não há que ter receio. É que, parece, somos auto-suficientes em matéria de cucumis sativus e, como tal, não os importamos. Nem de Espanha nem de nenhum outro lado. O que, apesar de estranho, esperemos seja verdade. 
Por mim estou tranquilo. Mas só relativamente. Não gosto de pepino, mantenho as rodelas que me aparecem na salada a uma prudente distância e, se as alegadas bactérias que infestam o fruto alegadamente contaminado não se propagarem para além dele, penso que poderei considerar-me a salvo. 
Temo, no entanto, que não seja bem assim. Face a outras utilizações que por cá se dão ao citado vegetal, nomeadamente em matéria de beleza, começo a encontrar nesta problemática do pepino a explicação para a elevada percentagem de eleitores que manifestam intenção de votar no Sócas. Afinal as pessoas não estão loucas. Andam é a fazer tratamento caseiro para combater as olheiras e os efeitos provocados pelos irritantes seres microscópicos, mesmo quando não são ingeridos, revelam-se igualmente perniciosos. Bem feita. Ninguém nos manda ser vaidosos. 

PS (livra!) - Rima, mas espero que não seja verdade.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Memorando a quanto obrigas

Há quem insista em vender a ideia que o poder local gere os recursos colocados à sua disposição – sempre poucos, segundo se apressam a alegar – muito melhor do que a administração central. Pode, até, ser verdade. Mas isso não quer dizer que a nível autárquico o dinheiro dos contribuintes – do concelho, portugueses em geral ou europeus – seja convenientemente administrado. Pelo contrário. Por norma, é muitíssimo mal-gerido. Só assim se explica que o volume total do endividamento liquido acumulado pelos municípios, à data de trinta de Setembro do ano passado, fosse de 3.696 milhões de euros. E desconfio que, de então para cá, a tendência não terá sido no sentido descendente. 
Muitos dos que não tem a gestão dos municípios portugueses em grande conta, concedem que o peso do endividamento autárquico não terá importância significativa no peso total no défice das contas nacionais. Hesito quanto a isso. Principalmente quando se lê atentamente o “memorando”  - o  tal que ninguém discute e todos preferem ignorar - e se faz um pequeno exercício matemático leva-nos a concluir, com facilidade, que o peso do défice autárquico não é assim tão negligenciável como alguns querem fazer crer. 
O desvario com que a generalidade das autarquias tem sido governada está, no entanto, prestes a chegar ao fim. Nos dois próximos anos os municípios portugueses vão receber menos 525ME mas, mesmo assim terão de reduzir o actual nível de endividamento. O que vai constituir um desafio interessantíssimo para autarcas habituados a gastar sem controlo, sem limite e muitas vezes sem critério. O pior, embora poucos acreditem nisso, é que vai mesmo de ter que ser assim. Senão a tia Merkel – rabugenta e chata – não manda o dinheirinho para a malta se ir governando.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A manif dos mal apessoados

Não consigo ter grande simpatia pelos ajuntamentos, alegadamente espontâneos, que vão ocorrendo nos locais mais emblemáticos de diversas cidades europeias. A minha falta de entusiasmo relativamente a estas manifestações nada tem a ver com os propósitos das mesmas ou com as ideias defendidas pelos manifestantes. Sejam as ideias e os propósitos quais forem. Até porque, nem eles sabem ao certo que motivos devem alegar para estar ali. Estão porque sim e isso parece-lhes suficiente. 
O que verdadeiramente me desagrada – e surpreende ainda mais - é que nestes encontros a esmagadora dos participantes seja gente mal-vestida, de especto esquisito e com manifesta aversão a hábitos de higiene. Mal apessoada, em suma. A coisa piora ainda mais quando abrem a boca. Independentemente do provável mau-hálito, utilizam um discurso próprio de alguém que vive numa espécie de realidade paralela. Ou que está sob o efeito de um qualquer produto cujas propriedades não potenciam a eloquência do discurso nem a clarividência do raciocínio. 
Constitui um verdadeiro enigma, talvez seja mesmo um caso a estudar, que nestas concentrações não participe gente com as ideias em ordem, razoavelmente vestida e que entre os seus costumes inclua um banho de vez em quando. A ausência destes atributos parece ser até uma das condições exigíveis para participar naquilo. É por isso que me arrisco – e desta vez com a certeza de não errar – que palhaçadas destas não vão a lado nenhum. A não ser para casa. De onde nunca deviam ter saído.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Ignorância selectiva

