Desde tempos imemoriais –
devo ter começado por volta de 1329, mais coisa menos coisa – que escrevo, aqui
e noutros locais onde o assunto tem sido debatido, a minha convicção que baixar
salários é altamente prejudicial para a economia e especialmente nocivo para o equilíbrio
das finanças públicas. Tenho-o feito com particular ênfase ao longo do último
ano em que, por força do roubo dos dois meses de vencimento aos funcionários
públicos, esta questão tem estado na ordem do dia. Não os contei mas devem ter
sido algumas dezenas os posts que publiquei no Kruzes e, seguramente, centenas
os comentários que deixei em fóruns e blogues onde esta temática tem sido
discutida.
A minha posição, como era de esperar, foi quase
sempre ignorada e raramente suscitou reacções de outros
intervenientes. Aqueles – poucos – que se deram ao trabalho de reagir aos meus
desabafos fizeram-no quase sempre para, os mais simpáticos, me chamar burro.
Ou, os mais condescendentes para com a minha iliteracia económica, financeira,
fiscal e ignorância de uma forma geral, para me esclarecer que não era bem
assim e que a diminuição da despesa do Estado contribuiria para a melhoria das
contas públicas e que libertaria mais recursos que fariam a economia, um dia
destes, começar um novo e promissor ciclo de crescimento.
Recordo ainda que, após o
anúncio do corte dos subsídios de férias e de natal aos funcionários públicos,
não faltaram os elogios a esta medida. Lembro-me até de algumas caras felizes com
a notícia. Não esqueço igualmente os comentários de satisfação que encheram as
caixas de comentários dos jornais on-line e de outros sites e blogues onde se escrevia
sobre a novidade. Tal como parece que ainda estou a ver a generalidade dos
comentadores de televisão regozijando-se com tão corajosa, tanto como
necessária, medida do governo.
Por tudo isso acho
absolutamente hipócrita as manifestações de indignação que hoje assolam o país.
Se, antes, cortar dois salários era bom, dava gozo e ninguém – para além das vítimas
- criticava, porque raio hoje cortar um ordenado já é mau e capaz de provocar
esta histeria social?! Se tirar dois vencimentos aos funcionários era óptimo para
a economia, para as finanças e quem sabe até para a caspa, porque diabo tirar
um mês aos restantes trabalhadores é assim tão dramático?! Os mesmos que antes
as aplaudiam são agora os que berram contra as políticas do governo. Apenas e
só, não encontro outro motivo para a súbita mudança de opinião, porque lhes vão
ao bolso. E ainda têm a lata de chamar nomes aos políticos…
Engraçado, Kruzes, que o meu pai disse exatamente o mesmo - que agora que tinham ido ao bolso dos privados já estava toda a gente indignada e a vir para a rua. :)
ResponderEliminarFátima
ResponderEliminarSou frontalmente contra cortes de ordenados, como decorre de tudo o aqui tenho escrito, mas não posso deixar de achar piada aos recém indignados. Nomeadamente aos das redes sociais. Porque raio não manifestaram igual indignação quando se construiram escolas onde não existem crianças ou estrada onde não passam carros
Tem toda a razão. Muitos que agora gritam, inclusivé associações empresarias, são os mesmos que berravam que a culpa era toda do funcionalismo público. Ironia do destino, agora que lhes vão ao bolso e, consequentemente, vão poder consumir menos, têm a seu lado os patrões que até já dizem "desbaratam a função pública, os que estão são insuficientes e estão desmotivados, etc". É tudo muito bom quando só toca aos outros.
ResponderEliminarIsto prova a mentalidade do português: a grande maioria das pessoas invejava os FP, desdenhava até mais não, quando estes começaram a pagar a crise muita gente no fundo sentiu uma pontinha de satisfação. Afinal os madriões dos FP's que não fazem nenhum que paguem a crise. Agora que toca a todos tá o país a arder... Somos um povo esquizofrénico.
ResponderEliminarPelos muitos comentários que aqui deixei, já sabes bem o que penso sobre este tema porque e infelizmente sempre disse e isso não poderás desmentir, os fp sempre tiveram muito mais regalias que os do privado...para além do que gamam dos hospitais, dos centros de saúde, das Câmaras e Compª...porque até o papel higiénico é gamado...o que não acontece no privado...e durante o tempo que trabalhei...só terias uma esferográfica nova se desses a "gasta".
ResponderEliminarAgora há Funcionários Públicos que sempre foram correctos e outros não, mas penalizar os mesmos de sempre já te disse que não concordaria...mas por exemplo na REFER famíliares até ?geração andarem à borla, a receberem o ordenado por inteiro quando estão de baixa e por aí fora...achas bem?
No privado existem tais regalias? Não!
Mas a crise deveria abranger todos mas não seria preciso se eles cortassem mesmo onde estão as "verdadeiras gorduras do Estado".
"A despesa com os vencimentos brutos do pessoal do gabinete do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, ascenderá, no final do ano, a cerca de 1,55 milhões de euros.
Segundo o Correio da Manhã deste sábado, só os gastos em salários brutos do executivo do PPC teve um aumento de quase 4 por cento em relação aos 1,49 milhões de euros orçamentados para 2012."
é nisto e nestas variantes que eu condeno!