Pedro Passos Coelho manifestou, não sei ao certo quando mas foi um dia destes, o seu desagrado perante o que considerou ser o facilitismo das Novas Oportunidades e a maneira como rapidamente se obtém um diploma ao abrigo daquele programa. Salientou, inclusive, que se trata tão somente de certificar a ignorância. Embora, mais tarde e perante o aproveitamento politico que os adversários fizeram da questão, tenha vindo esclarecer que não era bem isso que queria dizer e que a intenção foi denunciar as acções propagandisticas patrocinadas pelo governo. 
Terá PPC alguma razão quanto a esta matéria. Muita, até. Toda, pronto. Mas podia ter alargado o seu conceito de ignorante a muita outra gente – jovem, praticamente toda – que conclui o nono ano sem saber ler ou escrever. Malta que apenas frequenta um estabelecimento de ensino porque a isso é obrigada, que só vai à escola para roubar, agredir ou para que os pais recebam o rendimento mínimo e tenham assim um meio fácil de subsistência sem se esforçar muito. Toda uma imensa cambada que, no fim, leva como prémio um certificado do nono ano de escolaridade. E nem vale a pena a intelectualidade contrapor com argumentos bonitos e muito rebuscados, porque toda a gente sabe que é assim. 
Veja-se o caso de um vídeo que corre pela Internet, em que duas alunas agridem uma terceira, e que terá sido feito e colocado on-line por um jovem de dezoito anos que, segundo rezam as crónicas, terá o sétimo ano de escolaridade e frequentará um curso profissional. Que, suponho, no final lhe garantirá o nono ou mesmo o décimo segundo ano. Para PPC, presumo, neste caso, não estaremos a certificar a ignorância. Quero acreditar que ele será, no final do curso, um excelente profissional naquilo que aprendeu – realização cinematográfica, por exemplo – mas daí a merecer o certificado do ensino secundário, vai uma grande diferença. Entre o diploma deste jovem e o de um adulto das Novas Oportunidades, por mais que me esforce, não vislumbro diferença significativa. Mas isso sou eu, que não passo de um ignorante. Já PPC simplesmente ignora esta realidade. E outras, também.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Gente que não tem ementa

Recrutados na região da grande Lisboa, paquistaneses – ou indianos, não interessa nada – e africanos de diversas nacionalidades, vieram até Évora apoiar o grande líder. Juntaram-se às velhinhas de bigode da região que, mobilizadas pela estrutura local do partido que se propõe defender Portugal sabe-lá do quê, manifestavam o seu contentamento por verem de perto tão bem parecida criatura. E pela excelência dos morfes a que tiveram direito, também. Principalmente por isso, porque, garantia outra velhota do alto da sua sabedoria, quem vê caras não vê corações. 
A tão multicultural comício faltou apenas a comunidade muçulmana. Dizem os maldicentes - os tais que apenas sabem dizer mal de tudo e estão sempre a atacar o PS, que é como quem diz Portugal - que não vieram por causa do lanche. Com a pressa, a organização não terá tido tempo de encontrar um menu alternativo às sandes de fiambre. O que terá inviabilizado a presença de uma significativa legião de seguidores do profeta. Do verdadeiro, claro. Consta que, colocados perante uma ementa atentatória das suas crenças, terão apenas enviado os camelos...

domingo, 22 de maio de 2011

Isto sim é que eram PEC's, pá!

O Primeiro PEC, à boa maneira Guterrista, era assim:
1: Limitar o crescimento da despesa corrente primária a quatro por cento por ano;
2: Reduzir drasticamente e de imediato a admissão de novos funcionários;
3: Utilizar a bolsa de emprego para flexibilizar a gestão de recursos humanos;
4: Não efectuar novas reestruturações de carreiras até final de 2003;
5: Moderar os aumentos salariais;
6: Permitir um endividamento controlado da Administração Local;
7: Acompanhar a criação de empresas municipais;
8: Aprovar uma lei de Estabilidade Orçamental;
9: Eliminar uma incorporação do segundo semestre de 2001 no SMO e reapreciar as incorporações de 2002;
10: Reformar a gestão do serviço nacional de saúde (SNS);
11: Racionalizar a despesa do SNS e combater o desperdício;
12: Reforçar o controlo da despesa na ADSE e nos outros subsistemas de saúde;
13: Gerir conjuntamente os serviços sociais;
14: Regulamentar no prazo de um ano a convergência gradual do regime da Caixa Geral de Aposentações para o da Segurança Social;
15: Concretizar um programa de extinção de serviços públicos;
16: Não permitir a criação de novos serviços;
17: Reapreciar sistematicamente e racionalizar os quadros de pessoal;
18: Reapreciar até final de 2001 grandes projectos de investimento em processo de decisão;
19: Melhorar o acompanhamento dos grandes projectos de investimento público e as parcerias público-privado;
20: Avaliar e acautelar os custos correntes dos projectos de investimento;
21: Reestruturar e redimensionar o sector empresarial do Estado;
22: Reavaliar o preço dos bens e serviços públicos, sem prejuízo das opções de política social;
23: Cortar as dotações congeladas ao abrigo da lei nº 30/C/2000;
24: Reduzir as horas extraordinárias;
25: Rever os contratos de avença e tarefa;
26: Congelar até final de 2002 as aquisições de edifícios;
27: Congelar até o final de 2002 as aquisições de material de transporte;
28: Reduzir o dispêndio dos serviços em viaturas;
29: Reduzir a despesa com deslocações;
30: Gerir eficientemente os meios financeiros do Estado absorvendo saldos de gerência excessivos;
31: Controlar a despesa com bonificações;
32:Reapreciar os suplementos remuneratórios e eliminar os casos em que deixaram de ter justificação;
33: Extinguir estruturas temporárias;
34: Regulamentar os serviços mínimos;
35: Elaborar um orçamento plurianual;
36: Elaborar o orçamento do Estado em duas fases;
37: Criar em cada ministério um responsável pelas contas;
38: Reduzir o grau de rigidez do OE e a assunção de encargos deficientemente avaliados;
39: Reforçar a disciplina na assunção de encargos plurianuais;
40: Limitar no tempo os subsídios, benefícios e apoios desta natureza;
41: Adoptar um método de orçamentação que permita avaliar o desempenho dos serviços;
42: Dinamizar a unidade de tesouraria do Estado;
43: Melhorar a gestão do património do Estado a acelerar a elaboração do cadastro patrimonial;
44: Aplicar o regime de administração financeira do Estado a toda a administração pública até final de 2002;
45: Obrigar à adopção do POCP a toda a Administração Pública até final de 2002;
46: Avaliar a despesa pública e melhorar a eficácia do controlo interno.
47: Realizar auditorias externas aos serviços;
48: Promover a certificação de contas;
49: Definir um novo regime de responsabilidade por ilícitos financeiros;
50: Contratualizar a autonomia de gestão dos serviços públicos".
 
Em 2001 já era mais que visível o desiquilíbrio das contas públicas. Daí que o governo de António Guterres tenha sido colocado na contingência de elaborar um plano de combate ao défice, uma espécie de PEC em versão light, que incluía cinquenta medidas que visavam combater o descalabro que então se começava a vislumbrar. Onze anos depois, nove dos quais com governos socialistas, constitui um interessante desafio tentar perceber quantas destas intenções, chamemos-lhe assim, foram concretizadas. 
Presumo que o triunvirato de credores tenha feito o mesmo exercício. Terão, acredito, sido avisados que um dos ministros da época era José Sócrates. O que, naturalmente, não os deixou descansados. Nem o caso é para menos. Porque quem não implementou aquele rol de ideias vagas não terá, com toda a certeza, intenção nenhuma de aplicar as medidas durissimas e dramáticas com que se comprometeu. O que até nem seria mau, se ele não nos quisesse convencer que as medidas são leves e, com boa vontade, até podem ser consideradas excelentes.

sábado, 21 de maio de 2011

Garnisé cantante

No rescaldo do debate de ontem entre José Sócrates e Passos Coelho, Miguel Sousa Tavares, conhecido especialista em analisar tudo e mais alguma coisa, referindo-se às despesas com a saúde, afirmava peremptoriamente que o país não tem dinheiro para levar os doentes que moram na província a consultas ou tratamentos em Lisboa. Concluiu de seguida que deviam ser os familiares, vizinhos ou amigos – esqueceu-se de mencionar os parentes afastados – a tratar do caso. Até, reforçou, pelos deveres de solidariedade que todos devemos praticar. Não sei se o fulano ainda possui um monte no Alentejo. Se assim for esta posição constituirá uma boa noticia para os vizinhos que, em caso de se sentirem enrascados, já sabem a quem recorrer numa próxima ida médico. 
É por demais óbvio que o país não terá dinheiro para tudo. Era, até, quase capaz de assegurar que não tem graveto para nada. Não pode, no entanto e ao contrário do que afirma MST, cortar na assistência médica a quem dela precisa. Seja rico ou pobre, velho ou novo, resida em Lisboa ou em Estremoz. Se, como também é compreensível, não pode existir um hospital com todas as especialidades em cada aldeia, não parece também difícil de entender que o Estado tem de assegurar os recursos necessários para levar os cidadãos até onde existem os meios para os tratar. É, aliás, o que faz com bandidos a quem os juízes aplicam penas de prisão para ser cumprida ao fim de semana. Não existindo uma cadeia em cada terra, o Estado – o mesmo que não tem dinheiro para transportar doentes – coloca um taxi à porta de casa do meliante para o levar à choça no Sábado de manhã e outro, à saída da choldra no domingo á noite, para o trazer de regresso ao aconchego do lar. 
MST não reconhece aos cidadãos que residem longe dos grandes centros urbanos os mesmos direitos que assistem aos que lá moram. Apesar de pagarmos os mesmos impostos e cumprirmos deveres iguais. Evocar falta de recursos, quando se trata de saúde, é uma argumentação tão desprezível quanto quem a usa. A solução terá de passar antes pela melhor distribuição dos meios disponíveis e pela moralização das isenções. Quer das pessoas quer dos actos médicos. Porque não lembra a ninguém – excepto a alguns tresloucados – que se façam abortos à borla, se distribuam gratuitamente produtos alternativos à droga, que se isentem de taxas todos os indivíduos de uma determinada etnia, independentemente de serem ricos ou pobres, ou que – ao que se diz e por vezes escreve - se façam intervenções cirúrgicas que apenas servem para satisfazer a vaidade do paciente ou ajudar a carreira do médico. Tudo isto enquanto – alegam - não há dinheiro para transportar alguém realmente doente.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Cartazes

Este cartaz anuncia uma qualquer espécie de evento que, um destes dias, se vai realizar por cá. Não sei ao certo o que é, nem, em boa verdade – e em má também – me interessa. O que acho interessante é que se vão realizando iniciativas deste género. E de outros. Pena que não sejam mais frequentes. Mesmo que alguns as desvalorizem, são importantes como factor de dinamização. Nomeadamente a nível económico. Um acontecimento destes, para além de constituir um pólo de atracção para trazer pessoas à cidade, mexe com diversos sectores da economia local. Desde o gajo que vai vender as cervejas até à gráfica que imprimiu os cartazes. A menos que, coisa em que não acredito, alguém ofereça a cerveja.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um dia destes estamos fundidos

Apraz-me constatar que há mais quem pense como eu quanto à forma como deve ser reorganizado o quadro autárquico do país. Se, coisa em que não acredito, essa parte do programa de governo que nos foi mandado cumprir chegar a ser executada. Propunha alguém, ligado ao Partido Socialista e responsável por uma entidade oficial responsável pela gestão territorial, que o caminho a seguir seria o da fusão de municípios, e dava como exemplo o caso de Gaia e Porto que deviam, na sua opinião, constituir apenas um concelho. Já quanto ao interior era de opinião que, a nível concelhio, seria de manter a actual estrutura pois, em seu entender, fundir ou extinguir municípios conduzirá a uma ainda mais acentuada desertificação. 
Esta posição coincide exactamente com aquilo que venho escrevendo há anos e, não é para me gabar, mas a única que fará algum sentido. Não sendo totalmente ingénuo sei que tal ideia é absolutamente irrealista e, se extinguir Barrancos ou Monforte ia ser uma chatice, fazer fusões como a proposta seria a “guerra civil”. Temo, por isso, que se por um extraordinário acaso a medida da troika se concretizar e o futuro governo seja mesmo obrigado a mexer na divisão administrativa vigente, a opção recaia, por exemplo, em juntar num só os concelhos de Estremoz, Borba e Vila Viçosa. Tinha, concordarão, a sua piada. Negra, estarão igualmente de acordo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A tia rabugenta

As declarações da Merkel deixaram hoje irritados muitos portugueses que, ofendidos com os desmandos da bruxa germânica, destilaram a sua indignação em todos os locais onde o puderam fazer. Até a classe politica não se coibiu de manifestar o seu desagrado e foi deixando, embora de forma mais contida que a generalidade dos cidadãos, um ou outro remoque dirigido à dirigente teutónica. 
Apesar de não me agradar a exigência da senhora – sim, aquilo foi uma ordem – para que nos reformemos mais tarde e tenhamos menos dias de férias, não vejo motivo para indignações. Parece-me, antes, que afirmações deste género, em lugar de nos causarem elevados índices de irritabilidade, deviam era provocar em nós um sentimento de vergonha. Mesmo que a mulher não tenha razão nenhuma naquilo que diz, a verdade é que somos obrigados a aturá-la. Afinal é ela quem tem o dinheiro de que nós precisamos. Mal comparado é como aquela tia velha e rabugenta cuja presença apenas suportamos porque é ela quem paga as nossas extravagâncias. 
Ultrapassar uma situação como a que vivemos e deixar de ser o alvo da chacota e do desprezo dos outros povos, deveria constituir um desígnio nacional. Infelizmente a causa não parece ser suficientemente motivadora. Até porque os que nos podiam mobilizar aparentam estar satisfeitos, revelando mesmo uma mal dissimulada simpatia por estas reprimendas vindas da estranja.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Reciclar não é "chique"?!


Os moradores da zona da cidade onde esta foto foi obtida não são propriamente pessoas incultas, iletradas, sem acesso à informação ou que desconheçam os procedimentos básicos que se devem seguir para efectuar a separação dos resíduos sólidos urbanos. No entanto, por alguma razão que a própria razão terá dificuldade em explicar, adoptam de forma reiterada a prática que a imagem demonstra, evidenciando um lamentável desprezo pela comunidade e um comporatmento cívico abaixo de miserável. Nem sequer se tratará de comodismo. Dada a distância a que se encontra o eco-ponto será antes uma atitude provocatória. Uma espécie de rebeldia parva, talvez. 
Em causa não está apenas o lado ecológico da questão. Mais do que esse aspecto choca-me o quanto, desnecessariamente, isto nos custa a todos em termos económicos. Para lá dos custos inerentes à recolha, que são bastantes, cada quilo de lixo indiferenciado - todo o que não é depositado nos eco-pontos - que é recolhido e depositado no aterro sanitário, é pago pelo Município quase a peso de ouro. Preço que, naturalmente, a autarquia faz repercutir na factura da água que, pelo menos alguns de nós, pagamos mensalmente. Ou seja, de cada vez que alguém não recicla tudo o que pode ser reciclado, estamos todos a pagar. 
Este é apenas um pequeno - pequeníssimo e insignificante - exemplo do que podemos fazer pelo país e de como o comportamento negligente de alguns tem reflexo na carteira de todos. E se num bairro onde habitam, em número significativo, pessoas de escolaridade elevada ou com algum destaque social se vêem coisas destas, não será difícil imaginar um cenário desolador noutros locais com realidades sociais bem piores.

domingo, 15 de maio de 2011

Perdoais-lhes senhor...

A cada vez mais provável vitória de José Sócrates nas próximas eleições legislativas constituirá um interessante caso de estudo, a ser analisado ao pormenor, pelas diversas áreas da ciência contemporânea. Nos dias que se seguirão ao funesto acontecimento não irão faltar especialistas, em tudo e mais alguma coisa, a tecer considerandos acerca do porquê de tão parva decisão dos eleitores. 
Por mim, especialista em coisa nenhuma, a resposta parece-me óbvia e resumir-se-à mais ou menos a isto. Os portugueses, embora desconheçam quanto as medidas que nos foram impostas os vão afectar, estão apreensivos relativamente ao futuro. Mesmo sabendo que lhes estão a mentir, as pessoas demonstram preferir quem lhes diz que isto não há-de ser nada, optam por ignorar as más noticias e vão escolher para governar aquele que pensam que não irá cumprir as ordens dos gajos que nos emprestaram o dinheiro. 
Nada que constitua motivo para grandes surpresas. Basta ver a quantidade de contratos, de toda a ordem, que os portugueses deixaram de cumprir nos últimos anos. A única diferença para José Sócrates, é que os incumpridores tugas primeiro apanharam-se na posse do dinheiro emprestado e depois é que deixaram de cumprir, enquanto o candidato socialista ainda não tem o dinheiro e já diz que não cumpre...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Critérios para a extinção de municipios

Embora conste do memorando que o país está obrigado a cumprir, não acredito que o futuro governo – ou outro que lhe venha a suceder – se atreva a extinguir um único município. Nem, sequer, a promover a sua fusão mantendo, pelo menos transitoriamente, assim uma espécie de mini-associação. 
A ideia, no entanto, estará já presente na mente de muitos autarcas que começam a posicionar-se para a guerra que, inevitavelmente, será travada e em que todos irão apresentar argumentos para que o concelho a extinguir seja o do vizinho e não o seu. Talvez seja por isso que, ao que consta, alguns Presidentes de Câmara estejam já a preocupar-se com o nível de endividamento a que conduziram as autarquias que governam. Será relativamente consensual entre os que estudam a matéria, que o tamanho ou a demografia não deverão constituir os únicos factores a ter em conta quando estiver em cima da mesa a discussão acerca dos municípios que vão fechar portas. Haverá quem defenda – e com muita razão, acho eu – que o montante do endividamento terá de ser um critério a ter em conta. 
Desconfiando da marosca, jogando na antecipação ou simplesmente procurando acautelar-se, autarcas mais perspicazes e previdentes, temerosos do que possa acontecer aos seu sconcelho e não querendo inscrever o nome na história como o último presidente da Câmara lá do sitio, iniciaram este ano um curioso programa de contenção de despesas. Por mais que isso desagrade aos seus munícipes. Que não apreciam a ideia – são muitos anos de maus hábitos – mas que poderão, no futuro, ter de lhes dar razão.
Ainda que acredite no fim de uma ou duas centenas de freguesias, reitero que não vislumbro como possível a extinção de um único município. Mas se estiver enganado desconfio que o critério a seguir será apenas um. Fecham os que Sócrates quiser. O que, diga-se, me parece justo. E merecido. Principalmente para quem se prepara para o reeleger.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Agarra-se mais depressa um mentiroso do que um coxo

A redução da Taxa social Única suportada pelas empresas tem estado no centro do debate politico nos últimos dias. Foi lá colocada por José Sócrates e sus muchachos, ao criticar a intenção do PSD de a reduzir em quatro pontos percentuais. O que, goste-se ou não, mais não é do que quantificar aquilo que quem nos empresta o dinheiro exige que o país faça. A reacção socialista a esta proposta tem sido violenta e procura forçar os sociais democratas a admitir que, para compensar a perda de receitas, terão de aumentar o iva ou, pelo menos, passar alguns bens e serviços das taxas miníma e intermédia para a taxa máxima. 
Afinal, como se ainda houvesse dúvidas quanto a isso, podemos hoje confirmar no debate televisivo, que estamos perante um bando de pantomineiros que nos pretendem intrujar e, pior do que isso porque a esta prática nós já estamos habituados, não terão qualquer pejo em ludibriar quem vai financiar os seus devaneios. Francisco Louçã – por quem, diga-se, não nutro qualquer simpatia ideológica – desmascarou a tramóia socialista ao revelar o compromisso, escrito e assinado pelo actual governo, em reduzir, provavelmente até forma mais acentuada, a contribuição patronal para a segurança social. Confrontado pelo líder bloquista, que trucidou autenticamente José Sócrates ao longo de quase todo o debate, este foi incapaz de reagir de forma convincente e acabou mesmo por afirmar pateticamente que a grande redução, com que se comprometeu à socapa, era coisa para se cifrar em zero virgula vinte cinco por cento! Foi humilhante e, por um brevíssimo momento cheguei a ter pena do coitado do mentiroso, tal era a atrapalhação que o homem evidenciava. 
O desnorte nas hostes do Partido Socialista é de tal ordem que, noutro canal e após o debate, um conhecido paineleiro televisivo e deputado por aquele partido, quando instado a pronunciar-se acerca da dita carta, assinada pelo Ministro das Finanças, garantiu que “valia zero”. Ficamos assim a saber que, afinal, uma carta do governo chefiado por José Sócrates, dirigida a uma instituição internacional – que por acaso até nos vai emprestar o dinheiro – não tem qualquer valor. Vale zero, segundo o douto comentador. Triste sina a de um país que está entregue a esta gente e triste gente a deste país se escolher continuar a ter estes governantes.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Não há "jovens" maus. Alguns não deviam era existir.

Os portugueses mentem cada vez melhor. Até os estrangeiros que escolheram o país para assentar arraiais depressa apanharam o jeito e conseguem mentir com uma desfaçatez de fazer inveja ao mestre. Debitam mentiras a uma verdade alucinante e constroem uma verdade alternativa com uma perícia ao alcance de poucos. Estou mesmo em crer que eles próprios, às tantas, se convencem que estão a falar verdade. 
A rebaldaria provocada ontem em Odivelas, por uns quantos meliantes, será um exemplo que ilustra na perfeição a extraordinária capacidade para pregar petas que os portugueses – e os que à nossa terra vieram parar – estão a desenvolver. Um bando de energúmenos terá entrado em confronto com a policia, na tentativa de evitar a detenção de um ladrão – do qual seriam colegas de actividade, provavelmente – tendo provocado uma série de desacatos e danos em bens públicos e privados. Mas, ainda assim, conseguem garantir que foram vitimas de racismo e de violência policial. Conseguiam até permanecer sérios enquanto, perante as câmaras de televisão, juravam terem sido eles, pacatos cidadãos, os atacados. 
Não sei como é na selva. Nunca lá estive. Contudo numa sociedade civilizada, como a nossa ainda é, a quem a policia solicita a identificação tem, naturalmente, que se identificar. Quem não o faz, resiste à detenção ou, no caso do bando em causa, ataca as autoridades para evitar que os amigos, tão meliantes quanto eles, sejam levados para a esquadra, não pode esperar que lhes sejam oferecidas flores. Nem um cházinho com bolos. O mais natural é que seja tratado com dureza e, se insistir, que leve uns murros nos cornos. 
Nestas circunstâncias é normal surgirem – demoram um pouco a chegar porque normalmente moram longe de onde estas coisas acontecem – agitando a bandeira do racismo, os gajos dos direitos humanos e outros palhaços de nível semelhante. Para eles o comportamento daquela gente é para lá de angelical. Pena que tenha de aparecer a policia, qual diabinho, a estragar a paz celestial em que aqueles anjinhos vivem e perturbar o seu cândido relacionamento com as outras pessoas. 
O que verdadeiramente me perturba é que são capazes de nos olharem nos olhos e dizerem-no sem se rirem. Quem é capaz de o fazer é perigoso. Muito perigoso. Atente-se no exemplo de um individuo que o faz todos os dias à hora dos telejornais.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Poli...quê?!

No exercício dos direitos de cidadania qualquer um pode dirigir uma petição à Assembleia da República que, estou em crer, receberá dos representantes da nação a melhor atenção. Seja o assunto qual for. Desde o mais abrangente e de relevante interesse público até ao mais parvo. 
Face aos argumentos invocados, hesito quanto à maneira como classificar o texto que o peticionante da matéria constante do documento que publico em anexo a este post, dirigiu às mais altas individualidades da hierarquia do Estado. Por um lado parece óbvio que o homem está a gozar, mas, por outro, porque não levá-lo a sério?! Embora a coisa tenha uma relativa piada. Principalmente quando, na parte final da sua exposição, baralha os canais e revela alguns equívocos quando ao tipo de casamento que pretende ver legalizado. 

Clicar na imagem para aumentar ou ver aqui o documento original.

domingo, 8 de maio de 2011

Em português é pior. Principalmente depois de lido.

Há quem tenha dos blogues e dos seus autores a pior das ideias. Injustamente, acho eu. É nestes espaços que, quase sempre, é possível conhecer antecipadamente factos e noticias que apenas muito mais tarde chegam aos meios de comunicação social e ficar a par de outras que nunca lá aparecem. Trata-se, em algumas circunstâncias, de verdadeiro serviço público. 
É o caso do blogue Aventar. Os seus autores meteram mãos à obra e resolveram traduzir para português o documento da chamada troika, que esteve a passar a pente fino as contas nacionais, para estabelecer os termos do negócio através do qual o país vai poder honrar os seus compromissos a troco de um empréstimo de proporções épicas. 
A divulgação das conclusões a que chegou a embaixada estrangeira deixou toda a gente quase radiante – graças, em grande parte, à intervenção televisiva de José Sócrates – por ter afastado aquilo que muita gente contava como inevitável e, também, percebi agora, por o documento estar redigido em inglês. Língua que, à semelhança do primeiro ministro, os portugueses dominam mal ou desconhecem de todo. 
Incompreensivelmente - ou talvez não - não houve quem traduzisse aquilo de imediato para português e, mesmo os gajos que analisaram as determinações da troika, não fizeram uma abordagem detalhada das medidas que terão de ser tomadas. Que, como se pode ler aqui, serão durissimas. O que dará – provavelmente, porque não conheço o grego - razão aos que defendem ser este um plano mais exigente do que o aplicado à Grécia. 
Mantenho o que, em tom irónico, escrevi há poucos dias acerca das dúvidas, quase certezas, quanto ao cumprimento daquilo que nos querem impor. Mas se assim não for e o futuro governo revele capacidade para cumprir à risca tudo o que foi delineado, o modo de vida que temos mantido ao longo das últimas décadas estará irremediavelmente condenado. A única alternativa que vislumbro é emigrar. De preferência para aquele país em que vive o José Sócrates.

sábado, 7 de maio de 2011

Cultos

Nada tenho contra as religiões nem contra quem as pratica. Desde que os seus seguidores não andem por aí à espadeirada, a rebentar bombas e que, principalmente, não me causem aborrecimento. Ou seja, que se dediquem às práticas religiosas nos locais reservados para o efeito. E a rua, nomeadamente a minha, não se me afigura como o local mais indicado para manifestações de fé. Ainda mais quando a minha liberdade de circulação é limitada, ou de todo cortada, porque um grupo de devotos, mesmo que minúsculo, resolveu demonstrar publicamente a sua devoção. 
Pese o exposto reconheço, no entanto, o seu direito a incomodarem-me. Tal como espero que os participantes nestes préstitos revelem a mesma paciência quando eu os incomodar, um ano destes, ao celebrar mais uma conquista do Glorioso. Embora também reconheça – neste caso com uma profunda mágoa - que os santos são em muito maior número do que os títulos ganhos pelo Benfas.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

"O FMI não manda aqui!"

Não andarei muito longe da verdade quando penso que, por esta altura, a esmagadora maioria – para não ser peremptório e dizer a totalidade – dos que detém cargos públicos, com poder de decisão, já estarão a engendrar um qualquer esquema manhoso para contornar as medidas anunciadas pelo triunvirato e continuar com a vidinha que sempre fizeram atá agora. “Como é que vamos dar a volta a isto?!” será, tão certo como eu estar a escrever, a pergunta mais repetida perante o conjunto de intenções que nos foi imposto. Para a qual, não duvido, depressa surgirão respostas cada uma mais imaginativa do que a outra. 
Já escrevi noutra ocasião que o pessoal do FMI e respectivos comparsas, não sabe com quem se meteu. Atrevem-se, coitados, a pensar que nos metem na ordem com um cardápio de regras que, supostamente, devemos seguir na sua ausência. Assim uma espécie de trabalho de casa. Um rol de ideias, espalhado por trinta e quatro longas páginas, que o mais atento dos nossos responsáveis políticos lerá na diagonal. Após o que, não me devo enganar muito, arrotará, convicto, um sonoro “tá bem abelha, mas quem manda aqui sou eu”. Isto enquanto manda todos esses alarves para uns quantos sítios pouco recomendáveis. 
Excepção feita ao aumento de impostos, meia-dúzia de cortes que dependam apenas da aprovação de umas quantas leis mal-amanhadas e deverá ficar por aí o cumprimento do plano que nos tentam impor. Extinguir municípios é coisa que, aposto, não vai acontecer. Muito menos fundações, governos civis, institutos e outros albergues. Com sorte serão extintas uma ou duas dezenas de freguesias, despovoadas e no meio de nenhures. Reforma da justiça, essa, tá-se mesmo a ver que sim...e, finalmente, trazer o endividamento do Estado, regiões autónomas e autarquias locais, para níveis próximos daquilo que recomenda o bom senso e a razoável gestão, é algo mais improvável do que o Sporting ser campeão.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

As não medidas

É indisfarçável na maioria dos desabafos deixados nas caixas de comentários dos blogues, fóruns e sites onde estas coisas se discutem, uma certa frustração por entre as não medidas ontem anunciadas pelo alegado não constar o despedimento em massa, a redução de vencimento dos funcionários públicos ou, no mínimo, o anúncio que ficariam sem o subsídio de férias e de natal. O argumento para defender esta posição era tão simples quanto básico: “São os meus impostos que pagam o ordenado deles”. A isto pode contrapor-se algo igualmente simples e não menos básico: “É o meu ordenado que mantém o emprego deles”. Ou seja, todos precisamos uns dos outros.
Apesar da azia que possa provocar, num lado, ou da injustificada satisfação que pode causar no outro, não me parece que ninguém saia a ganhar. A inexistência de mais cortes nos vencimentos não se deverá, como sustentam alguns, ao facto do FMI ter aprendido com a Grécia e a Irlanda. As causas mais prováveis talvez se encontrem entre a proximidade das eleições, os baixos salários que por cá se praticam e as alternativas encontradas a obter o mesmo resultado mediante ao recurso a uma forma mais maquilhada. 
Seja como for, a comunicação ao país feita ontem à noite pelo alegado tratou-se de mais uma encenação ridícula, despropositada e que dá mais uma vez um sinal completamente errado. Afinal, ficámos a saber, estamos no melhor dos mundos. Perto do paraíso, quase. Por mim fiquei tão optimista e confiante num futuro radioso que senti vontade de agarrar no cartão de crédito e desatar a endividar-me.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

"Tablets"

Segundo as previsões dos especialistas na matéria, as vendas de tablets em Portugal deverão crescer oitocentos por cento. Por saber que os especialistas revelam uma estranha tendência para não acertar quando fazem palpites acerca das matérias nas quais são especialistas, confesso que fiquei de pé atrás com tão elevadas expectativas. Céptico, digamos. É que, mesmo não conhecendo os números, pareceu-me que isso daria muitos quilos de chocolate por habitante. 
Percebi depois que, lamentavelmente, afinal os tablets – ou as tablets, não sei se aquilo é gaja – não são coisa que se coma. Embora, ao que se me afigura, muita gente se coma por ter uma gigajoga daquelas nas unhas. Sei agora, houve quem tivesse a paciência de me explicar, que se trata de uma categoria de objectos muito úteis para fazer coisas. Algumas, até, importantes. Mas que justificam cada um dos muitos euros pelos quais são postos à venda. 
Apreciadores, como somos, dos prazeres da vida - ter um tablet entre mãos diz que dá muito prazer – é natural que procuremos investir o dinheiro que temos e o que pedimos emprestado em algo que nos dê gozo. Daí que o mercado destas traquitanas em Portugal vá crescer quase três vezes mais do que no resto do mundo. Não admira. Um aparelho destes é mesmo, mesmo, mesmo, o que nos está a fazer mais falta. Face a estes números arrisco-me a concluir que muitos estarão à rasca para ter um. Embora, mas isso sou eu a especular, alguns vão ficar à rasca por o terem.

domingo, 1 de maio de 2011

Perguntas parvas

Na inauguração da escola secundária de Vila Viçosa o ainda primeiro-ministro, referindo-se ao líder do PSD, dizia mais ou menos isto: “Se não gostam do investimento do Estado na educação, então que digam onde é que devemos investir”. Significa isto que José Sócrates ainda não percebeu a alhada em que nos meteu. Nem ele, nem os que o rodeiam e que abanam servilmente a cabeça a cada tonteria do chefe. 
A resposta à questão suscitada pelo alegado engenheiro é, obviamente, não dispomos de recursos para investir em coisa nenhuma. Qualquer bom pai de família – coisa que os nossos dirigentes políticos não aparentam ser – sabe que nos momentos de aperto, em que o dinheiro escasseia, as prioridades não podem ser gastar o que não se tem à custa de endividar ainda mais o país. Isso é o que fará qualquer vigarista.

Espertos, aldrabões e outros manhosos

Quando, já lá vão uns anos, a Drª Maria José Nogueira Pinto manifestou a sua discordância relativamente à maneira como estavam a ser distribuídos alguns apoios sociais a idosos, não faltou quem se indignasse. Argumentava a senhora que o dinheiro devia ser usado de outra forma porque, assim, seria mal gasto pelos velhotes que, segundo ela, o gastariam em cervejas e doces ou, pior, seriam as famílias a esbanjar desregradamente esses subsídios estatais. 
Também a opinião do Dr. Leite Campos, do PSD, recentemente emitida acerca dos beneficiários de certas prestações sociais, que terá afirmado serem recebidas pelos mais espertos e aldrabões e não pelos que verdadeiramente precisam, suscitaram a fúria de muita gente com voz activa na comunicação social e na blogosfera mais esquerdista. 
Eu, que não sou de me indignar facilmente, repúdio veementemente qualquer uma destas posições. Quer a das personagens em questão, quer a dos indignados, ofendidos e furiosos com o teor das declarações. Isto porque os cinquenta e poucos euros do abono de família que me está a ser roubado – e sublinho roubado – não só não era gasto em cervejas nem bolos como, garanto, o dinheiro que deixou de vir para o meu bolso não está a contribuir para o equilíbrio das contas nacionais.
Não tenho dúvidas que muitos dos que continuam a receber prestações sociais são bêbados, drogados e gastam o dinheiro que lhes é dado de forma leviana. Basta, para comprovar isso, ir a qualquer café, pastelaria ou ao Continente cá do sitio. Igual certeza manifesto quanto ao facto de alguns espertos – aldrabões, talvez – continuarem a receber os apoios que a outros são retirados. Provavelmente até no meu local de trabalho.

Reprovo, no entanto, as generalizações. São perigosas. É em circunstâncias como as actuais que o Estado não se pode demitir de apoiar quem realmente necessita de apoio. Mas de forma criteriosa. O que, duvido, esteja a acontecer. Daí apetecer-me salientar a espantosa  coincidência de ser o Porto o distrito do país onde existem mais beneficiários do Rendimento Social de Inserção e, simultaneamente, onde a venda de bolas de golfe mais subiu no último ano. Ele há coisas...

Opinião irrelevante (ou nem por isso) do dia

Portugal é um caso de policia, de incúria e mau uso dos dinheiros públicos! (Autor desconhecido)